"É com gratidão e humildade e com grande sentido de responsabilidade que me apresento hoje", afirmou o novo Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, na sua primeira declaração após ser aclamado pela Assembleia-geral da ONU.
Guterres disse à Assembleia que quando tomou conhecimento da sua recomendação pelo Conselho de Segurança recebeu a notícia com "humildade e gratidão", à qual acresce agora um "sentido de responsabilidade".
"O verdadeiro vencedor hoje é a credibilidade das Nações Unidas", disse o ex-primeiro-ministro português, salientando a transparência do processo de candidatura. "Enquanto Secretário-Geral devo estar ao serviço de todos da mesma forma", salientou, acrescentando que a sua única missão "é fazer vigorar a Carta das Nações Unidas".
Guterres disse ainda que está "ciente dos desafios que se colocam" às Nações Unidas e as "limitações do cargo" que vai ocupar. Pelo que isto deve "inspirar uma abordagem humilde". "Serei um construtor de pontes", prometeu. "As portas do meu gabinete estarão sempre abertas", acrescentou.
Guterres não deixou de salientar que a "promoção da dignidade humana" deve estar no centro da ação das Nações Unidas. A par desta prioridade está também a da promoção da igualdade de género.
"Acredito nas Nações Unidas", disse por a ONU "acredita nos valores fundamentais".
Guterres instou ainda a que fosse quebrada a ligação entre terrorismo e xenofobia e que se promovesse a paz no mundo. "Sem paz a vida é vazia de sentido" e a paz, a nível mundial, é escassa, lamentou.
O discurso terminou uma saudação a Ban Ki-moon e um agradecimento aos "incansáveis soldados da paz".
Em conferência de imprensa após a aclamação, António Guterres, afirmou, em Nova Iorque, que quer ser um "mediador honesto" na comunidade internacional.
"Farei o meu melhor nestes dois meses e meio para me preparar, conhecer os problemas e as divisões, para poder atuar como um mediador honesto, alguém que tenta reunir as pessoas para perceber quais são as diferenças e, mais importante, como se podem unir", disse Guterres aos jornalistas.
Questionado sobre o conflito na Síria, que é apontado como o seu primeiro grande desafio, o português disse que sente "uma grande solidariedade para com o povo sírio". "Fui Alto Comissário para os Refugiados e vi os sírios abrirem as suas fronteiras, as portas das suas casas e dos seus corações para milhões de refugiados que entravam. Ver o povo sírio a sofrer tanto é algo que absolutamente parte o meu coração", disse.
"O que posso dizer é que darei o meu melhor para servir a causa da paz para o povo sírio, mas agora, existe um secretário-geral da ONU a trabalhar para isso. Testemunho também o facto de que os países chave vão encontrar-se de novo e tentar avançar", disse, explicando que "é uma obrigação moral" de todos "parar o sofrimento do povo sírio".
António Guterres, que acabara de discursar em inglês, espanhol e francês, disse estar "profundamente comovido com a unidade e o consenso" mostrados pela Assembleia Geral e pelo Conselho de Segurança no processo que levou à sua indicação.
"Espero que esta unidade e consenso sejam simbólicos de que os organismos da ONU e a comunidade internacional como um todo são capazes de enfrentar os desafios de hoje e capazes de tomar atempadamente as decisões necessárias para fomentar a paz, terminar conflitos e criar as condições para que os direitos humanos sejam uma realidade para todos", disse o próximo secretário-geral.
Questionado sobre outros conflitos, António Guterres reafirmou o seu compromisso em ser um mediador para atingir soluções e alertou para os riscos que a falta de ação representa.
Os 193 países membros das Nações Unidas ratificaram hoje em Assembleia-geral, por aclamação, a escolha de António Guterres para liderar a organização, feita em 5 de outubro pelo Conselho de Segurança, o principal órgão decisório da ONU.
António Guterres, antigo primeiro-ministro de Portugal e ex-alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados, será, a partir de 1 de janeiro de 2017, o 9.º secretário-geral da ONU, com um mandato de cinco anos, sucedendo ao coreano Ban Ki-moon.
Comentários