Em declarações à Lusa, Vítor Ferreira (PS) afirmou que participaram no encontro sete das nove associações que têm atividade reconhecida no bairro, e ainda o presidente da Junta de Freguesia de Alfragide, no sentido de encontrar soluções para os problemas identificados no bairro e “criar políticas do ponto de vista municipal ou levar a mensagem” ao Governo, no caso de temas nacionais.
Entre os problemas identificados, segundo o autarca, estiveram sobretudo questões sociais e de habitação, mas também “algumas questões relativamente à polícia de proximidade, que há algum tempo que não acontece”.
“Preocupa-nos a todos muito, porque mesmo as associações [que] estão ali há anos nunca viram o bairro assim, e é o que me dizem. É um bairro que lida com pessoas de bem, trabalhadoras, são cerca de quatro mil residentes no bairro, e depois, por desacatos e tumultos de 30 ou 40 jovens, acaba-se por transmitir uma imagem do bairro que não é essa imagem. Aliás, a própria comunicação social não tem indicação de tumultos ou de qualquer coisa desta natureza no bairro há anos”, acrescentou.
No caso da habitação, o autarca destacou que é preciso “uma aproximação” à Administração Central tendo em conta que a maioria das casas sociais do bairro depende do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU).
“É preciso também integrar os jovens, no fundo. Houve também aqui um enfoque na questão dos jovens e na preocupação dos problemas que os jovens têm relativamente ao mercado de trabalho, que muitos deles não têm mercado de trabalho que dê resposta. E, portanto, é preciso trabalhar isso. Família a família, ponto a ponto”, considerou.
O autarca sublinhou que, no momento atual, aquilo que mais o preocupa “é dar resposta imediata aos tumultos da noite para que tudo volte à normalidade e que o espaço público seja devolvido a quem lá reside”.
“Todos os dias da manhã temos equipas de limpeza que limpam todos os vestígios, estamos com problemas relativamente às questões da deposição de resíduos, uma vez que os contentores que foram incendiados - e a nota que tenho no bairro do Zambujal já foram 60 entre estas duas noites”, disse, destacando que teve de retirar o autocarro incendiado na terça-feira à noite, que estava a ocupar duas vias e a impedir o tráfego normal no bairro.
“Preocupam-me também os danos que estes grupos fazem no património público e no património privado. Por exemplo, na cidade, esta noite foram incendiados e vandalizados alguns carros, muitos deles fora do bairro do Zambujal e alguns deles até numa ponta totalmente diferente da nossa cidade”, acrescentou.
O autarca afirmou que transmitiu hoje à ministra da Administração Interna a necessidade de mais reforço policial e destacou que Margarida Blasco estará presente na quinta-feira na reunião do Conselho Metropolitano de Lisboa, com os autarcas da Área Metropolitana, no sentido de serem encontradas soluções, quer do ponto de vista municipal, quer do ponto de vista nacional.
Odair Moniz, 43 anos, cidadão cabo-verdiano, e morador no Bairro do Zambujal, na Amadora, foi baleado por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira, no Bairro da Cova da Moura, no mesmo concelho, e morreu pouco depois, no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.
Segundo a PSP, o homem pôs-se “em fuga” de carro depois de ver uma viatura policial e “entrou em despiste” na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, “terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca”.
A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e exigiram uma investigação “séria a isenta” para apurar “todas as responsabilidades”, considerando que está em causa “uma cultura de impunidade” nas polícias.
A Inspeção-Geral da Administração Interna abriu um inquérito urgente e também a PSP anunciou um inquérito interno, enquanto o agente que baleou o homem foi constituído arguido.
Desde a noite de segunda-feira foram registados desacatos no Zambujal e, já na terça-feira, noutros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, onde foram queimados dois autocarros, automóveis e caixotes do lixo, e detidas três pessoas. Dois polícias receberam tratamento hospitalar devido ao arremesso de pedras e dois passageiros dos autocarros incendiados sofreram esfaqueamentos sem gravidade.
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