“O que nós entendemos é que todas estas ligações, não só ao governo de Viktor Orbán [primeiro-ministro da Hungria] mas também aos títulos em Portugal exigem esclarecimentos”, considerou a deputada Joana Mortágua, em declarações aos jornalistas no parlamento.

Em causa está uma notícia divulgada pelo Expresso, segundo a qual o empresário português Pedro Vargas David - filho do antigo eurodeputado do PSD Mário David, conselheiro político do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán – que detém os jornais Nascer do Sol e i Inevitável, “recebeu 45 milhões do Estado húngaro” para comprar a cadeia europeia de televisão Euronews, da qual é atualmente ‘chairman’.

“Achamos que a ERC, enquanto entidade reguladora, tem que dar as explicações sobre as investigações que fez no momento da compra do i e do Sol. Mas ao governo também cabe uma preocupação sobre o que se passa com a comunicação social em Portugal e sobre estas ligações a governos que não são conhecidos pelo cumprimento de direitos fundamentais da liberdade de imprensa”, defendeu a deputada.

A Newsplex é a proprietária dos jornais Nascer do Sol e i Inevitável e é detida pela Alpac, de Pedro Vargas David.

“Acresce a esta informação a de que a atual Secretária de Estado da Gestão da Saúde [Cristina Vaz Tomé] foi consultora desta mesma empresa Alpac Capital, na Euronews”, acrescentou.

Os bloquistas entregaram no parlamento uma pergunta dirigida ao ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, e um requerimento à ERC.

Nos dois documentos, o BE pretende saber se o executivo e a entidade reguladora têm conhecimento “da alegada interferência do Governo húngaro e de pessoas ligadas ao partido de Viktor Órban” na compra da Euronews, mas também dos jornais portugueses Sol e i.

No texto, os bloquistas escrevem que “é importante referir que a operação que permitiu a Pedro Vargas David tomar controlo da Euronews, realizada em julho de 2022, coincidiu no tempo com a compra dos jornais portugueses ‘Nascer do Sol’ e ‘i’ por parte do CEO da Alpac Capital e do seu sócio minoritário Luís Santos, filho do treinador de futebol Fernando Santos”.

O grupo parlamentar pretende ainda saber que medidas vão ser tomadas pelo Governo e pela ERC para esclarecer a situação “e para impedir interferências obscuras, através de fundos pouco transparentes, na imprensa portuguesa”.

Esta tarde, no debate preparatório do Conselho Europeu de 17 e 18 de abril, na Assembleia da República, o deputado do Livre Rui Tavares quis saber se o primeiro-ministro já teria feito alguma diligência junto de Mário David, pai do empresário, antigo eurodeputado do PSD e conselheiro político do primeiro-ministro húngaro, bem como junto da atual secretária de Estado da Gestão da Saúde, Cristina Vaz Tomé, que foi consultora da Euronews.

Na resposta, Montenegro disse que “todos os projetos totalitários, de esquerda e de direita, são inimigos da União Europeia”, mas recusou assumir qualquer papel de investigador neste caso.

“Não fiz nenhuma diligência, nem vou fazer (…) Acho lamentável a pequena invocação de um membro do Governo, que é uma mais-valia para o Governo e o seu percurso profissional nada teve a ver com a questão que suscitou”, disse.

Para Joana Mortágua, esta resposta “é inaceitável”.

“O primeiro-ministro é o primeiro que tem que procurar ter garantias sobre a independência e a liberdade de imprensa dos órgãos de comunicação social em Portugal”, salientou.

A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) disse hoje à Lusa estar “a verificar o cumprimento das obrigações legais de transparência” pela Newsplex, proprietária dos jornais Nascer do Sol e i Inevitável e detida pela Alpac, de Pedro Vargas David.