De acordo com o relatório "They Executed Some and Brought the Rest with Them: Civilian Lives at risk in the Sahel" (Executaram alguns e levaram o resto: Vidas civis em risco no Sahel), entre fevereiro e abril de 2020, soldados do Mali, Níger e Burkina Faso arrasaram povoados e mataram ou fizeram desaparecer pelo menos 199 civis.
Algumas destas mortes, considera a organização de defesa de direitos humanos, podem configurar execuções extrajudiciais, sendo que entre as vítimas se contam vários deslocados internos.
No Mali e no Burkina Faso, onde a situação é de conflito armado não internacional, a morte deliberada de civis pelas forças de segurança pode constituir crimes de guerra, sustenta a AI.
O relatório documenta violações dos direitos humanos cometidas durante a resposta militar à situação de insegurança nos três países, confrontados com a ameaça de grupos armados como o Grupo de Apoio ao Islão e aos Muçulmanos (GSIM) ou o Estado Islâmico no Grande Sara (ISGS).
A AI assinala que as violações se seguiram-se à cimeira de Pau, a 13 de janeiro, que reuniu em França os estados-membros do G5 Sahel, de que os três países fazem parte, e a França, e na qual os chefes de Estado reafirmaram a "determinação de lutar em conjunto contra a insegurança" na região.
No Mali, a Amnistia Internacional denuncia que, entre 3 de fevereiro e 11 de março, o exército maliano executou extrajudicialmente ou matou ilegalmente 23 pessoas e deteve ou submeteu a desaparecimento forçado 27 outras nas comunas de Diabaly e Dogofry.
A 16 de fevereiro, em Belidanedji, as forças de segurança executaram extrajudicialmente cinco pessoas, que foram enterradas pela comunidade, e prenderam outras 18, de quem nunca mais se ouviu falar, acrescenta a organização.
A Amnistia Internacional documentou também "graves violações" cometidas pelas forças de segurança no Burkina Faso, entre março e abril de 2020, adiantando que, em pelo menos duas ocasiões, as forças de segurança sujeitaram os civis, alguns deles deslocados, a desaparecimentos forçados antes de os matarem.
Num dos incidentes documentados pela Amnistia Internacional a 09 de abril, 31 residentes da localidade de Djibo, incluindo 10 deslocados internos, foram detidos e executados pelo Agrupamento de Forças Antiterroristas.
De acordo com a AI, o Governo reconheceu que tinham sido efetuadas execuções extrajudiciais e anunciou uma investigação da justiça militar.
No Níger, a organização afirma que 102 pessoas da região sudoeste de Tillabery foram presas e sujeitas a desaparecimento forçado pelo exército, entre 27 de março e 2 de abril, no âmbito da Operação Almahou.
Testemunhas, citadas pela AI, adiantaram que os soldados do Níger prenderam 48 pessoas a caminho de um mercado, em Ayorou, e outras 54 foram detidas pelas forças de segurança em diferentes locais.
De acordo com testemunhas, nenhuma destas pessoas é conhecida, tendo sido encontradas valas comuns em diferentes locais da região de Ayorou.
A repressão das forças armadas está igualmente a levar muitas pessoas a abandonarem as suas casas e aldeias.
"A insegurança reina na região do Sahel, onde as pessoas estão encurraladas entre ataques de grupos armados e operações militares. Dezenas de pessoas são arbitrariamente detidas pelas forças de segurança, algumas das quais nunca mais se ouve falar e desconhece-se a verdadeira dimensão das violações dos direitos humanos cometidas pelos militares", disse Samira Daoud, diretora regional da AI para a África Ocidental e Central.
A responsável da AI considera que a atuação dos governos dos três países se tem limitado da "promessas vãs" e sublinha a "necessidade urgente" de uma "investigação rigorosa" a estes incidentes.
Apelou também para a garantia de "segurança das populações durante as operações militares contra grupos armados".
Samira Daoud apontou, por outro lado, as responsabilidades dos parceiros internacionais neste cenário.
"É importante que os intervenientes regionais e os parceiros internacionais tomem uma posição firme contra estas violações dos direitos humanos e exortem as autoridades dos três países a garantirem que sejam tomadas todas as medidas necessárias antes, durante e após as operações, para evitar danos a civis e novos abusos", sublinhou.
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