Ana Figueiredo, CEO da Altice, começou por anunciar os grandes projetos a implementar no futuro das comunicações. Desde Aveiro, o berço e o “epicentro da inovação de Portugal para o mundo”, a CEO da Altice realçou o papel relevante da cidade ao nível da exportação e do reconhecimento internacional do que se faz em Portugal.
Agradecendo o trabalho de mais de 800 engenheiros em Aveiro e no Brasil, Ana Figueiredo destacou o papel de Alcino Lavrador, a quem chamou de “Homem do Leme”, o diretor-geral do laboratório fundado em Aveiro há sete anos.
“Sem a cidade de Aveiro e a sua Universidade não teria sido possível”, reconheceu, antes de anunciar os grandes projetos em que a Altice Labs está a trabalhar.
“A Altice Labs tem sete anos, mas está ancorada em 70 anos de história em Portugal”, afirmou a empresária, acrescentado que "prever o futuro é criar o futuro”.
“Ditamos tendências a nível nacional, uma forma de anteciparmos as necessidades dos nossos clientes para estarmos sempre à frente dos demais”, disse, e, por tal, “queremos continuar por muitos mais anos em Aveiro”, prometeu. Esta é uma cidade cada vez mais “dotada por tecnologia de futuro apoiada pela própria autarquia”.
“Vamos continuar a liderar o futuro, pensando nesse futuro e a contribuir para as comunidades”, concluiu a CEO da Altice Portugal.
“É em Aveiro que tudo começa”
A Saúde foi um dos temas escolhidos para o sétimo aniversário do Altice Labs em Aveiro e por isso foi convidado Fernando Araújo. “Hoje percebi que é em Aveiro onde tudo começa, o futuro está aqui”, começou por dizer o diretor-executivo do SNS, perante dezenas de convidados.
“Estamos cientes e motivados a acompanhar as mudanças (tecnológicas) e uma delas que gostaria de destacar é os dados dos doentes”.
Em termos de diagnóstico, “podemos olhar para imagens e fazer relatórios com enorme precisão”. Inovações já em utilização no S. João, disse o ex-gestor do Hospital do Porto.
“Os profissionais aprendem com estas bases de dados que podem ser aproveitadas em outras áreas, como a dermatologia, por exemplo, na análise da pele ou mesmo na anatomia patológica, onde temos grande necessidade de capacidade humana. Com a tecnologia podemos colmatar essas lacunas”, sublinhou o responsável executivo do SNS.
“Temos capacidade de, com grandes bases de dados genéticos, identificar patologias e encontrar a melhor terapêutica. Podemos identificar e sequenciar o genoma de modo a permitir dar um salto enorme na deteção da doença”, exemplificou Fernando Araújo. “Podemos ir muito mais além (...) a questão é perceber até onde e como podemos ir nesse percurso”, afirmou.
“Não queremos ser a ‘Smart City’, isso é pequeno. Queremos ser a ‘Tech City’”
O presidente da Câmara de Aveiro começou por enaltecer a sua cidade como “terra vencedora” que, apesar de crescer tecnologicamente, continua a notar o fraco investimento público que o autarca considera “deficitário”, sobretudo, no setor da Saúde.
“Os cuidados primários e secundários, ou melhor, os cuidados hospitalares, não gosto dos termos ‘primário e secundário”, disse, são “minimamente assegurados, mas as unidades locais de saúde de Aveiro não”, insinuou o autarca apelando à requalificação do Hospital de Aveiro através dos fundos europeus.
“Portugal tem ao seu dispor 40 mil milhões de euros. Aquilo que precisamos para requalificar o Hospital de Aveiro são 140 milhões. Precisamos da vossa ajuda para explicar a quem tem o poder de decidir que Aveiro tem de receber esse apoio”, apelou Ribau Esteves.
“Enquanto cidadãos de Aveiro, somos também cidadãos do mundo ligados à Altice Labs e a todo o grupo Altice. Este é o aniversário da principal pérola da Altice Portugal”, elogiou o autarca. “Por isso, colocar a saúde neste aniversário da Altice Labs é louvável e estou muito agradecido por isso”, continuou Ribau Esteves sem antes terminar com uma pequena provocação à CEO do grupo em Portugal.
“Permita-me que diga o seguinte, minha querida Ana Figueiredo, não queremos ser a ‘Smart City’, isso é pequeno. Queremos ser a ‘Tech City’”, concluiu.
“A demonstração real da tecnologia 25G-PON efetuada hoje é uma das poucas demonstrações no mundo. A outra foi feita pela Nokia”
Depois da intervenção do presidente da Câmara de Aveiro, foi a vez do “Homem do Leme” subir ao palco. O diretor-geral da Altice Labs de Aveiro começou por enfatizar a presença global do grupo anunciando o aumento de parcerias. “Temos mais países no nosso mapa, acrescentamos mais parceiros. Estamos em todo o lado, seja num barco de cruzeiro, seja num estádio de futebol em Sevilha ou num hotel em Nova Iorque”.
Lavrador apresentou com maior detalhe os principais projetos que estão em desenvolvimento no centro de R&D de Aveiro. Em jeito de balanço, o diretor-geral disse que o Labs fechou o ano com 17 novas patentes registadas.
