Muitas vezes as arritmias não causam sintomas e grande parte da população desconhece os seus riscos, nomeadamente a “morte súbita”.
Nos casos de morte súbita registados, há 12.000 tentativas de ressuscitação, através da aplicação de manobras de reanimação cardiopulmonar, mas apenas 681 pessoas chegaram vivas ao hospital, disse o cardiologista Francisco Moscoso Costa, do Hospital de Santa Cruz, num encontro com jornalistas, em Lisboa.
Em mais de metade dos casos (57%) não foi realizada qualquer manobra de reanimação até à chegada de meios de socorro, adiantou o cardiologista, lembrando que as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte em Portugal.
“Tiram a vida a 33.443 pessoas por ano”, representando 29,7% da mortalidade em Portugal, num impacto superior a 330 milhões de euros para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), vincou Francisco Moscoso Costa.
Em declarações à agência Lusa, o cardiologista explicou que a fibrilhação auricular é a arritmia mais prevalente no ser humano, sendo muito frequente acima dos 65 anos, uma população em que o risco de acidente vascular cerebral aumenta muito quando há fatores de risco associados.
“Quando há uma morte súbita num atleta isso é muito mediático e nós estamos muito alerta, mas na realidade a grande parte da morte súbita ocorre acima dos 40 anos e é derivada de fatores de risco cardiovasculares comuns, como o sedentarismo, o tabagismo, a dislipidemia (aumento de gordura no sangue), tensão arterial elevada e diabetes”, sublinhou.
Para o cardiologista, é importante alertar a população para o facto de que “15 a 30% dos doentes não têm qualquer sintoma”.
Nestes casos, a única maneira da arritmia ser diagnosticada é através da medição da pulsação, seguida da realização de um eletrocardiograma.
Também é importante alertar a população para que “a ausência de sintomas não quer dizer que a pessoa não esteja em risco e acima dos 65 anos as pessoas devem estar alertadas para isto”, afirmou Francisco Moscoso Costa.
Para quem já foi diagnosticado e começou o tratamento, “é importante” que o doente não abandone a terapêutica para controlar a arritmia, porque ao fazê-lo corre o risco de ter eventos como um acidente vascular cerebral.
“Outra mensagem é que não basta apenas tomar a medicação ou fazer as medidas de intervenção recomendadas pelo seu médico, é muito importante também adotar estilos de vida saudáveis”, como perder peso, atividade física regular moderada, alimentação saudável, porque vai contribuir para diminuir o risco de eventos futuros a aumentar a qualidade de vida das pessoas com arritmia.
O presidente da Associação Bate Bate Coração, Carlos Morais, adiantou, por seu turno, que “é importante que os doentes saibam que podem ter uma vida completamente normal” com um ‘pacemaker’.
Segundo o diretor do Serviço de Cardiologia do Hospital Fernando Fonseca, há entre 100 a 200 mil doentes com este tipo de dispositivos que estão acessíveis em hospitais com serviço de cardiologia.
“Já existe uma cobertura nacional vasta que permite que dentro do Serviço Nacional de Saúde seja uma terapêutica acessível a todos os doentes”, o cardiologista à Lusa.
Carlos Morais assinalou os “imensos progressos tecnológicos” feitos na saúde, a nível de produtos de diagnóstico, novos medicamentos e dispositivos médicos, que “podem aumentar a sobrevida e a qualidade de vida dos doentes”.
“Mas também é importante que tenhamos doentes com maior literacia para a saúde, com maior conhecimento, com maior capacidade de gestão do seu próprio processo de doença e de saúde”, frisou Carlos Morais.
[Notícia corrigida às 19h41 - A causa da morte de 12 mil portugueses por ano é a morte súbita cardíaca e não as arritmias cardíacas, como referia a notícia inicialmente. No quarto parágrafo, a ausência de manobras de reanimação refere-se à chegada de meios de socorro e não à chegada ao hospital]
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