António Pires de Lima, apoiante de João Almeida, subiu ao palco do 28.º Congresso do CDS para não deixar nada por dizer, e acabou vaiado por grande parte dos congressistas.
Numa conversa rápida com o SAPO24 e ainda a quente desvalorizou a reação da "franja radical", leia-se os apoiantes de Francisco Rodrigues dos Santos, e acusou-os de falta de cultura democrática. E lembrou o tempo de Manuel Monteiro, que começou bem e acabou mal.
Grande vaia. Sentiu-se ofendido ou incompreendido?
Foi clarificador do espírito de alguma intolerância, até para com as pessoas que estão no partido há muitas décadas, como eu.
Intolerância de quem?
De uma corrente que realmente quer tomar o partido em termos de liderança. Para mim não foi surpresa; a reação destes militantes veio confirmar aquilo que estava à espera: já estava à espera que esta franja mais radical, e que tem uma cultura democrática que precisa de ser apurada, reagisse assim à minha intervenção.
O que os divide, porque é que essa franja se sente tão à parte?
O motivo é serem provavelmente pessoas muito novas e que estão no seu percurso normal de aprendizagem. Isto faz-me lembrar o CDS Partido Popular de outros tempos.
Que tempos?
De Manuel Monteiro. Referi isso no meu discurso, quando em 1995 o CDS, também numa posição muito difícil, confiou no Dr. Manuel Monteiro - que numa primeira fase conseguiu realmente recuperar o partido, mas depois revelou a sua insegurança de líder e a ausência de uma cultura democrática forte, conduzindo o partido a uma enorme dificuldade em 1996/97.
Pode acontecer a mesma coisa, agora?
Acho que vai acontecer o mesmo se o Francisco [Rodrigues dos Santos] for eleito presidente do CDS.
E vai ser eleito?
Não sei, espero que não. Tenho muita esperança que o João Almeida possa ser o próximo líder.
O CDS tem de ser fiel à sua identidade, não tem de fazer nenhuma refundação do partido. Tem de ter a capacidade de juntar democratas cristãos, conservadores, liberais… Ser uma casa sedutora para todas as correntes de opinião. Depois, tem de ter propostas e prioridades claras, que possam ser identificadas facilmente pelo nosso eleitorado, de forma a recuperar a sua força e voltar a ser um partido na casa dos dois dígitos e relevante para qualquer solução governativa alternativa ao Partido Socialista.
Quando disse adeus, era para se despedir do CDS?
Não, era para me despedir deste congresso e dizer que façam o que fizerem continuarei no CDS.
Comentários