Na praça do município, no centro da cidade, os estudantes deitaram-se em cima de tecidos brancos colocados no chão, em representação de camas, e ainda de almofadas. Numa tarja de grandes dimensões podia-se ler-se a mensagem: “uma academia sem teto”.
O presidente da Associação Académica da UTAD, José Pinheiro, disse que o problema não é novo, mas frisou que se intensificou este ano devido ao maior número de alunos colocados na primeira fase do concurso de acesso ao ensino superior: 1.329.
Inês Soares, de 18 anos e natural de Guimarães, entrou este ano no curso de Bioquímica da academia transmontana e referiu que só encontrou um quarto que partilha com uma colega e pelo qual pagam, cada uma, cem euros, mais as despesas que podem ir “até aos 30 a 40 euros”.
Bruna Marujo, de Valongo, também caloira da licenciatura de Bioquímica, contou que o processo de arranjar alojamento “foi difícil” e que acabou por arranjar um quarto por 150 euros.
José Pinheiro falou numa “crise no alojamento que se arrasta há muitos anos” e anunciou um manifesto elaborado pelos estudantes que vai ser remetido para o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, para o reitor da UTAD e para o presidente da Câmara de Vila Real.
O dirigente académico sublinhou que a UTAD possui cerca de “70% a 72% de estudantes deslocados” e entre “40% a 45% de alunos carentes de ação social direta”.
A academia possui 530 camas nas residências universitárias, um número que José Pinheiro considerou ser “insuficiente” para alojar os estudantes e ajudar também a "reduzir a inflação” que se “verifica no setor privado”.
O dirigente lembrou que, já em 2018, muitos foram os que só encontraram alojamento na periferia da cidade, em locais, em alguns casos, sem serviço de transportes públicos.
Além do mais, acrescentou, os preços praticados no alojamento privado “são elevados”, verificando-se um aumento de cerca de “50, 60 ou 70 euros” comparativamente com anos anteriores. “No segundo dia de matrículas encontravam-se quartos a 200, 220 euros, isto é muito preocupante”, salientou.
Apesar dos problemas sentidos em Vila Real, José Pinheiro referiu que nesta região do Interior o aumento de camas “foi nulo” e lembrou que, a 31 de agosto, o Governo noticiou um “aumento de 4% de camas”, no âmbito do Plano Nacional para o Alojamento do Ensino Superior, mas “essencialmente para Lisboa e Porto”.
No manifesto apresentado, os estudantes propuseram medidas como a “redução da tributação do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) aos proprietários de alojamentos arrendados a jovens estudantes”, a “dedução do IRS a estudantes deslocados” e a “criação de linhas de financiamento direcionadas às instituições de ensino superior para a construção e renovação de residências universitárias”.
Pediram ainda a “liberalização e criação de mecanismos às instituições de ensino superior para a obtenção de financiamento” e a “criação de uma rede de alojamento privada, para casos de urgência, subsidiada pelo Estado pela diferença sob o preço de alojamento de ação social”.
O reitor da UTAD, António Fontaínhas Fernandes, afirmou à agência Lusa que é preciso “encontrar o financiamento necessário para dar corpo aos projetos que já foram diagnosticados”.
No caso da UTAD, referiu que há duas soluções em cima da mesa, como o edifício do antigo CIFOP, onde poderão ser instaladas cerca de 180 camas, e ainda a antiga pousada da juventude, com mais 50 a 70 camas, espaços que precisam de ser requalificados.
“Ou há mecanismos de apoio direto, e teria que haver um financiamento do Estado através de PIDDAC [Programa de Investimento e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central], ou então permitir que as instituições possam ter acesso a outras linhas de financiamento e é este quadro que estamos a estudar”, salientou.
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