O presidente da Câmara de Caminha, que falava durante uma manifestação que juntou, segundo a organização, mais de 1.300 pessoas, em nome dos colegas de Viana do Castelo, Vila Nova de Cerveira, Paredes de Coura (PS) e Ponte de Lima (CDS-PP) disse que a “mensagem” do protesto “é muito clara”.
“O Minho tem gente hospitaleira, mas aqui no nosso território, aqui na Serra d’Arga as multinacionais de exploração mineira não são bem-vindas”, afirmou Miguel Alves.
Com o chafariz da Praça da República, em Viana do Castelo, como palco das intervenções que fecharam o protesto, ao início da tarde, Miguel Alves apelou à união: “Este é um caminho em que temos de estar juntos, onde temos de estar fortes”, exortou.
O desfile de protesto, que durante cerca de duas horas percorreu as principais ruas de Viana do Castelo, foi animado por tocadores de concertina e cantadores ao desafio. A marcha integrou ainda representantes de partidos políticos, movimentos e associações de todos os concelhos, de várias regiões do país e, da Galiza.
A ação foi convocada pela Corema – Movimento de Defesa do Ambiente e Património do Alto Minho, o movimento em Defesa da Serra da Peneda e Soajo, o movimento SOS Serra d’ Arga, do distrito de Viana do Castelo, e o movimento SOS Terras do Cávado, de Barcelos, distrito de Braga, como resposta à abertura da consulta pública, iniciada pela Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) do relatório de avaliação ambiental preliminar do Programa de Prospeção e Pesquisa de Lítio das oito potenciais áreas para lançamento de procedimento concursal.
O período de consulta, inicialmente previsto até 10 de novembro, foi prorrogado pela DGEG para 10 de dezembro, após a contestação de partidos políticos, autarquias e movimentos cívicos.
Entre as oito áreas previstas para integrar o concurso internacional para atribuição de direitos de prospeção e pesquisa de lítio encontra-se uma área de perto de 25 mil hectares de Arga, que abrange os concelhos de Caminha, Vila Nova de Cerveira, Viana do Castelo e Ponte de Lima.
A Serra d’Arga está atualmente em fase de classificação como Área de Paisagem Protegida de Interesse Regional, numa iniciativa conjunta daqueles quatro concelhos.
Pelo movimento SOS Serra d’Arga, Carlos Seixas, exigiu ao Governo “que retire, imediatamente, a zona de Arga” daquele concurso público.
“O povo do Minho saiu à rua para dizer que é o povo que decide o que fazer com o seu território. O povo saiu à rua para dizer que o respeito pelos cidadãos tem de se estender ao mundo rural. O povo saiu à rua para dizer que os habitantes de uma região afetada por uma decisão política nacional devem, têm de ser consultados e sua decisão deve ser vinculativa, tem de ser vinculativa. Se não for assim damos razão ao secretário de Estado da Energia, João Galamba, que disse ser inaceitável dar poder de veto à população. É o mesmo que dizer que a democracia é inaceitável”, afirmou.
O porta-voz do Movimento SOS Serra d’Arga acrescentou que o “património” da região “é muito mais valioso que qualquer ouro”, que o “ouro branco” da região “é outro e não se chama lítio”.
“O senhor ministro do Ambiente tem de perceber, de uma vez por todas, que só há desenvolvimento sustentável com a participação da população. A sustentabilidade não acontece por ofício do Governo, ao contrário do que o senhor ministro acha. Matos Fernandes tem de perceber, de uma vez por todas, que somos nós, população, que escolhemos o modelo de desenvolvimento que queremos”, atirou.
“O povo do Minho irá onde for necessário para lutar contra a ameaça a um património que é de todos. Ouçam de uma vez a voz da população, que é soberana. Não aceitaremos nem um só furo. Fora da nossa bouça[terreno] que a bouça é nossa”, insistiu.
O porta-voz da Corema – Movimento de Defesa do Ambiente e Património do Alto Minho Mais, José Gualdino, foi outro dos intervenientes, e lembrou que estão na “mira das empresas de mineração estão mais de meia centena de freguesias que se propõem esburacar o Minho e transformá-lo num autêntico queijo suíço”.
“Isto é projeto quase demencial. Acham que os minhotos e as minhotas são destituídos de faculdades intelectuais e não sabem o que querem para a sua terra? Estão redondamente enganados”, garantiu
“O que nos propõem é, ao invés de um turismo cultural e de natureza, um turismo de catástrofe, com visitas às crateras das minas, aos solos e rios contaminados e às populações fantasmas. Propõem-nos um turismo de catástrofe fomentado por turistas que pretendem visitar os locais onde ocorreu um desastre ambiental. É de facto um desastre ambiental do que falamos quando se trata da extração de lítio e outros minerais na Serra d’Arga e zonas adjacentes”, alertou.
José Gualdino avisou que a região está perante “uma ameaça sem precedentes, que exige a mobilização e união de todos” e apelou às populações que “não se assustem com as possíveis lavagens cerebrais que as empresas venham a empreender”.
“Este é o maior combate que já travamos, mas vamos empregar todas as nossas forças para que o Minho continue a ser o Minho”, frisou.
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