Este documento, bem como um outro intitulado “Aditamento à Memória sobre um Novo Aparelho de Sinaes Eléctricos”, proposto ao Comando da Divisão da Reserva, em agosto de 1899, foram descobertos na documentação avulsa “Processos de Oficiais da Armada – Classe Marinha”, que pode ser consultada no Arquivo Histórico da Marinha (AHM), anunciou hoje a Armada, em comunicado.
Este ano celebram-se os 150 anos do nascimento do almirante Carlos Viegas Gago Coutinho, que foi um cientista e um dos empreendedores, com Sacadura Cabral, da primeira travessia aérea do Atlântico Sul, em 1922.
Em 2014, o historiador Rui Miguel da Costa Pinto, autor de uma biografia do almirante, chamou a atenção para a “documentação não catalogada ou inventariada” relativa a Gago Coutinho, e que se encontrava dispersa por vários organismos, como o AHM ou a Sociedade de Geografia de Lisboa, entre outros.
“Gago Coutinho contribuiu de forma irrepreensível para a cultura científica dos séculos XIX e XX, dando-lhe projeção internacional, não se limitando ao cinzentismo de um país amarrado a preconceitos ideológicos”, salienta o investigador na sua obra “Gago Coutinho. O último grande aventureiro português”, publicada pela Eranos.
Referindo-se ao cientista e aventureiro nascido em Lisboa, em 1869, Costa Pinto atesta: “O facto de, durante 50 anos, a figura de Gago Coutinho ter sido analisada, sobretudo pelo seu contributo para a travessia aérea de Lisboa ao Rio de Janeiro, e não pela sua importância enquanto homem da ciência, é uma falha na nossa historiografia, muito aproveitada pelos regimes políticos vigentes até aos dias de hoje”.
Quanto à travessia aérea, o historiador refere que Gago Coutinho desvalorizou o feito, tendo afirmado que não foi mais que um episódio da sua vida, e realçou que tanto ele como Sacadura Cabral eram geógrafos.
“Não esqueçam que eu e Sacadura Cabral éramos geógrafos”, escreveu Gago Coutinho, citado pelo seu biógrafo. “Estávamos habituados a tratar com astros e ter uma vida arriscada. Aquilo que fizemos não foi mais do que a continuação da nossa vida de geógrafo”.
Anteriormente, em 1921, Gago Coutinho, como navegador, efetuou com Sacadura Cabral uma viagem aérea experimental de Lisboa ao Funchal.
Gago Coutinho, que morreu em 1959, no seu apartamento na rua da Esperança, no bairro lisboeta da Madragoa, “foi um grande expoente da lusofonia”, escreve Costa Pinto, referindo que, de “forma incansável, realizou conferências e palestras em academias e instituições altamente prestigiadas no estrangeiro, mas também em círculos de emigrantes espalhados pelo mundo fora, de forma abnegada e desinteressada do ponto de vista económico”.
Politicamente, Carlos Viegas Gago Coutinho definiu-se como monárquico, “mas, mais tarde, abraçou os ideais republicanos, que acabaria por deixar de corresponder às suas expectativas, pela instabilidade política entretanto verificada”.
Segundo o historiador, que o cita, “afirmava-se como um ‘nacionalista liberal’, que nunca se tinha filiado ‘em partidos para ser mais livre de pensar, contra ou a favor dos governantes’”. O almirante confessava-se “mais democrático que autoritário”, nas suas próprias palavras.
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