O que faziam os seus pais?

Eram ambos médicos. São a conjugação perfeita: o meu pai foi administrador hospitalar durante muitos anos, mas no tempo as administrações eram escolhidas pelos médicos (o meu pai dizia que isso fazia toda a diferença). Ele era ginecologista-obstetra e a minha mãe pediatra.

Quem são os seus amigos?

Ui! Tenho muito bons amigos, descobertos em diferentes realidades e que se mantêm. Tenho os amigos de infância - infelizmente o meu primeiro amigo, que eu adorava, o amigo da aldeia desde os seis anos e com quem cresci -, morreu há três semanas, era o Zequinha. Tenho os amigos do colégio, principalmente do Colégio das Caldinhas, tenho os amigos da universidade, que são aqueles com quem mantenho mais contato, e tenho outros que ficaram para a vida, mas vejo pouco, numa lógica que só percebe quem lá andou, os do serviço militar - o que é muito impressionante: como num ano, que foi o tempo que lá estive, se consegue este espírito de corpo e se fazem amizades que ficam para sempre.

Uma era pré-Tancos…

Pré-Tancos. Na Escola Prática de Cavalaria de Santarém, que agora me dói na alma ver destruída, quando connosco tinha de estar imaculada, na velha tradição da Cavalaria. Mas isso são contas de outro rosário.

Quem foi o pior primeiro-ministro de todos os tempos?

José Sócrates.

Qual o seu maior medo?

A perda das pessoas que me são queridas.

E o seu maior defeito?

[Pensa] Temos tantos que é difícil ir buscar um [ri-se]. A presunção de bondade em relação aos outros - naquela teoria de Thomas Hobbes e de Jean-Jacques Rousseau de que o homem é naturalmente bom. Sou um bocado crédulo. E às vezes temos tristes surpresas.

Quem é a pessoa que mais admira?

É impossível escolher uma pessoa só, tenho pessoas que mais admiro na perspetiva familiar, política…

Mas se tivesse de escolher uma?

Tinha de dizer duas: o meu pai e a minha mãe por igual medida, obviamente.

Qual a sua principal qualidade?

Perseverança. Há quem diga que é a combatividade, não sei…

A maior extravagância que já fez?

Essa pergunta, numa fase eleitoral, é muito… Não tenho mesmo grandes extravagâncias. A minha maior extravagância não é cara: é descobrir um carro antigo que possa recuperar. Um dos meus hobbies e dos meus fascínios são os clássicos. Portanto, a extravagância é descobrir um clássico moribundo que possa recuperar para a vida. Compro sempre muito velhos e baratos, recupero-os eu e fico com eles, coleciono-os.

Quanto tem?

Uma meia dúzia, todos registados no Tribunal Constitucional [risos].

Mente?

Eu diria que como toda a gente, mas quase sempre mentiras piedosas [mais risos].

Qual o seu filme de eleição?

Os meus filmes de eleição são os que me fazem lacrimejar. Há tantos… Assim de repente “A Lista de Schindler”, “Era Uma Vez na América”, “Voando Sobre um Ninho de Cucos”… São tantos os grandes filmes, é muito difícil, mas estes três à cabeça.

Que traço de carácter tem de ter uma pessoa para trabalhar consigo?

Lealdade.

O que é que o faz perder a cabeça?

A velhacaria. Ou melhor, a sonsice. Há tanta coisa…

O que o deixa feliz?

Viver.

Se pudesse mudar alguma coisa na Europa imediatamente, o que mudaria?

Se me perguntasse o que mantinha, respondia a paz. Se pensarmos nos 12 milhões de mortos das Guerras Napoleónicas, nos 30 milhões da Primeira Guerra e nos 80 milhões da Segunda Guerra Mundial, não é coisa pouca. Mas se pudesse mudar já, já alguma coisa mudava o Brexit, passava a remain. Porque acredito que os britânicos são mesmo uma componente fundamental e com o Brexit pode começar a desagregação deste projeto comum. Isto de só se poder dizer uma coisa é uma chatice…

Se fosse um herói de ficção, quem seria?

Seria, seria… Não sei o nome, mas seria o pai daquele filme de animação “The Incredibles” [Roberto “Beto”, o Sr. Incrível]. Porque é um herói em família e sou um fascinado pela família. Senão era o Super-Homem, porque isto de ter uma visão Raio X e de ouvir longe deve ser extraordinário.

Quem foi o melhor presidente de sempre?

Isso é uma grande maldade… Não pode ser o rei? Eu escolhia D. João II.

E presidente?

Gosto de Sidónio Pais.

Como gostaria de ser lembrado?

Orgulhoso por ser português e sempre com Portugal no centro de tudo aquilo que fiz.

Qual a pior profissão do mundo?

A mais difícil deve ser advogado, que é a minha. A mais nobre, mas ao mesmo tempo terrível, deve ser a área de oncologia infantil. Mas acho que as profissões são todas boas desde que as pessoas se sintam bem nelas. De resto, toda a profissão que implique lidar com porcaria é uma má profissão.

Se fosse um animal que animal seria?

Um elefante.


Esta série de perguntas rápidas faz parte da entrevista ao cabeça de lista do CDS às Eleições Europeias, disponível aqui. Nuno Melo não foi o único, leia todas as conversas com os candidatos no especial Europa 2019 do SAPO24.