As filmagens no lado de fora do hotel Decápolis, na Cidade do Panamá, mostram famílias presas em quartos de hotel a pedir ajuda. O The New York Times (NYT) filmou uma mulher iraniana de 27 anos, Artemis Ghasemzadeh, a escrever na janela com uma caneta vermelha, em letras garrafais, “Help us” (Ajudem-nos).

Noutra imagem da BBC, duas raparigas seguram um papel na janela onde se lê “por favor ajudem-nos” e duas crianças com a cara tapada a mostrar um papel que diz “por favor salvem as meninas afegãs”. O jornal britânico refere ainda a imagem de vários migrantes com os braços erguidos em cruz para indicar que estão a ser privados da liberdade dentro do hotel e com os polegares na palma da mão, sinal internacional de ajuda.

Associações que disponibilizam apoio a migrantes:

JRS Portugal — O gabinete jurídico "tem como objetivo assessorar juridicamente os utentes no seu processo de regularização, bem como emitir pareceres e orientações técnicas internas em matérias de Lei de Estrangeiros, Lei de Asilo e legislação acessória". Saiba mais aqui.

Renovar a Mouraria — Centrada na freguesia de Santa Maria Maior, em Lisboa, esta associação ajuda com os processos de regularização de quem "vive, trabalha, estuda ou tem filhos que estudam" naquela zona. Conheça o projeto aqui.

Lisbon Project — Este projeto tem como objetivo "construir uma comunidade que integra e capacita migrantes e refugiados". Nesse sentido, tem também disponível um gabinete de apoio jurídico. Fique a par de tudo aqui.

Mundo Feliz — Esta associação ajuda os imigrantes no processo de regularização em Portugal e também na procura de emprego, entre outros serviços. Saiba mais aqui.

Linha de Apoio ao Migrante — Esta linha "tem como principal objetivo responder de forma imediata às questões mais frequentes dos migrantes, disponibilizando telefonicamente toda a informação disponível na área das migrações e encaminhando as chamadas para os serviços competentes". Contactos: 808 257 257 / 218 106 191. Mais informações aqui.

Neste momento, estão 299 migrantes dentro dos quartos da India, China, Uzbequistão, Irão, Vietname, Turquia, Nepal, Paquistão, Afeganistão e do Sri Lanka, segundo o governo do Panamá, citado pela BBC. Apenas 171 concordaram voltar para o país de origem, enquanto alguns dos restantes mostram cartazes com a frase “Não estamos seguros no nosso país”.

A segurança do hotel Decápolis está a ser reforçada com membros do Serviço Nacional Aeronaval do Panamá armados a controlar todas as saídas e entradas. Segundo o The New York Times, os movimentos dos migrantes dentro do hotel são limitados e não é permitida a entrada de jornalistas.

O ministro de segurança do Panamá, Frank Abrego, comunicou aos jornalistas estas terça-feira que o protocolo está a ser cumprido e os migrantes estão a receber ajuda médica e comida como parte do acordo com os EUA. No entanto, essa não é realidade descrita pelos migrantes, que retratam cenários desumanos e sem condições nem dignidade de vida.

O NYT refere, ainda, testemunhos de tentativas de suicídio e de fuga do hotel. O The Guardian noticiou esta quinta-feira a fuga de uma mulher chinesa, que as autoridades acreditam ter sido ajudada pelos locais. Um repórter no local relatou, ainda, que os migrantes presos nos quartos indicaram através da janela estarem sem telefones.

Como ajudar alguém em risco?

A comunidade pode ter um papel relevante na prevenção do suicídio. É importante ter a consciência de que a maior parte das pessoas que se suicidaram avisaram antes e que, portanto, nunca deveremos menorizar um aviso de suicídio.

Todas as pessoas que tenham ideias de suicídio devem procurar apoio imediato e a família deve lutar por esse apoio. Recorde-se a necessidade de tratar a depressão, que é uma doença e não um estado de espírito — e é tratável. Existe uma urgência de psiquiatria com atendimento imediato em muitos locais e que em todos os distritos há um serviço de psiquiatria com consultas.

Caso tenha pensamentos suicidas ou conheça alguém que revela sinais de alarme, fale com o médico assistente. Se sentir que os impulsos estão fora de controlo, ligue 112.

Outros contactos:

SOS Voz Amiga
Lisboa (atendimento das 16 às 24h)

21 354 45 45
91 280 26 69
96 352 46 60

SOS Telefone Amigo
Coimbra
239 72 10 10

SOS Estudante
Coimbra
808 200 204

Escutar - Voz de Apoio
Gaia
22 550 60 70

Telefone da Amizade
Porto
22 832 35 35

A Nossa Âncora
Sintra
219 105 750
219 105 755

Departamento de Psiquiatria de Braga
Braga
253 676 055

Brochura do INEM
Ler aqui.

Um campo de detenção na selva: "Parece um jardim zoológico"

Mais de 100 migrantes que estavam no hotel foram transferidos de autocarro para um campo de detenção “na selva”, descreveu um migrante, em entrevista ao The New York Times (NYT). Segundo os testemunhos recolhidos, as condições são primitivas, existe perigo de contrair doenças endémicas, como a dengue.

“Parece um jardim zoológico, há gaiolas cercadas”, relatou Artemis Ghasemzadeh, uma das primeiras a pedir ajuda. “Deram-nos um pedaço de pão velho. Estamos sentados no chão”. O NYT cita ainda outras fontes anónimas presentes no local, que referem a presença de oito crianças.

O governo do Panamá recusou as criticas e disse não existirem jaulas. No entanto, negou o acesso a jornalistas e organizações de ajuda humanitária. Numa entrevista ao programa de notícias Panamá En Directo na quarta-feira, o ministro da Segurança do país, Frank Ábrego, disse que os migrantes estão a ser mantidos pelo Panamá “para a sua própria segurança” e porque os oficiais “precisam de verificar quem eles são”, avança o NYT.

Em declarações ao NYT, advogados explicaram que é ilegal manter os migrantes presos por mais de 24 horas sem uma ordem do tribunal.

Ao The Guardian, uma fonte anónima referiu que uma das possibilidades de destino para os migrantes que não regressam ao país de origem é o edifício São Vicente, "uma espécie de campo de concentração". Muitos receiam ser torturados e morrer neste lugar.

Para onde vão a seguir?

As deportações em massa são uma medida da administração de Donald Trump, que pretende expulsar do país todos os migrantes que atravessam a fronteira ilegalmente. Já foram deportadas milhões de pessoas, a maior parte refugiadas de países em conflito.

O Panamá é um dos países que aceitou receber os migrantes, de forma a servir como uma “ponte” para os migrantes deportados voltarem ao seu país de origem. Quando entram no país, o paradeiro destas famílias passa a ser da responsabilidade das autoridades locais e o seu futuro continua incerto.

A maior parte das pessoas é natural de países orientais, com os quais os EUA não tem relações diplomáticas para o envio de aviões com migrantes. Por isso, e devido à pressão financeira e política exercida pelos EUA sobe o Panamá, o primeiro destino de muitos deportados é este.

De acordo com o governo do Panamá, os que permanecerem no hotel vão ser transferidos para um campo de refugiados na região de Darién, que tem recebido temporariamente migrantes que viajam para os EUA.

A Costa Rica é outro dos países que, segundo o acordo com os EUA, deve receber um número semelhante de deportados de outros países. A Colômbia, o Brasil, o México e a Índia estão também a receber aviões cheios de migrantes.