O relatório 'United in Science' [Unidos na Ciência], elaborado por agências internacionais e coordenado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), analisa o impacto das alterações climáticas e de condições meteorológicas extremas, abordando a forma como a ciência relacionada com o clima e a água pode fazer avançar objetivos como segurança alimentar e da água, energia limpa, uma melhor saúde, oceanos sustentáveis e cidades resilientes.

Em conferência de imprensa, o secretário-geral da ONU, António Guterres, lamentou que 2023 tenha mostrado "demasiado claramente" que as alterações climáticas "estão aqui", salientando que o aumento das temperaturas está a ter consequências graves na terra e no mar, além da maior ocorrência de fenómenos meteorológicos extremos.

"Sabemos que isto é apenas o início e que a resposta global está a ser insuficiente. Entretanto, a meio caminho do prazo de 2030 para os ODS, o mundo está lamentavelmente fora do caminho", alertou Guterres, que acrescentou que a ciência é "fundamental" para as soluções necessárias para o avanço no cumprimento das metas.

De acordo com o documento, entre 1970 e 2021 foram reportadas cerca de 12.000 catástrofes devido a fenómenos meteorológicos, climáticos e hídricos extremos, resultando em mais de dois milhões de mortes e 4,3 mil milhões de dólares em prejuízos. Mais de 90% das mortes e 60% das perdas económicas ocorreram em economias em desenvolvimento.

O secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, disse que a comunidade científica está unida, vincando que o desenvolvimento tecnológico – como modelos climáticos de alta resolução ou inteligência artificial - podem potenciar o cumprimento dos ODS e que o "Alerta Rápido para Todos 2027" - uma iniciativa lançada no ano passado por António Guterres – vai salvar vidas.

O relatório explica ainda como previsões meteorológicas ajudam a aumentar a produção alimentar e a reduzir a fome, enquanto a integração da epidemiologia e da informação climática ajuda a antecipar doenças sensíveis ao clima, enquanto os sistemas de alerta precoce podem atenuar a pobreza, com as pessoas a terem a oportunidade de se prepararem para os impactos.

A probabilidade de a temperatura média global próxima da superfície exceder temporariamente 1,5 graus acima dos níveis pré-industriais [limite a partir do qual os impactos das alterações climáticas poderão ser catastróficos] num dos próximos cinco anos é já de 66%, sustenta o documento, que refere também que as emissões globais de gases com efeito de estufa devem ser reduzidas 45 por cento para limitar o aquecimento a 1,5 graus até 2030 e que as emissões de dióxido de carbono (CO2) têm de se aproximar do zero até 2050.

Neste contexto, a diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA), Inger Andersen, defendeu que a ciência continua a mostrar que "não está a ser feito o suficiente" para cumprir os objetivos do Acordo de Paris sobre redução de emissões.

"Enquanto o mundo se prepara para o primeiro balanço global na COP28, temos de aumentar a nossa ambição e ação, e todos temos de fazer o que pudermos. Um verdadeiro trabalho para transformar as nossas economias através de uma transição justa para um futuro sustentável para as pessoas e o planeta", concluiu.