Havia pontos a esclarecer, pontos concretos, para o futuro próximo do Brasil. Em entrevista à TV Record, Bolsonaro levantou um pouco o véu acerca dos seus planos para os primeiros tempos. O novo presidente brasileiro quer diminuir a idade que permite uma pessoa ter licença de porte de arma e que o uso da mesma não seja só permitido dentro de casa. Bolsonaro defendeu ainda a saída da Venezuela do Mercosul e a escolha de Sérgio Moro para o Supremo Tribunal de Justiça ou para o Ministério da Justiça.

Para além das posições concretas acima assumidas, o presidente eleito procurou, novamente, moderar o discurso e falou da vontade em, ainda este ano, visitar os Estados Unidos.

“Arma de fogo mais do que garantir a vida de uma pessoa, garante a liberdade de um povo”

Durante a campanha eleitoral uma das ideias que mais marcou, a nível mediático, o programa político de Bolsonaro foi a vontade de alterar a lei da posse de arma. Na entrevista, o recém-eleito presidente afirmou que quer mexer na lei, “diminuir de 25 para 21 a idade” para poder ter licença de porte de arma, atribuir essa licença definitivamente e não impor restrições à utilização da mesma apenas à habitação, mas “flexibilizá-la”.

“Se um camionista andar armado e reagir a alguém que estiver roubando o seu estepe, ele vai dar o exemplo para a bandidagem. Atirou, o elemento foi abatido, em legítima defesa. Ele vai responder, mas não tem punição. Isso vai diminuir a violência no Brasil com toda a certeza”, deu como exemplo Jair Bolsonaro.

Para além disso, o futuro presidente do Brasil quer retirar o poder da atribuição da licença às autoridades, uma vez que neste momento, considera, o país está em “guerra” e por isso não é necessário avaliar quem precisa de ter uma arma. “Arma de fogo mais do que garantir a vida de uma pessoa, garante a liberdade de um povo”, disse.

“Pela cláusula democrática, nunca a Venezuela poderia ter entrado no Mercosul”

A Venezuela, país que o Bolsonaro tantas vezes trouxe à tona durante a campanha eleitoral para fazer analogia com as ambições socialistas do PT, veio à tona da conversa. O presidente eleito recorreu às palavras do seu, provável, futuro ministro das Finanças, Paulo Guedes, que defendeu que “ninguém quer implodir o Mercosul, mas queremos dar a devida estatura para ele”.

Nas suas próprias palavras, Bolsonaro disse que se quer soltar de “algumas amarras do Mercosul” e afirmou que “pelas cláusulas democráticas, a Venezuela não devia participar mais do Mercosul”.

“Pretendo [convidar Sérgio Moro], não só para o Supremo, quem sabe até para o Ministério da Justiça”

O rumor adensou-se após a eleição, fez as manchetes dos jornais na segunda-feira e ontem à noite, Bolsonaro, confirmou-o: existe a intenção de convidar Sérgio Moro, o juiz responsável pela prisão de Lula da Silva.

“Se tivesse falado isso lá atrás soaria oportunismo da minha parte. Eu pretendo sim [convidar Sérgio Moro], não só para o Supremo, quem sabe até para o Ministério da Justiça. Quero conversar com ele. Saber se há interesse dele nesse sentido também. Pretendo conversar com ele brevemente. E se houver interesse da parte dele, com certeza será uma pessoa de extrema importância num Governo como o nosso”, afirmou Bolsonaro.

O recém-eleito presidente esclareceu de seguida que vê não só Moro como uma possibilidade para o Supremo Tribunal de Justiça como também para ministro da Justiça.

Bolsonaro confirmou ainda que o novo ministro da Ciência e da Tecnologia, deverá ser o coronel Marco Pontes e disse ainda que recuou na ideia de aumentar o número de vagas do Supremo.

Trump, imprensa livre e um presidente para todos os brasileiros

A restante entrevista permitiu a Jair Bolsonaro um discurso mais moderado, de encontro com o que disse aquando do discurso de vitória, em que prometeu um governo "defensor da constituição, da democracia e da liberdade".

Afirmando que vai “ governar para 208 milhões de pessoas, não apenas em quem votou em” si, Bolsonaro disse que a “oposição é bem-vinda, a liberdade de expressão é sagrada e vamos fazer um Brasil diferente agindo dessa maneira”.

Numa inversão de discurso disse durante a entrevista que não lhe "interessa essa coisa da pele, opção sexual, região onde nasceu, género". "Somos iguais, como está no artigo 5º na Constituição”, sentenciou.

Bolsonaro falou ainda de Donald Trump, ele que tantas vezes foi apelidado de 'Trump dos Trópicos' pela imprensa. O presidente eleito disse que gostava de ir aos Estados Unidos da América ainda este ano, defendendo como meta "ampliar o comércio" com este país.

 "O período militar não foi ditadura como a esquerda sempre pregou"

Noutra entrevista, agora à Band TV, Bolsonaro negou que o Brasil tenha passado por um período de ditadura militar - regime que perdurou entre 1964 e 1985, altura em que a imprensa era censurada, os opositores políticos do regime eram presos e torturados e havia restrições à liberdade de voto - dizendo-se feliz por "hoje em dia, grande parte da população entender que o período militar não foi ditadura como a esquerda sempre pregou”.

Na mesma entrevista manifestou vontade de reduzir a maioridade penal para os 14 anos, mas admite que assim "dificilmente seria aprovada", apontando desta forma para um proposta concreta que assente nos 16 ou 17 anos de idade. "Pode ter certeza que reduzindo a maioridade penal, a violência no Brasil tende a diminuir”, defendeu.

Folha de São Paulo? “Por si só acabou. Não tem prestígio mais nenhum”

Em entrevista à Globo, após uma conversa que voltou a bater nos mesmos temas das anteriores, Jair Bolsonaro debruçou-se sobre a temática da liberdade de imprensa. Afirmando-se a favor da mesma, atacou a Folha de São Paulo que acusou de propagar fake news contar ele durante a campanha eleitoral. O jornal “por si só acabou. Não tem prestígio mais nenhum”, disse o presidente eleito.

"Quase todas as fake news que se voltaram contra mim partiram da Folha de S. Paulo. Inclusive a última matéria, onde eu teria contratado empresas fora do Brasil, via empresários aqui para espalhar mentiras sobre o PT. Uma grande mentira, mais um fake news do jornal Folha de S. Paulo, lamentavelmente", afirmou.

O capitão do Exército reformado, eleito no domingo, na segunda volta das eleições presidenciais, o 38.º Presidente da República Federativa do Brasil, com 55,1% dos votos, deu ainda entrevistas à SBT e à Rede TV.