Apesar de conter apenas 9% da população mundial, a região é a única do mundo onde a principal causa externa de morte é o homicídio (52% das mortes). As cidades de Caracas, San Pedro Sula, San Salvador e Acapulco são as mais violentas, com taxas de homicídio de 10 a 20 vezes superiores à média mundial, acima de 80 para 100.000 habitantes.

Os índices de violência não diminuem apesar do desenvolvimento alcançado nos últimos anos. "Neste sentido, a região é uma anomalia", afirma o estudo "Crime e violência, obstáculos para o desenvolvimento das cidades da América Latina e Caribe", do BID.

Entre 2004 e 2014, a maioria dos países experienciou taxas de crescimento económico anual próximas de 4%, ao mesmo tempo que registou uma diminuição da pobreza. Os cidadãos também "estão mais saudáveis e alcançaram níveis maiores de estudo".

Mas "os indicadores mais reveladores de incidência criminosa, de vitimização e de percepção de insegurança mantiveram-se elevados". Outro fator relevante é a pouca confiança nas instituições, sendo, por isso, "necessário criar instituições eficientes, profissionalizar as polícias e aproximá-las dos cidadãos", ressaltou à AFP Nathalie Alvarado, diretora de Segurança Cidadã do BID.

Enquanto procura soluções, a América Latina tem se mantido como a região mais violenta do mundo: concentra 39% dos homicídios, contabilizando em menos de duas décadas mais de 2,5 milhões de homicídios, desses 75% cometidos com armas de fogo.

E o futuro não é promissor. Se a situação e a tendência foram mantidas, a taxa de homicídio vai passar de 22 assassinatos para cada 100.000 pessoas em 2017 para 35 em 2030.

A taxa de roubo também é elevada. Para cada 100.000 habitantes, a região regista 321,7 roubos, enquanto a média mundial é de 108.

Triste recorde

A rápida e desordenada urbanização, o estancamento da produtividade nas cidades e o desemprego juvenil são os fatores por detrás deste triste recorde, segundo o BID.

Na região, há 7,1 milhões de jovens desempregados e 15,1 milhões que não estudam nem trabalham. "As análises apontam que um aumento de 1% no desemprego juvenil conduz a um aumento de 0,34 na taxa de homicídio", indica o relatório.

Há ainda "uma banalização" da violência, adverte Lucia Dammert, especialista em temas de segurança da Universidade de Santiago. Soma-se a isso a presença do crime organizado - expresso em facções de tráfico de drogas, tráfico de pessoas e mineração ilegal -, além do elevado uso de armas de fogo, especialmente na América Central.

"Com esta presença de armas, há um aumento no uso da violência para acabar com os problemas cotidianos", explicou Dammert à AFP.

Soma-se a estes fatores a baixa legitimidade da polícia e da justiça. Apenas 20 de cada 100 homicídios resultam numa condenação, quase metade da taxa global de 43 por 100.

"Temos que criar sistemas que não sejam um obstáculo para a aplicação da justiça, porque é evidente a grande impunidade na América Latina", disse Alvarado. Essa sensação faz com que apenas 45% dos crimes sejam denunciados.

O relatório do BID, apresentado no âmbito da 10ª semana de Segurança Cidadã realizada em Santiago, no Chile, também alerta para o alto custo da criminalidade na região: 3,5% do seu PIB anual.

Para combater o crime, o BID recomenda respostas inovadoras centradas a nível municipal, na antecipação do crime e análise de dados em tempo real.

Fazer baixar os índices de insegurança "não é tarefa fácil, mas estamos a ver nesta semana da Segurança que muitas cidades da América Latina e muitos países baixaram as suas taxas de homicídios", notou Alvarado.

"O que precisamos agora é de descobrir quais foram os elementos que possibilitaram essas quedas" e assegurar que este conhecimento esteja disponível para toda a região, concluiu.