
Se o debate de hoje não servir para mais conclusões serve, pelo menos, para se perceber que Montenegro sabe que há uma franja do eleitorada que partilha com a IL e hoje foi para o debate com a missão de o recuperar. Bem preparado, ao ataque, a mostrar o quadro de medalhas da curta legislatura da AD. Mesmo quando abrilhantava os números e lhe eram apontadas as incongruências, Montenegro não parava, como se não houvesse dúvidas que ali se sentava com propriedade o atual e futuro Primeiro-Ministro de Portugal.
Sem surpresas o tema central do debate entre Montenegro e Rui Rocha foram as finanças do país. E se o IL acusa a ausência de reformas, Montenegro prefere chamar-lhe de "aventureirismo" do IL. E foi aproveitando o tema da carga fiscal para se posicionar: “Não somos socialistas porque não queremos um país demasiado estatizado. Mas somos defensores, no entanto, que o Estado deve garantir os serviços públicos essenciais”.
Se Montenegro percebeu que partilhava eleitorado, Rui Rocha foi menos eficaz a apontar a fisga, e ficam dúvidas que tenha conseguido afastar o eleitores indecisos do voto útil. Apenas no início do debate suplantou a confiança de Montenegro. O tema eram os acordos pós-eleitorais, Rui Rocha assegurou que a posição da IL é de compromisso absoluto com a responsabilidade e estabilidade do país”, lembrou que as eleições são da responsabilidade de Montenegro que “geriu a situação com irresponsabilidade” e terminou questionando o adversário: "Está à altura da responsabilidade que a IL demonstrou?"
Depois deste estertor de fulgor, Rui Rocha desapareceu. Não conseguiu apresentar as políticas do IL e Montenegro encurralou-o nas suas próprias críticas à gestão da saúde pela AD. Montenegro não recusou a crítica, mas esquivou-se dizendo que o desafio “é enorme”, contudo ressalva ainda assim o sucesso do seu Governo. E, inclusive, lembra que várias das medidas foram propostas e votadas pela IL. No fim, lembra os eleitores as diferenças entre IL e AD. “Não abdicamos que o Sistema de Saúde tenha no seu epicentro o SNS”. Quanto à manutenção da Ministra Ana Paula Martins não houve resposta.
Montenegro ao longo do debate foi conseguindo mudar o discurso das críticas puxando dos galões. Inclusive, chega a dizer que “há uma certa montenegrização da política portuguesa”, apontando que as propostas da oposição se aproximam das da AD que lidera.
E volta a superar com distinção aquele que seria o tema central da campanha: o caso Spinumviva. Montenegro não dá hipótese a que o tema se agigante e diz apenas: “Estive em exclusividade absoluta”. Perante insistência do jornalista apenas admite que as coisas poderiam ter sido diferentes mas que nada interferiu na situação política.
Síntese do debate:
Acordo pós-eleitoral
A IL garante um "compromisso com a estabilidade e responsabilidade do país e questiona Montenegro se está à altura dessa responsabilidade.
Montenegro vai ao placard das vitórias para dizer que "hoje Portugal é um país com estabilidade económica e estabilidade financeira". Prefere mostrar que é muito o que os une, mas também o que os separa:" Temos uma boa convergência em várias matérias, mas também temos divergências." Explica que defende que "o Estado tem que cumprir as suas funções soberanas, mas que tem que cumprir funções sociais."
Carga Fiscal
Rui Rocha: "A política da AD pôs em causa a estabilidade prometida pela AD e pôs o destino do país na mãos de dois partidos irresponsáveis." Acusa Montenegro de não ter sido reformista e de ter falhado em matéria de saúde.
Montenegro: Diz que "Rui Rocha está a falhar ao liberalismo", Montenegro lembra que o impostos baixaram e "era bom que um partido liberal tivesse enfatizado isso". Acusa o partido liberal de não ter votado a favor do primeiro orçamento que não aumentou nenhum imposto.
Saúde
Rui Rocha: Diz que hoje há um sistema para ricos e pobres. A IL propõe melhorar o acesso à saude para que seja universal, neste debate fracassou em explicar como.
Montenegro assumiu que este é claramente um desafio enorme "porque o ponto de partida é muito mau". E atira a Rui Rocha: "Nós não abdicamos que a trave mestra da saúde seja o SNS."
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