"O programa de Governo está desenhado para dar tudo a poucos, e precisamente porque dá tudo a uma pequena elite esquece uma maioria do nosso povo", defendeu Fabian Figueiredo, no encerramento do debate do Programa do Governo minoritário PSD/CDS, no parlamento.

O bloquista considerou que o documento apresentado - e sobre o qual o partido já apresentou uma moção de rejeição - "é no essencial vago, não poucas vezes incoerente difuso e frágil" e representa "a chave do euromilhões para as grandes empresas".

"Por todas as razões, neste parlamento e fora dele, rejeitamos esta má política e é nesta rejeição que encontraremos as razões para construir uma alternativa de esquerda, ecologista, solidária e de liberdade. Essa alternativa chegará mais cedo do que tarde", considerou.

Na sua intervenção, o líder parlamentar bloquista criticou o primeiro-ministro por ter passado o primeiro dia de debate do programa “a ameaçar a queda do seu próprio governo, mas chegado ao fim do dia não apresentou uma moção de confiança”.

O BE deixou também críticas aos socialistas, salientando que a bancada do PS “afirma-se na oposição mas diz que se oporá às medidas do programa”, sem votar a favor das moções de rejeição apresentadas por bloquistas e comunistas.

“Acresce a isto que assistimos a um episódio da novela bem portuguesa ‘agarrem-me senão vou-me a eles’ do doutor André Ventura, pois claro – ou dito de outra forma: arranjem-me uma secretaria de Estado que eu mudo-me de malas e bagagens para fazer ‘tik toks’ na presidência do Conselho de Ministros”, ironizou.

O dirigente criticou também a política económica contida no documento de 185 páginas apresentado pelo executivo, defendendo que a baixa de tributação às empresas, nomeadamente a descida do IRC para 15%, não vai ter como consequência aumento de salários.

“Na melhor das hipóteses a política económica da Aliança Democrática [coligação eleitoral PSD, CDS e PPM] faz lembrar um anúncio antigo: um dia apareceu um governo de direita, baixou os impostos, as empresas milionárias e ‘puff’ fez-se um milagre económico”, disse.

O BE negou qualquer obsessão com os lucros das empresas, salientando que a sua obsessão é “a luta contra a desigualdade, contra a pobreza”.

Com um ‘pin’ de uma melancia na lapela do casaco, símbolo de apoio à causa palestiniana, Fabian Figueiredo desafiou ainda o primeiro-ministro, Luís Montenegro - cuja primeira deslocação ao estrangeiro será a Madrid, em Espanha - a reconhecer o estado da Palestina.

“Espanha é uma excelente oportunidade para que a República Portuguesa comunique a Espanha que nos associamos à sua iniciativa internacional de reconhecimento do estado da Palestina. Aproveite essa ocasião para garantir que a diplomacia está ao serviço do direito internacional humanitário, ao lado dos esforços de paz do secretário-geral da ONU, o português António Guterres”, apelou.

Para o BE, não há duplo critério, “na Ucrânia como na Palestina a palavra é autodeterminação”. O momento foi aplaudido não apenas pela bancada do BE mas também do Livre e alguns deputados do PS.