“Sentámos à mesa os responsáveis [das entidades com competência nesta área e] complementámos as redes de monitorização já existentes com a colheita e análise em novos pontos de massas de água para as quais o atual estado químico ainda era desconhecido por não terem sido ainda avaliadas”, afirma José Paulo Monteiro, um dos responsáveis do projeto.
Segundo o também professor universitário e investigador, o projeto Valagua pretende “contribuir para a articulação das redes” de monitorização da qualidade de água que já existem nos dois lados da fronteira.
“Parece uma coisa simples, mas não é”, afiança, em declarações à agência Lusa, o coordenador das equipas de investigação de uma das vertentes do projeto Valagua e também professor de hidrologia, hidrogeologia e gestão de recursos hídricos na Universidade do Algarve.
Através do projeto, assinala, “foram feitas colheitas em vários locais, discutiram-se os critérios de qualidade e as possibilidades de harmonização dos sistemas de classificação vigentes em ambos os países”.
O Valagua – Valorização ambiental e gestão integrada da água e dos habitats no Baixo Guadiana transfronteiriço conta com um orçamento de cerca de um milhão de euros e tem como beneficiário principal a Associação de Defesa do Património de Mértola (ADPM).
De acordo com os promotores, o projeto, que se debruça também sobre outros aspetos da gestão da água transfronteiriça, envolve as universidades de Huelva e do Algarve e as autoridades responsáveis pela gestão de recursos hídricos de ambos os países.
Iniciado em 2017 e com data de conclusão prevista para o final deste ano, o projeto tem financiamento da União Europeia, no âmbito do Programa Europeu de Cooperação Transfronteiriça INTERREG VA Espanha-Portugal (POCTEP), e abrange o Alentejo e o Algarve, em Portugal, e a Andaluzia, em Espanha, na área a jusante do Alqueva.
Também em declarações à Lusa, a coordenadora do Valagua, Maria Bastidas, explica que o projeto procura “melhorar a cooperação para gestão da água e da biodiversidade associada à água no traçado transfronteiriço no Baixo Guadiana”.
Uma das principais vertentes, sublinha, foi o levantamento de informação relativa à “realidade quantitativa e qualitativa da água, problemas e dificuldades, e a diferença comparativa entre a gestão que é feita num lado e no outro lado da fronteira”.
Mas o Valagua é mais abrangente, realça Maria Bastidas, indicando que o projeto abrange um segundo grupo de atividades ligado à conservação e biodiversidade e outros dois relacionados com o turismo e com análise de políticas.
Segundo a coordenadora, a primeira ação do projeto “foi bastante interessante”, porque “permitiu à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) aumentar o número de amostragens que estavam a ser feitas” no Baixo Guadiana.
“É muito importante para conseguirmos ter uma noção exata da qualidade e quantidade da água”, assinala, referindo tratar-se de monitorizações em que são partilhados “parâmetros e indicadores” pelos dois países, o que permite “ter melhorar transparência e conhecimento único sobre este recurso vital”.
José Paulo Monteiro, que coordenou as equipas de investigação desta vertente do projeto, diz que os dois países já têm planos de gestão da bacia hidrográfica do Guadiana, mas destaca que o Valagua deu “um novo impulso” para a harmonização de critérios para análise qualitativa e quantitativa da água.
“Sob o ponto de vista utópico e perfeito, o que está definido nas diretivas [internacionais] é que deveria ser feito um plano de gestão conjunto, mas, como isso não existe e não se antevê que exista tão depressa, é necessário harmonizar princípios nas zonas transfronteiriças”, adverte.
No seu entender, o Valagua conseguiu algo que “é inovador”, porque “não se tem feito isto com muita frequência, sobretudo na parte qualitativa, mas na parte quantitativa” a articulação entre os dois países “tem mais de 100 anos de história”.
No âmbito deste projeto, foram feitas “análises químicas em várias massas de água que não eram monitorizadas”, nomeadamente em ribeiras de água doce e na “parte de transição” do rio Guadiana, entre a foz e a zona de Alcoutim.
“Há uma coisa desde o tempo dos romanos que é uma atividade mineira que faz com que existam problemas de contaminação com metais muito graves em muitos sítios”, revela, indicando que as análises permitiram também detetar “mau estado” da água noutros locais.
Os problemas identificados estão relacionados com “má rega e atividade agrícola mal dimensionada” e com “a falta de saneamento básico ou que não é suficientemente eficaz”, além do “passivo ambiental resultante de séculos de atividade mineira, que provoca problemas relacionados com a concentração de metais relativamente elevada”, adverte.
Contudo, José Paulo Monteiro ressalva que o estado da água “tem a ver com determinadas concentrações de determinadas substâncias” e que “o mau estado não quer dizer que se alguém beber um copo de água fique doente”.
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