Liliana Cunha, uma artista portuguesa, fez esta semana uma queixa à polícia sobre uma alegada violação por parte do pianista João Pedro Coelho. Após esta denúncia dezenas de outras jovens, nas redes sociais e em declarações à imprensa portuguesa, prometeram uma denúncia coletiva.

São algumas as vozes do meio que já reagiram à notícia, mas este domingo Filipe Melo, músico e realizador de cinema, revelou um pouco do que se passa neste meio, "um terreno fértil" para este tipo de situações.

"Os eventos de abuso e assédio no nosso meio (e em tantos outros) são o pão nosso de cada dia. Tenho lido muitas declarações, muitas notas de pesar sobre o sucedido, mas nenhum diz aquilo que eu realmente sinto: sinto culpa. Temos, enquanto indivíduos e enquanto comunidade, a tal família do jazz português, de assumir um mea culpa gigante", começou por escrever Filipe Melo nas suas redes sociais, indo ainda mais fundo no tema.

"Há que dizer com todas as palavras que o meio da música, em particular o meio do jazz, é um meio patriarcal, um meio profundamente homofóbico e onde o bullying e o assédio encontraram um terreno fértil", diz o artista, pedindo ação.

"Todos ouvimos histórias, todos compactuámos, de uma forma ou de outra, com estes comportamentos. Isto traz-me vergonha, mas traz-me consolo perceber que esse padrão está a ser posto em causa e que chegou a hora de, acima de tudo, dar voz e ouvir as vítimas, e de combater o cinismo, o proteccionismo e a hipocrisia", salienta.

Além destas críticas, houve já também protestos contra o assédio no mundo da música, o último dos quais na passada quinta-feira, à porta de um bar de jazz em Lisboa. Neste concerto era esperado que João Pedro Coelho participasse, mas o músico decidiu não comparecer.

Denúncias que foram surgindo

O caso foi então despontado por Liliana Cunha. Em várias declarações que já proferiu, a artista confessa que trocou mensagens com João Pedro Coelho e que consentiu ter relações sexuais com o pianista, estabelecendo, contudo, regras, nomeadamente o uso de preservativo. A DJ, no entanto, diz que o músico retirou-o a dado momento do ato sexual. Seguiu-se então a sua queixa.

Após esta, no entanto, muitas outras começaram a aparecer, nomeadamente nas redes sociais, mas não só. Uma outra artista, Violeta Luz, confessou ao Notícias ao Minuto que "foi só mais uma" das vítimas do João Pedro Coelho. "Isto é uma coisa que acontece há anos. Tenho neste momento quase 70 mensagens de denúncias de raparigas", diz.

João Pedro Coelho reagiu às notícias e negou tudo. “Perante a divulgação duma acusação que me imputa a prática de factos, de cariz sexual, venho aqui afirmar a falsidade da mesma e reclamar a minha total inocência”, disse, salientando que para "a reposição da verdade, e reparação da ofensa ao meu bom nome, usarei os meios legais que estão ao meu alcance.”

Hot Clube de Portugal demarca-se, mas confirma afastamento de dois professores

Segundo o Observador, as denúncias contra João Pedro Coelho surgem por parte de algumas das suas ex-alunas do Hot Clube Portugal, uma das principais escolas de música do país. Esta, contudo, desmarca-se do pianista, embora a instituição admita já ter recebido queixas deste teor no passado, concretamente dois casos.

Os casos terão sido “reportados de forma informal com a direção pedagógica e com a intervenção de uma professora” e “foram analisados pela anterior direção e levaram ao afastamento dessas duas pessoas”.