O debate de 30 minutos moderado pelo jornalista Hugo Gilberto começou logo com a disponibilidade da Iniciativa Liberal para entrar numa solução governativa com a AD, liderada pelo atual primeiro-ministro, Luís Montenegro. "A Iniciativa Liberal está disponível para ser uma solução para o país" e por isso o partido quer “ter o crescimento eleitoral que corresponde ao valor das propostas”, começou por salientar Rui Rocha.
Querem um “país a crescer”, “ultrapassar o país dos salários de mil euros” e “trazer a visão de esperança e futuro”. Para isso quer descer “impostos para as pessoas e para as empresas”, e é aqui que as suas propostas se separam do oponente Pedro Nuno Santos. “Nós queremos que as pessoas possam escolher se querem investir, poupar, gastar, consumir”, refere.
Pedro Nuno Santos, sem apresentar grande dedicação a este debate e confiante que os portugueses vão escolher o PS nas próximas eleições, refere o caso que levou à queda do governo, relacionado com Luís Montenegro, deixou de ser prioridade no seu discurso. “A nossa prioridade sempre foi falar dos problemas do país", diz.
“A seriedade de Montenegro tem tradução na forma como o Governo se comporta”, acrescenta, voltando aos exemplos do IRS (em 2024 e em 2025), referido com frequência durante a campanha política. Diz ainda que um seu conhecido no ano passado recebeu dois mil euros e neste ano terá de pagar mil euros.
“Luís Montenegro tem dito que precisamos de adultos na sala, eu diria que precisamos de gente séria na sala”, refere.
Sobre o seu partido, diz que o PS mostrou “sentido de responsabilidade “ao longo do último ano e que não foi a IL que viabilizou o OE, mas o PS". Sobre o que fará no dia seguinte às eleições, repete que “a única alternativa à AD é o PS ganhar eleições”.
No programa do PS “não há nenhuma descida do IRS”
O presidente da IL reagiu às posições de Pedro Nuno Santos e referiu que se está a “lamentar” quando no programa do PS “não há nenhuma descida do IRS”.
“Quem quer governar tem de confrontar-se com o seu próprio passado”, e o debate segue para temas relacionados com a habitação e a ferrovia, que esteve na tutela de Pedro Nuno Santos quando era ministro das Infraestruturas. Falou ainda do problema da TAP, atirou ao oponente que aprovou “500 mil euros aprovados por WhatsApp para uma indemnização” e, no aeroporto, acabou a pedir desculpa pela “imprudência”.
“A visão do liberalismo em que nos revemos é do liberalismo europeu”, garantiu ainda, quando confrontado com as políticas do Presidente da Argentina Javier Milei, recusando “fantasmas”.
Ainda na questão do radicalismo, Pedro Nuno Santos garantiu também: “Eu nunca fui um radical de esquerda”. O debate segue depois novamente para a habitação e ferrovia.
“Tenho muito orgulho no trabalho na TAP, que hoje é uma empresa lucrativa”, disse o líder do PS, e atira que Rui Rocha “não tem experiência governativa” e “não tem nada para mostrar, nem de bom nem de mau”.
Quanto à moderação, insiste que “não há um exemplo de propostas políticas que tenha defendido que possam ser apelidadas de radicais” e que o seu “posicionamento político é o mesmo”. “Já a IL não pode dizer o mesmo”, sublinha Pedro Nuno Santos. “Quando oiço Rui Rocha dizer que quer fazer avançar Portugal é fazer avançar Portugal contra uma parede”.
Por sua vez, Rocha contra-ataca nesta fase com a TAP: "Demorará 60 anos a devolver aos contribuintes portugueses”.
“É com a motosserra do Milei que vai cortar no SNS e na escola pública”
Sobre aceleração económica, Rui Rocha diz ainda que essa permitirá recuperar “20 a 30% da perda de receita”, o que leva a mais uma interrupção de Pedro Nuno Santos: “É com a motosserra do Milei que vai cortar no SNS e na escola pública”, refere.
Quanto a uma questão internacional sobre as tarifas de Trump, o líder liberal explica que “a guerra tarifária prejudica todos” e que “a desaceleração económica trará consequências para todos”. “Politicamente, entendo que se faça uma ação cirúrgica para que Trump perceba o caminho errado que está a levar”. Quanto aos apoios, diz que considera que “é precipitado”.
O debate segue depois para uma zona em que ambos os líderes estão de acordo, nomeadamente nas críticas ao governo da AD no que diz respeito à habitação.
“O que precisamos é de estimular a oferta para jovens da classe média”, defende Pedro Nuno Santos, e que a baixa do IVA deve ser só para habitação para quem precisa. “A resposta da Iniciativa Liberal é uma resposta errada”, diz.
Quanto ao pacto de medidas em relação às tarifas, apresentado esta tarde pelo Governo, Pedro Nuno sublinhou que não conhece o plano e diz que a AD devia ter tido “o cuidado de articular com um outro partido que pode ganhar eleições” um “compromisso daquela magnitude”. “Um plano era fundamental ser apresentado para dar confiança à economia”, acrescenta.