“Terminamos 2022 com quase 28 milhões de casas com fibra óptica. Participamos em duas agendas mobilizadoras e no programa NextGen Mobility - Test Bed”, disse.
O NextGen Mobility é um projeto que integra a rede nacional de testbeds do PRR nacional e que implementará, até ao final de 2025 em Aveiro, um piloto aberto ao ecossistema Pequenas e Médias Empresas e Startups para suportar o desenvolvimento de 50 produtos e serviços com forte componente digital focados na mobilidade inteligente.
Esta testbed vai utilizar recursos avançados disponibilizados pela Altice Labs - como a sua rede 5G experimental, plataformas de IoT, Big Data e Analítica e plataformas de edge computing.
Outro grande destaque sublinhado por Lavrador foi a demonstração da Ultra Broadband - fibra óptica com 25 Gbps de velocidade. A demonstração ocorreu num dos stands montados para o aniversário da Altice Labs onde se pôde verificar a velocidade real da tecnologia 25G-PON em coexistência com as tradicionais GPON e XGS-PON, através de injeção de tráfego e medição de débitos, sobre a rede real de fibra ótica da MEO.
“Esta é uma das poucas demonstrações efetuadas no mundo, pela Nokia e nós, a Altice, seguramente a primeira demonstração em Portugal”, afirmou Alcino Lavrador. “Atualmente, o máximo de ligação disponível é 10 Gbps”, clarificou. “Esta será a primeira demonstração de um serviço de 25 Gbps ligado à rede pública”, disse.
“Para as empresas, ter velocidades de 25 Gbps, para além dos atuais 10 Gbps, é uma alteração bastante significativa, mas para casa, o consumidor pode questionar-se se precisa dessas velocidades. Se calhar não precisa”, questionou, mas a outra vantagem para estas velocidades é para a Saúde. “Os hospitais com estas velocidades poderão efetuar exames ou intervenções cirúrgicas à distância com a maior precisão de conetividade”, garantiu.
Num momento em que as operadoras nacionais começaram a servir os clientes com modems com a tecnologia WIFI 6, Alcino Lavrador destacou a próxima geração de modems e routers de ligação à Internet por cabo (fibra). “Temos também uma demonstração WIFI 7 - The Next Wifi com latências abaixo dos 2 mil segundos, que é muito melhor que as redes que temos hoje disponíveis”.
“Esta nova geração de tecnologia WiFi 7, já em desenvolvimento final pela Altice Labs, trata-se da futura norma disruptiva de WiFi, que funciona transversalmente nas três bandas (2,4 GHz, 5 GHz, e 6 GHz) para utilizar por completo os recursos do espectro disponível”, adiantou o diretor.
No que diz respeito à banda larga móvel, “neste momento estamos na geração 5G, mas já estamos a entrar no 6G e neste campo, como é que vamos operacionalizar esta tecnologia?”, questionou Lavrador, referindo-se à implementação da próxima geração de Internet dados numa altura em que ainda se está a consolidar a oferta do 5G em Portugal.
A primeira resposta passa pela distribuição de “mais antenas, antenas mais leves, mais pequenas e mais eficazes”, respondeu.
Até à chegada do 6G, no contexto da conectividade em cenários urbanos, a Altice Labs está a desenvolver o Invisible 5G, uma solução inovadora de implementação de small-cells em cenários urbanos (antenas em postes públicos), para garantir a cobertura e serviços futuros de 5G, integrada discretamente e harmoniosamente em mobiliário urbano.
O projeto avança em parceria com o Instituto Politécnico de Leiria e o ISEL (Instituto Superior de Engenharia de Lisboa). De acordo com Lavrador, “tal como na tecnologia 5G, a Altice Labs iniciou os primeiros projetos de Investigação e Desenvolvimento do 6G no final de 2014”.
Na Altice Labs, perspetivando a evolução nestes domínios, “apresentaremos os trabalhos na área da tecnologia 6G e os importantes desenvolvimentos desta futura geração de comunicações.
A Altice Labs integra também o consórcio do Programa Horizon Europe IMAGINE Beyond 5G, que trabalha já nas futuras áreas de aplicação do 6G”, avançou o diretor-geral na sua apresentação.
Ainda na tecnologia 5G, Lavrador referiu-se ao projeto Nexus que explora esta banda móvel na vertente dos Portos de mar, em particular no Porto de Sines, na qual existem várias entidades portuárias, permitindo catalisar novos modelos de negócio e possíveis cadeias de valor.
No que diz respeito à Inteligência Artificial, a Altice Labs implementa três grandes projetos. Na pequena feira montada neste sétimo aniversário foi apresentada a BOTSchool Next Generation AI.
Esta evolução traz a integração de novos modelos de linguagem e de inteligência artificial capazes de simplificar a interação entre humanos e máquinas, bem como aumentar o nível de automação, desde as tarefas mais simples aos cenários mais complexos. Outra vertente da evolução é a capacidade de retirar informação de forma automática das interações/conversações com o cliente, permitindo fundamentar as decisões de negócio e melhorar a experiência do cliente. “Neste momento, a MEO tem 45 por cento das questões em call center resolvidas por este projeto”, disse Alcino Lavrador.
