O uso da flora vaginal da mãe – com as suas bactérias benignas – em bebés nascidos por cesariana restaura o equilíbrio da microbiota intestinal da criança e é benéfico para o seu desenvolvimento neurológico, aponta um estudo publicado na revista Cell Host & Microbe.
No entanto, esta investigação, realizada com métodos rigorosos, baseou-se apenas em 68 crianças, noticiou a agência France-Presse (AFP).
Caso estes resultados sejam confirmados por estudos clínicos maiores, podem permitir que crianças nascidas por cesariana comecem em pé de igualdade com aquelas nascidas de parto normal, sublinhou Jose Clemente, coautor do estudo e investigador da Icahn Escola de Medicina Monte Sinai, em Nova Iorque.
"Se os resultados puderem ser generalizados para uma população maior, idealmente gostaríamos que isso fosse generalizado como padrão de tratamento", realçou à AFP.
Este estudo surge num momento em que as cesarianas estão a aumentar em todo o mundo, representando cerca de um terço dos nascimentos nos Estados Unidos, embora a Organização Mundial da Saúde estime que essa operação é clinicamente necessária em apenas cerca de 10 a 15% dos nascimentos.
Maior risco de contrair asma, alergias ou diabetes
Está estabelecido que crianças nascidas por cesariana têm uma microbiota intestinal muito diferente daquelas nascidas de parto normal, que recebem a flora bacteriana durante o parto por meios naturais.
Embora as diferenças tenham uma tendência a desaparecer por volta de um ano de idade, podem permanecer consequências a longo prazo, com maior risco de contrair asma, alergias ou diabetes.
No estudo, 32 bebés nascidos de cesariana foram ungidos com gaze embebida em fluido vaginal, enquanto outros 36 recém-nascidos, que fizeram parte de um grupo de controlo, receberam soro fisiológico.
As mães foram testadas com antecedência para garantir que não eram portadoras de doenças sexualmente transmissíveis e nenhuma criança experimentou qualquer impacto negativo sério como resultado do estudo.
Após seis semanas, os bebés que receberam secreções vaginais tinham uma microbiota intestinal mais "madura", mais próxima dos nascidos de parto normal do que os do grupo de controlo.
A equipa de investigadores também se propôs a estudar o desenvolvimento neurológico, aplicando um questionário padronizado aos 3 e 6 meses, perguntando às mães se os seus filhos poderiam, por exemplo, emitir sons simples ou gatinhar.
As crianças pequenas que receberam o tratamento e não o placebo geraram melhores resultados, quer aos 3, quer aos 6 meses.
“Acreditamos que isso se deve em parte ao fato de que certos micróbios produzem partículas químicas que podem afetar as funções cerebrais”, realçou Clemente, referindo-se a um campo de investigação em expansão.
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