Seguem depois para o tema da eficiência do Estado e Rui Rocha aponta que “há áreas onde o Estado não deve estar” e é necessário “eliminar duplicações e redundâncias e burocracia”.
“É preciso focar o Estado nas suas áreas essenciais para que o faça bem”, diz ainda, exemplificando com defesa, saúde e educação. “Queremos mais saúde, habitação e educação…”, refere, o que leva Pedro Nuno Santos a ironizar: “Com menos impostos”.
Pedro Nuno Santos neste ponto concorda com Rui Rocha quanto a “eliminar as redundâncias”, mas que a IL quer criar uma nova estrutura para tratar da eficiência do Estado.
Para Pedro Nuno, esta deve ser uma instrução dada pelo primeiro-ministro aos ministro e não criar uma estrutura, “qual motosserra que corta Estado Social ao meio”.
“Um político que se apresenta com a palavra confiança, mas que apresenta um cenário orçamental sem qualquer adesão à realidade que conhecemos… não bate a bota com a perdigota”, refere Pedro Nuno Santos.
O debate passa por questões como a injeção de capital em 2023 na CP e a privatização da RTP, com a IL a sublinhar a transferência anual dos OE de 200 milhões de euros, “sem explicar que esse financiamento é feito através da contribuição audiovisual”.
O presidente da IL defende depois que é preciso baixar os impostos da construção para 6%, o que leva Pedro Nuno Santos a questionar se é para baixar para se construirem “casas de um milhão de euros”.
“Pedro Nuno Santos tem zero resultados na solução da crise da habitação, vem na tentativa para enganar, mas trouxe um fundo de reabilitação em que foram pagos 3 milhões de salários sem que o projeto tivesse avançado”, argumenta Rui Rocha.
“Pedro Nuno Santos descobriu que é bom baixar impostos, aprendeu com a IL, mas aprendeu a melodia, não a letra”, aponta, o que gera risos do lado do líder socialista. Rocha explica que o PS quer baixar IVA dos bens alimentares e diz que pretende descer impostos “por via do consumo”.
Resolver a calvície "baixando impostos"
Já na fase final do debate voltam a falar de impostos, com Pedro Nuno Santos a dizer que já previa défice para 2o26, por causa do PRR. “O cenário do PS é cauteloso, assenta num património de contas certas que queremos conservar”, argumenta.
Diz ainda que Rui Rocha acaba por propor sempre reduções fiscais de impostos como “solução mágica” e ironiza: “Se perguntarmos a Rui Rocha como se pode resolver o problema da calvície em Portugal, tenho a certeza que dirá que é baixando um imposto”.
Rui Rocha responde que: “E Pedro Nuno Santos diz que o problema da calvície se resolve com mais Estado, mais despesa, menos dinheiro no bolso dos portugueses”. O socialista sublinha que não é a sua “solução para todos os problemas”.
Síntese do debate:
Ética e Conflito de Interesses
O debate começou com uma breve referência ao caso de Luís Montenegro com a empresa Spinumviva, mas rapidamente foi afastada da discussão, com Rui Rocha a dizer inclusivamente "não falemos de quem não está presente”. Já Pedro Nuno Santos diz que a prioridade do PS é "falar dos problemas do país" e que "a seriedade de Montenegro tem tradução na forma como o Governo se comporta”, mas no geral mal tocam neste assunto durante todo o debate.
Gestão da Saúde
Tirando no que à contribuição de impostos diz respeito, a saúde não foi tema deste debate. “Queremos mais saúde, habitação e educação…”, diz Rui Rocha, o que leva Pedro Nuno Santos a ironizar: “Com menos impostos”.
Política Fiscal
O principal tema do debate, com claras divergências nesta matéria nos dois partidos, que se acusam de radicalismo de parte a parte. Por um lado, Pedro Nuno Santos diz que a IL quer usar "a motosserra do Milei", por outro, Rui Rocha diz que "Pedro Nuno Santos diz que o problema da calvície se resolve com mais Estado".
Investimento em defesa
Outro tema em que tocam levemente no final do debate motivados pelo moderador. Por um lado, Rocha entende que “a defesa é uma questão importante” e que “temos de investir mais em defesa”, isto até porque acredita que a “área da defesa pode permitir uma reconversão da economia portuguesa para áreas de maior valor acrescentado”. Já Pedro Nuno Santos comentou brevemente o consenso com o PSD para aumento da despesa em Defesa e diz que “lá fora é preciso unidade”, e que quem olhe para Portugal veja que “mesmo com alteração no Governo não se altera o posicionamento em matéria de política externa”.
Habitação
A habitação foi também um dos grandes temas do debate, muito relacionada com a política fiscal, do qual nunca se afastaram. Pedro Nuno Santos defende que “o que precisamos é de estimular a oferta para jovens da classe média", e que a baixa do IVA deve ser só para habitação para quem precisa. Já Rui Rocha insiste em "menos impostos”, nomeadamente baixar o IVA da construção para 6%.
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