“A situação está fora de controlo. Escapa à nossa capacidade”, afirma Óscar Camps num vídeo gravado numa lancha frente ao navio humanitário “Open Arms”, gerido pela organização não-governamental espanhola como mesmo nome.
“A partir de hoje não nos podemos sentir responsáveis nem garantir a segurança dos 134 migrantes e dos 19 voluntários da tripulação que estão sequestrados no ‘Open Arms’, porque já é impossível manter a calma. A qualquer momento pode acontecer um motim e nós não o poderemos travar”, alertou.
“Há 100 maneiras de se automutilar numa embarcação como o ‘Open Arms’ e 100 maneiras de se suicidar a bordo. Já não temos capacidade nem podemos detê-los, muito menos controlar estas 134 pessoas”, disse, repetindo que as pessoas resgatadas têm “necessidade extrema” de assistência, assim como os voluntários, todos há 16 dias no mar.
Camps disse que na sexta-feira comunicou esta situação ao chefe do Governo espanhol, Pedro Sánchez, à chanceler alemã, Angela Merkel, ao Presidente francês, Emmanuel Macron, ao presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, e “a todas as autoridades italianas”.
O “número um” da ONG exigiu “o cumprimento” da resolução judicial italiana — que na quarta-feira autorizou o navio a aportar em Lampedusa -, frisando que ela “é em si um título suficiente não só para entrar em águas territoriais como para a retirada imediata das pessoas resgatadas e a prestação de assistência imediata”.
E apelou a Pedro Sánchez que “proteja os direitos dos cidadãos espanhóis que têm a seu cargo a segurança de pessoas num navio com bandeira espanhola sequestrado em águas italianas”.
O navio humanitário “Open Arms” resgatou a 01 de agosto 147 pessoas do Mar Mediterrâneo, mas o seu desembarque foi recusado pelos dois países mais próximos, Itália e Malta.
Há três dias, devido ao estado do mar ao largo de Lampedusa, o navio foi autorizado a entrar em águas territoriais italianas, mas impedido de aportar na ilha italiana.
Apesar de, na quinta-feira, seis países europeus, entre os quais Portugal, se terem oferecido para receber os migrantes a bordo do navio humanitário, atualmente 134, o Open Arms continua sem autorização do ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, para aportar.
Entre quinta e sexta-feira, 12 pessoas foram retiradas do navio por necessitarem de assistência médica urgente, permanecendo no navio 134 migrantes e 19 voluntários.
Na sexta-feira a Procuradoria de Agrigento, Sicília, abriu uma investigação por delito de sequestro contra desconhecidos para determinar por que razão os migrantes são impedidos de desembarcar, depois de a guarda-costeira italiana, num documento enviado ao Ministério do Interior, ter pedido “urgentemente” uma solução para o caso e assegurado que “não vê nenhum tipo de impedimento” ao desembarque.
Já hoje, a Procuradoria de Agrigento ordenou uma inspeção médica a bordo, para constatar as condições de higiene e saúde das pessoas a bordo.
Matteo Salvini, líder do partido de extrema-direita Liga, mantém a recusa e acusa a ONG de “provocação política”.
“Em 16 dias teriam chegado tranquilamente à vossa casa em Espanha. A batalha desta ONG é política, não é humanitária, travada sobre a pele dos imigrantes. Vergonha. Eu não me rendo”, escreveu hoje Salvini no Twitter em resposta a uma mensagem da Open Arms alertando para “o pesadelo” que se vive a bordo.
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