A comunicação satélite é o outro grande projeto que a Altice Labs de Aveiro está a desenvolver trabalho. Segundo a Altice, a área das comunicações espaciais é uma das áreas com maior potencial para o futuro das comunicações e uma das aplicações mais promissoras é a integração de redes não-terrestres 5G (NTN – non terrestrial networks), cujos benefícios (elevada largura de banda, baixa latência e continuidade do serviço) permitem explorar novas oportunidades de negócio.
O que a Altice Labs se propõe fazer é inovar mais uma vez e desenvolver uma tecnologia que consiste em ter uma espécie de terminal 5G/6G no nanosatélite e que comunica com uma estação base da rede celular (gNB – g node B) equipada com tecnologia Altice Labs, entrando assim na rede 5G/6G terrestre.
Para o efeito, a Altice Labs está a constituir um consórcio para se candidatar à Agência Espacial Europeia, um projeto nesta área com o IST e a Universidade do Luxemburgo.
“Não vou dar muitos mais detalhes” sobre este projeto, mas para ajudar a perceber a sua utilidade, consiste genericamente na monitorização da terra, quer para obter dados geográficos, meteorológicos ou de defesa”, avançou Lavrador.
“Desenvolvemos tecnologias que as pessoas precisam no dia a dia”
Coube a Alexandre Fonseca encerrar os discursos previstos para o aniversário da Altice Labs. O CEO do grupo Altice começou por reconhecer o trabalho do “Homem do Leme”, Alcino Lavrador, que dirige o laboratório de Aveiro.
“É uma satisfação voltar a Portugal, voltar a Aveiro. O ecossistema da inovação que liga a tecnologia às startups, a universidade a Portugal”.
Segundo Fonseca, a Altice Labs “faz parte de um dos maiores grupos de telecomunicações a nível mundial e para isso muito contribui o que aqui se faz em Aveiro”.
“Se hoje somos o que somos é graças aos engenheiros, a todos os que trabalham nesta casa. A todos os que fizeram parte deste projeto, muito obrigado”, reconheceu o CEO, sublinhando que o trabalho feito por pessoas é feito para pessoas, fazendo referência aos “300 milhões de clientes” que o grupo tem espalhados pelo mundo.
“As nossas soluções hoje são líderes a nível mundial, e tal como os nossos antepassados saíram há 500 anos, saímos agora nós para dar tecnologia ao mundo”.
“Vivemos num setor dos mais complexos, mais evoluídos e mais rápidos nessa evolução e, mesmo assim, somos capazes de nos mantermos líderes e diferenciadores”, disse o líder fazendo referência à qualidade do trabalho desenvolvido em Aveiro.
“Sou Português e, com muito orgulho, trabalho em vários países e é nessa perspetiva que olhamos para a Altice Labs como o nosso grande orgulho. O seu 7.º aniversário muito nos orgulha. Vamos continuar aqui em Aveiro, a nossa sede da inovação. É através da inovação que conseguimos desenvolver a saúde e a justiça, pilares do Estado”, disse Alexandre Fonseca, salientando o papel que a Altice tem desempenhado em parceria com o Estado em várias vertentes como a educação, saúde e a justiça, “pilares do estado social”.
“E foi por isso que hoje escolhemos a saúde, porque é aí que temos trabalhado na telemedicina e tele assistência. Já muito trabalhamos na pandemia, junto com o SNS”, recordou. “A área da Saúde tem de crescer porque acabamos de sair de uma pandemia, desde logo a falta de interoperabilidade entre o setor público e o privado tem sido um fator vital onde a tecnologia pode e deve ser decisiva para ajudar”.
No que diz respeito a aspetos laborais e à retenção de talento, Fonseca demonstrou preocupação, corroborando o que Fernando Araújo disse anteriormente, que tal como na Saúde, também a tecnologia tem dificuldade em atrair e reter talento. “Queremos reter porque estão felizes em trabalhar conosco, num mundo cada vez mais global e competitivo”, disse.
E criticou o atual código do trabalho que “não serve para contribuir com essa retenção”. Tal como “a atual política fiscal não serve para atrair investimento estrangeiro”.
“É preciso valorizar quem investe no nosso país, é preciso tratar melhor as nossas empresas e é preciso valorizar aqueles que fazem cirurgias a 300 km de distância. E este tipo de transformação que temos de ser exigentes e ter presente”.
“É aqui que o grupo Altice tem investido, no nosso país e no mundo. Hoje chegamos a mais de 60 países e 300 milhões de pessoas. Registamos patentes, como as 17 que acabamos de anunciar hoje. Um trajeto de mais de 7 décadas que tem traduzido este crescimento significativo”.
“Quando perguntam o que fazemos na Altice Labs, pensem na aplicação do SNS e comparem com o vosso velhinho boletim de vacinas. Estas transformações não têm muitos anos. É precisamente isto que fazemos. Desenvolvemos tecnologias que as pessoas precisam no dia a dia”, afirmou o CEO do grupo.
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