O presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação (APEE) da Escola Básica do 1.º Ciclo e Jardim de Infância do Montenegro (Faro) lamentou à Lusa que os pais tenham sido “apanhados de surpresa”, sem saberem “como vão fazer nestes dias”, sugerindo que a decisão deveria ter sido comunicada “na sexta-feira” para dar tempo aos pais de se prepararem.
Segundo João Geraldes, alguns encarregados de educação manifestaram “estranheza” pelo facto de o pré-escolar “se manter a funcionar, quando os 1º e 2º ciclos são mandados para casa”, ao abrigo de uma decisão que abrange os cinco municípios do Algarve Central: Faro, Olhão, Albufeira, Loulé e São Brás de Alportel.
Tendo em conta que a suspensão das aulas por 12 dias termina justamente no primeiro dia de férias definido no calendário escolar, em 09 de julho, a associação questiona-se se o ano letivo será dado como terminado, deixando, no entanto, a dúvida se não haveria turmas com “avaliações marcadas para esta semana”.
Aquele responsável adiantou ainda que, “desde ontem [domingo] à noite”, as estruturas representativas dos pais têm tentado perceber o que podem fazer, apesar de já terem conhecimento de que as aulas ‘online’, na generalidade dos casos, “só vão começar na terça-feira”.
No domingo ao final da tarde, a Autoridade de Saúde do Algarve anunciou a decisão de passagem ao ensino não presencial, a partir de hoje e até ao final do ano letivo, nas escolas do 1.º e 2.º ciclos daqueles cinco municípios, devido à “gravidade da situação” epidemiológica.
Também a presidente da APEE da Escola Básica da Lejana (Faro), adiantou que, apesar de terem sido “apanhados de surpresa”, os pais dos alunos daquela escola “não estão indignados com a situação”, realçando que “muitos são da área da saúde e, vendo a evolução da situação, se sentem mais seguros” assim.
“Claro que é difícil haver uma reorganização para hoje quando apenas tivemos conhecimento da suspensão às nove da noite de ontem [domingo]”, sublinhou Sandra Costa e Espada, quando questionada sobre os constrangimentos na reorganização das atividades letivas em tão curto espaço de tempo.
A APEE do Agrupamento de Escolas Professor Paula Nogueira (Olhão) assumiu, em comunicado, a sua “perplexidade” perante a situação, que, considera, “não trará benefícios para nenhuma das partes envolvidas, sejam os alunos, os encarregados de educação ou os professores”.
Considerando que passar novamente para um regime diferente de ensino será “um embate para as crianças”, aquela estrutura assumiu-se “frontalmente contra o prolongamento do ano letivo até ao dia 08 de julho”, exigindo o “término imediato da atividade letiva”.
Já a proprietária de um centro de Atividades de Tempos (ATL) em Faro revelou à Lusa ter tomado conhecimento do comunicado através de “partilhas nas redes sociais”, no domingo à tarde, tendo contactado alguns agrupamentos que “ainda não sabiam” da existência do documento.
Para Ana Duarte, não sendo um estabelecimento de ensino, o documento “não os abrange”, sublinhou, acrescentando ter tentado durante a manhã contactar a Segurança Social, entidade que tutela a sua atividade, para saber se podem “abrir ou não”.
“Até agora, oficialmente não tenho nada que me indique que tenho de fechar, mas também não temos de nos substituir à escola e nem iria incentivar que as crianças faltassem, já que a sua obrigação agora é estarem na escola, seja ela presencial ou ‘on-line'”, referiu.
Aquela responsável disse ainda desconhecer se os ATL poderão estar abertos, defendendo que não faz sentido “obrigarem as escolas a fechar e continuar tudo o resto aberto”, nomeadamente, estruturas onde há alunos de “diversos estabelecimentos de ensino”.
Em declarações hoje à Lusa, a delegada de Saúde do Algarve afirmou que a decisão começou a ser pensada no sábado de manhã, por se estar “a isolar cada vez mais salas”, mas a articulação entre todas as estruturas envolvidas levou algum tempo e as autoridades queriam “aproveitar o efeito da paragem” das aulas no fim de semana.
Questionada sobre o facto de haver ATL que optaram por não iniciar hoje atividades, Ana Cristina Guerreiro reconheceu ter conhecimento da situação, que atribuiu a eventuais “dificuldades de organização”, sublinhando que podem depois abrir, “dando resposta à necessidade das pessoas”.
A região do Algarve é a que apresenta o índice de transmissibilidade (Rt) do vírus SARS-CoV-2 mais elevado no país, com 1,3, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) na sexta-feira.
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