As duas semanas de campanha são marcadas, nomeadamente nas televisões, por “tracking polls”, ou seja, sondagens que avaliam intenções de voto. Uma dessas sondagens é realizada pela TVI / CNN Portugal pelo IPESPE/ Duplimétrica e a última teve lugar nos dias 23, 24 e 25 de fevereiro, tendo sido feitas 200 entrevistas diárias representativas do eleitorado recenseado de Portugal.
Nesta tracking poll surgiu um dado inesperado que foi a entrada, ao segundo dia de entrevistas (24 de fevereiro), do ADN – Alternativa Democrática Nacional (antigo PDR) na lista dos 10 partidos com mais intenções de voto, a par do PAN, tendo mantido a mesma posição no dia seguinte.
Como explica a própria CNN Portugal, “a tracking poll não faz previsão de resultados finais, ela permite sobretudo fazer análises de tendências. Trata-se de uma ferramenta comum em diversos países, sendo também historicamente usada por partidos políticos portugueses, que as usam apenas internamente e para ir avaliando a evolução da campanha”.
Mas, ainda assim, a pergunta sobre o que impulsionou as respostas que elevaram o ADN a uma posição equiparável à do PAN continua a precisar de resposta.
Uma primeira análise mais imediata apontava para o “efeito debate”, uma vez que a 20 de fevereiro, ou seja, quatro dias antes, estiveram na RTP os partidos sem assento parlamentar, tendo estado o ADN representado pelo seu líder, Bruno Fialho.
Não seria a primeira vez que o efeito mediático se traduziria em mais intenções de voto e até mesmo em votos reais. Há vários exemplos disso no espaço político-mediático português, como é o caso de Tino de Rans, fundador do R.I.R. e ex-candidato à Presidência da República, ou, em 2022, Renata Cambra do MAS, que acabou mesmo por duplicar os votos do partido.
No caso do debate de dia 20 não houve nenhum momento especialmente relevante em termos de impacto mediático e Bruno Fialho não esteve em particular evidência, o que torna essa explicação ainda que possível menos plausível.
ADN conta com o apoio de Jair Bolsonaro
Outras explicações podem residir na base de apoio do partido, nomeadamente grupos evangélicos afetos ao ex-presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.
A 15 de fevereiro foi publicado no YouTube do ADN um vídeo de apoio de Marcos Feliciano, deputado federal no Brasil e porta-voz de Jair Bolsonaro. “Atenção, portugueses, na paz do senhor. Aqui quem fala é o pastor e também deputado federal do Brasil, Marcos Felician. Eu quero chamar a atenção de todas as lideranças evangélicas de Portugal, bem como de todos os cristãos para que no próximo dia 10 de março, dia de eleições em Portugal, para que apoiem e votem no ADN.”
O próprio partido agradeceu esse apoio numa comunicação no Facebook, em que partilha uma capa do jornal Tal&Qual.
“O ADN - Alternativa Democrática Nacional agradece o apoio de Jair Bolsonaro e da Bancada Evangélica. Iremos continuar o nosso percurso para elegermos no dia 10 de Março. Estamos pelos portugueses e por Portugal, apoiados por todos aqueles que acreditam na luta contra o globalismo”, pode ler-se na publicação.
Outra explicação pode ser pela eventual confusão que alguns eleitores possam fazer entre “ADN” e “AD”, uma tese defendida por especialistas em campanhas políticas e em comunicação e sondagens, como é o caso de Luís Paixão Martins.
“Não me surpreenderia que este súbito crescimento do ADN nas intenções de voto das sondagens tenha a ver com a confusão com a AD. No apuramento das eleições será curioso perceber se o ADN tem melhores resultados nos círculos onde aparece nos boletins de voto antes da AD do que nos outros. Ainda por cima, é a sigla ADN que surge junto ao espaço da cruz enquanto no caso da AD o que aparece são as siglas dos 3 partidos”, escreveu Paixão Martins no X (ex-Twitter).
Já esta semana foi noticiado que o ADN apresentou queixa à Comissão Nacional de Eleições (CNE) sobre uma sondagem que está a ser conduzida pela Universidade Católica – CESOP (Centro de Estudos e Sondagem de Opinião), onde não consta o partido.
“Hoje, um operador telefónico, da parte da Universidade Católica – CESOP, ligou a um apoiante do Partido ADN, pedindo que este respondesse em que partido votaria nas próximas eleições legislativas de 10 de março, indicando várias opções, mas sem mencionar o nome do Partido ADN, tendo o nosso apoiante respondido que votaria no Partido ADN. Depois, o nosso apoiante, perguntou qual a razão para que o nome do partido ADN não constasse do questionário, ao que foi respondido pelo operador que eram os dados que tinham para elaborar as perguntas“, refere Bruno Fialho, presidente do ADN num artigo publicado no Diário da Região Sul.
Quem é o ADN?
O ADN não nasceu com essa denominação, mas sim como PDR – Partido Democrata Republicano e tendo como fundador o advogado António Marinho e Pinto, que angariou 13 mil assinaturas para o efeito (são necessárias 7500 assinaturas para propor um partido ao Tribunal Constitucional).
À época, Marinho e Pinto tinha se desvinculado do Partido da Terra (MPT) pelo qual fora eleito eurodeputado em 2014 com 7,15% dos votos.
