“Fiquei chocado com o nível de destruição que vi como resultado dos mísseis e bombardeamentos russos”, disse Filippo Grandi no final da sua visita, a terceira ao país desde o início da invasão russa, em fevereiro do ano passado.
“Muitas infraestruturas civis, como centrais de energia, sistemas de abastecimento de água, jardins de infância e edifícios de apartamentos foram danificadas ou destruídas e muitos civis, incluindo crianças e idosos, foram mortos ou fugiram das suas casas, tendo as suas vidas sido completamente arrasadas por ataques sem sentido”, afirmou o responsável do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), em comunicado hoje divulgado.
Segundo Grandi que percorreu, durante seis dias, o sul e leste do país, encontrando-se com civis e responsáveis das regiões administrativas de Odessa, Mykolaiv, Zaporijia, Dnipro, Kharkiv e Kiev, as necessidades humanitárias continuam agudas na Ucrânia, sendo necessário que o financiamento seja mantido e até aumentado.
O Alto-comissário encontrou-se ainda com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, com o vice-primeiro-ministro Oleksandr Kubrakov e com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba.
Filippo Grandi sublinhou que, além da destruição, também testemunhou as reparações e reconstruções que estão a ser realizadas pelas autoridades e pelos cidadãos ucranianos.
“Embora os edifícios tenham sido destruídos, o espírito do povo ucraniano permanece intacto”, afirmou.
“Sinto-me muito inspirado pela força e resiliência [dos ucranianos]. Cabe a todos nós — a comunidade internacional — apoiá-los enquanto levam a cabo a sua recuperação pelo que apelo aos Estados, instituições financeiras internacionais e outros para que contribuam para esta tarefa — e rapidamente”, disse.
Para facilitar o processo, o ACNUR lançou, em conjunto com o Governo ucraniano, uma plataforma digital designada como “Ucrânia é um Lar” — que visa ser um ponto de encontro entre oferta e procura de ajuda para reparações e reconstrução de casas.
“O objetivo é fornecer um sistema transparente e eficiente de ajuda humanitária, recuperação e desenvolvimento do setor privado e de outros parceiros para reunir fundos e apoio material para ajudar as pessoas, incluindo refugiados e deslocados internos, a voltarem para casa”, explicou a agência da ONU.
No entanto, Grandi alertou que as necessidades humanitárias continuam a ser profundas, especialmente nas regiões que se situam na linha da frente dos combates.
“O financiamento humanitário deve, portanto, ser sustentado e expandido. Isso é fundamental para estabilizar as populações e permitir que as pessoas afetadas pela guerra contribuam para a recuperação do país e da economia”, argumentou.
“Os doadores — Governos, empresas e particulares — foram incrivelmente generosos no ano passado. Isto deve ser mantido se quisermos dar às pessoas o apoio de que precisam urgentemente hoje e no próximo ano”, concluiu.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14 milhões de pessoas — 6,5 milhões de deslocados internos e quase oito milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Neste momento, 17,7 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento, segundo a ONU.
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