“O dr. João Rendeiro, o dr. Paulo Guichard e o dr. Salvador Fezas Vital têm de ter pena de prisão efetiva, não há outra alternativa, porque este tribunal tem de demonstrar – depois de Banif, […] BES - que tem de haver uma altura em que temos de dizer que já chega”, afirmou Miguel Pereira Coutinho em tribunal, na primeira sessão das alegações finais.
O advogado considerou que estes arguidos têm de ser “severamente sancionados” porque casos de bancos com erros de gestão que levam ao seu fim “não podem voltar a repetir-se”.
“Há pessoa que são ‘too big to go to jail’, que acham que ninguém lhes vai tocar e esse sentimento tem que ser atacado. Onde fica a fidúcia? A confiança no sistema, nos bancos? Como queremos que isto não volte mais a acontecer”, questionou o causídico.
O representante do Banco Privado Português (BPP) – que intervém neste processo como assistente – considerou que as declarações públicas que João Rendeiro tem feito revelam que este não demonstra “auto-censura pelos atos praticados” e citou uma entrevista de 2016 de Rendeiro ao portal Sapo24 em que diz que continua a “exercitar” os seus “dons”, nomeadamente através de serviços de consultoria.
Na sessão de hoje houve ainda as alegações finais do Ministério Público, com a procuradora a pedir pena de prisão entre sete e nove anos para João Rendeiro.
O fundador e ex-presidente do BPP não se encontrava na sala de audiências. A Lusa questionou a advogada sobre o motivo da ausência em tribunal, mas não quis prestar declarações.
Já para os ex-administradores Paulo Guichard e Salvador Fezas Vital foi pedida prisão entre seis e oito anos.
Nas alegações finais, a procuradora considerou que estes três administradores são “as peças-chave, os líderes” de um esquema fraudulento, “predominantemente o dr. Rendeiro”.
Quanto aos ex-administradores Fernando Lima e Paulo Lopes, o Ministério Público pediu pena suspensa.
Este processo criminal diz respeito a alegada falsificação de contabilidade pelo banco BPP, estando em causa crimes de falsidade informática e falsidade de documentos em factos ocorridos entre 2001 e 2008.
O BPP foi um banco ‘private’ (dedicado a clientes com elevado património) fundado por João Rendeiro. A grave situação do banco, nomeadamente por falta de liquidez, motivou intervenção do Banco de Portugal no final de 2008.
O BPP é de momento uma entidade em liquidação, sendo o presidente da comissão liquidatária Manuel Martins Mendes Paulo, que substituiu Máximo dos Santos, atual vice-governador do Banco de Portugal.
Durante os cerca de 17 meses em que durou a intervenção do supervisor da banca no BPP, antes de determinar a sua liquidação, a principal preocupação das autoridades (Governo, Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e Banco de Portugal) esteve centrada no problema dos clientes que investiram em produtos financeiros que diziam ser de ‘retorno absoluto’, mas que acabaram por acarretar perdas.
A solução encontrada passou pela criação de um 'mega fundo', em 2010, que recebeu a adesão da quase totalidade dos clientes, bem como pela ativação do Fundo de Garantia de Depósitos e do Sistema de Indemnização aos Investidores (SII), o que permite à maior parte dos clientes reaverem o capital investido naqueles produtos.
Quanto ao Estado, este deu aquando da intervenção pública no BPP uma garantia de 450 milhões de euros que o atual Governo diz que espera reaver na totalidade.
No âmbito do dossiê BPP decorrem ainda outros processos, como processo por burla qualificada e processo de recursos dos ex-administradores por contraordenações (com multas) aplicadas pelas autoridades de supervisão.
A próxima sessão do julgamento, em que continuam as alegações finais, decorre em 26 de janeiro.
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