Numa comunicação feita ao país a partir da Casa Branca, ladeado pela vice-presidente Kamala Harris e o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, Joe Biden anunciou que os EUA mantém o seu esforço de repatriamento dos cidadãos norte-americanos ainda presentes no Afeganistão, falando em "avanços significativos" no processo, desde que fez o seu polémico discurso na passada segunda-feira.

De acordo com Biden, já foram retiradas 13 mil pessoas de Cabul desde 14 de agosto, quando os EUA começaram as operações de evacuação, na véspera da tomada da cidade pelos talibãs, e já estão perto de seis mil soldados norte-americanos em solo afegão, alguns mobilizados de volta ao Afeganistão para assegurar o repatriamento em segurança.

Depois duma pausa durante a manhã desta sexta-feira para "garantir que se faziam avançar as pessoas dos seus pontos de trânsito", Biden garantiu que os voos retomaram e que mais de 5700 abandonaram o Afeganistão desde ontem, adiantando também que os EUA estão a providenciar apoio militar aos seus aliados e a jornalistas estrangeiros ainda em Cabul.

"Este é uma das maiores e mais difíceis pontes aéreas da história", disse Biden, que deixou como garantia repatriar todos os cidadãos no Afeganistão. “A cada americano que queira regressar, vamos trazer-vos para casa", prometeu, acrescentando também que os EUA vão "fazer todos os possíveis" para oferecer uma evacuação segura aos cidadãos afegãos que colaboraram com o poder norte-americano e que agora temem represálias dos talibãs.

No entanto, Biden não se comprometeu com a meta originalmente estipulada de trazer todos os cidadãos norte-americanos até 31 de agosto. "Não posso prometer qual vai ser o desenlace final", dadas as contrariedades, admitiu.

A administração de Biden tem sido duramente criticada por figuras afegãs, assim como por aliados e outros membros da comunidade internacional, pela forma como geriu a retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão, 20 anos depois da invasão.

Biden, todavia, considerando os acontecimentos da última semana "de deixar o coração partido", considerou que não é altura para críticas. "Haverá muito tempo para criticar e dar palpites quando esta operação terminar, mas por agora estou focado em garantir que deixamos este trabalho feito", disse o Presidente dos EUA.

Além disso, Biden rejeita também que a credibilidade internacional dos EUA tenha saído prejudicada da decisão da retirada das tropas do Afeganistão, dizendo que nenhum dos seus aliados colocou isso em causa, antes pelo contrário.

O Presidente dos EUA reforçou ainda que o país está em "constante contacto" com os talibãs e que eles sabem que podem esperar "uma resposta rápida e forte" caso ataquem algum cidadão norte-americano.

Questionado sobre se se comprometeria a enviar tropas americanas para Cabul para ajudar no embarque de americanos que não tenham conseguido chegar em segurança ao aeroporto de aeroporto, Biden alegou que a sua administração não tinha "nenhuma indicação" de que os americanos estariam a ter dificuldades em chegar ao aeroporto, recordando o acordo estabelecido com os Talibãs no sentido de permitir a passagem de cidadãos americanos pelos pontos de controlo na cidade.

"Não sabemos de nenhuma circunstância em que cidadãos americanos, portadores de um passaporte americano, estejam a tentar passar para o aeroporto", disse Biden.

"Tanto quanto sabemos, os postos de controlo talibã, estão a deixar passar pessoas que mostram passaportes americanos. Agora, trata-se de uma questão diferente quando eles se apressam e se juntam à multidão do lado de fora do muro, junto ao aeroporto", afirma, acrescentando que "por isso ontem ou anteontem passámos o muro e trouxemos 169 americanos".

No entanto, os relatórios no terreno em Cabul que reportam que guardas talibãs se recusam a deixar passar várias pessoas, incluindo aqueles que detêm passaportes americanos, pelos postos de controlo próximos do aeroporto. Segundo reporta o Guardian, a própria embaixada dos EUA em Cabul disse aos cidadãos americanos que permanecem no Afeganistão que o governo "não pode garantir uma passagem segura para o aeroporto".

Joe Biden anunciou ainda que, na próxima semana, haverá uma reunião especial do G7 para discutir a crise no Afeganistão.

A entrada das forças talibãs em Cabul pôs fim a uma campanha militar de duas décadas liderada pelos Estados Unidos e apoiada pelos seus aliados, incluindo Portugal. As forças de segurança afegãs, treinadas pelos militares estrangeiros, colapsaram antes da entrada dos talibãs na cidade de Cabul.

Milhares de afegãos, em Cabul, tentam fugir do país e muitos dirigiram-se para o aeroporto internacional onde a situação é caótica.

A maioria dos países no Conselho de Segurança expressou hoje a sua profunda preocupação com a violação dos direitos humanos no Afeganistão e o medo de uma eventual ascensão do terrorismo no país com a subida dos talibãs ao poder.