O PDR teve luz verde do Tribunal Constitucional em fevereiro de 2015 e, nas eleições desse ano, obteve 60 912 votos, o que equivale a um total nacional de 1,13% mas que não chegou para eleger um deputado, no caso Marinho e Pinto, que concorreu pelo círculo distrital de Coimbra.
Em 2019, o partido perde espaço político, continua sem eleger e em janeiro de 2020 Bruno Fialho sucede como presidente do PDR.
Em setembro de 2021, o Partido altera a designação para ADN – Alternativa Democrática Nacional, sendo uma das razões invocadas a necessidade de desfazer equívocos com o PNR — atual Ergue-te. Também nesse mês, o PDR então já ADN desvinculou-se do Partido Democrático Europeu por divergências relacionadas com a comunidade LGBT, tema que é hoje central no seu programa, propondo mesmo a eliminação de todo o conteúdo desta natureza do currículo escolar até ao 12º ano.
O líder do novo partido, Bruno Fialho, é advogado, empresário e foi chefe de cabine da companhia aérea dos Açores, SATA. Ganhou visibilidade pública no debate eleitoral em televisão nas eleições legislativas de 2022 quando se pronunciou sobre a pandemia, tendo na altura afirmado que "não houve excesso de mortalidade em Portugal por causa da Covid", e que "a prova de não houve é que apenas 152 pessoas morreram de Covid (em Portugal)". No órgãos dirigentes do partido fazem parte nomes como o de Margarida Oliveira, médica e fundadora dos “Médicos pela Verdade”.
O partido que se apresenta como não sendo "nem de esquerda, nem de direita", que se define como "um partido conservador, que se refere pela defesa da liberdade e do humanismo", nas palavras de Bruno Fialho em entrevista ao canal Today in Toronto.
Temas como o combate à pandemia, a política de emigração e apoio a refugiados ou a guerra Ucrânia foram abordados por Bruno Fialho num artigo de opinião intitulado “A culpa não é só de Putin”, publicado há dois anos no Diário do Distrito.
Sobre o apoio dos portugueses à Ucrânia, escreveu então Bruno Fialho: “Começo por dizer o seguinte: gostava que todos os “corajosos” portugueses que se apressaram a colocar a bandeira da Ucrânia nas suas redes sociais, que foram para manifestações em frente à embaixada da Rússia ou que, sem sequer terem feito o serviço militar, exigem que Portugal envie soldados para combater em solo estrangeiro, fizessem algo similar pelos seus compatriotas e pelo seu país. Ao invés disso, enquanto todos já podemos ir dançar a uma discoteca sem ter uma “fralda na cara”, observo que os pais portugueses optam por sacrificar os seus filhos ao permitirem que as suas crianças continuem a ficar privadas de oxigénio e a terem de suportar máscaras durante horas a fio nas salas de aulas, sem se revoltarem com isso ou sequer fazer manifestações em frente ao Ministério da Educação ou na DGS”.
Sobre refugiados: “continuamos a ter uma situação de crise extrema de sem-abrigo, que até é simples de resolver. Não apoiamos as famílias portuguesas que não têm capacidade para pagar uma habitação digna, mesmo que os dois membros do casal trabalhem (...) Todavia, oferecemos tudo a “supostos refugiados” que chegam ao Algarve por via marítima de forma inexplicável, que por mero acaso são sempre do sexo masculino e vêm equipados com telemóveis topo de gama ou vestidos com roupas de marca”.
E sobre o tema central do artigo: “ ... convém esclarecer os mais incautos que Vladimir Putin não é o único culpado desta situação ou sequer é o maior culpado, já que, na minha opinião, são os Estados Unidos da América (EUA) os principais responsáveis daquilo que está a acontecer na Ucrânia, como adiante irei explicar. (...) Desde que Joe Biden foi proclamado presidente dos EUA que têm sido feitas várias tentativas para que a Ucrânia integre a NATO, sabendo que isso poderia despoletar uma guerra com a Rússia. Depois, convém não esquecer que a Ucrânia é essencial para a implementação da Nova Ordem Mundial (NOM), tema sobre o qual escrevi neste jornal na passada semana, e a Rússia é um dos poucos países que luta contra a NOM, razão pela qual, em poucas palavras, fica explicado o porquê de os EUA terem pressionado Putin a agir desta forma”.
Já em 2023, num relatório publicado pela organização Global Project Against Hate and Extremism (GRAPHE), o ADN foi classificado, juntamente com o Chega e o Ergue-te, como um grupo de ódio e extrema-direita. O partido fez um pedido de direito de resposta à RTP que na altura fez uma reportagem sobre o relatório.
“O partido ADN – Alternativa Democrática Nacional –, aqui representado pelo seu presidente, Dr. Bruno Fialho, nos termos do disposto no artigo 24º da Lei nº 2/99, de 13 de Janeiro (Lei de Imprensa), vem exercer o seu direito de resposta, relativo à vossa peça sobre “o estudo elaborado pela organização não-governamental norte-americana Global Project Against Hate and Extremism publicada ontem, no dia 27 de Junho, no qual esta ONG difama gravemente o partido ADN ao conotá-lo como sendo um partido de extrema-direita, racista, homofóbico e xenófobo, algo que não somos e todos os nossos actos públicos e privados provam isso mesmo, apenas com o intuito de nos prejudicar.”, lia-se no referido comunicado.
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