Um juiz argentino formalizou, na passada quarta-feira, junto à Interpol, os pedidos de captura do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e de Diosdado Cabello, no âmbito de uma investigação por crimes contra a humanidade sob o princípio de "jurisdição universal", conforme informaram uma ONG e a imprensa local.
"Expedem-se ordens de detenção de Nicolás Maduro Moros e Diosdado Cabello (...) e forneça-se as capturas internacionais dos referenciais, via Interpol, com fins de extradição para a República Argentina", publicou o portal Infobae, citando a resolução do juiz federal Sebastián Ramos.
Por sua vez, o Foro Argentino para a Defesa da Democracia (FADD), parte queixosa no caso, instou, em comunicado, a Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) a "processar os alertas vermelhos para que os perpetradores desses crimes sejam detidos e possa haver justiça para as vítimas”.
A emissão das ordens de captura ocorre dois dias após a Câmara Federal instruir a prisão de Maduro com base no princípio de "jurisdição universal", que permite aos países processarem crimes contra a humanidade independentemente de onde tenham sido cometidos e da nacionalidade dos perpetradores ou das vítimas.
A Venezuela reagiu, argumentando que tal decisão violava “a jurisdição dos Estados e as imunidades e privilégios” dos altos funcionários.
As ordens contra Maduro e sua equipa decorrem de duas denúncias de 2023, durante o Governo de Alberto Fernández.
Naquele ano, a Fundação de George e Amal Clooney (CFJ) e, separadamente, a FADD denunciaram o governo da Venezuela por transparência aos direitos humanos perante a justiça argentina, citando o princípio de jurisdição universal. Ambas as reclamações foram, posteriormente, unificadas num único processo.
Na segunda-feira, a Argentina determinou a existência de "um plano sistemático de repressão, desaparecimento, provocado, de pessoas, tortura, homicídios e perseguição contra uma parte da população civil, desenvolvido - no mínimo - desde o ano de 2014 até ao ano presente".
A decisão foi divulgada poucas horas após a Venezuela confirmar a sua própria ordem de prisão contra o presidente argentino Javier Milei e outros altos funcionários do país, também acusados de crimes contra os direitos humanos.
A justiça argentina aplicou a jurisdição universal quando, em 2010, abriu um caso por crimes contra a humanidade a ocorrências em Espanha durante o mandato de Francisco Franco.
Em 2021, iniciou uma investigação sobre as acusações de crimes por parte de militares birmaneses contra a minoria muçulmana, e, em 2022, abriu uma investigação penal contra o presidente de Nicarágua, Daniel Ortega.
Outro precedente célebre da aplicação deste princípio ocorreu quando, em 1998, o ex-ditador chileno Augusto Pinochet foi detido, em Londres, após uma ordem do juiz espanhol Baltasar Garzón.
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