As posições bloquistas constam da resolução aprovada hoje pela Mesa Nacional do partido, órgão máximo entre convenções, cujas conclusões foram apresentadas pela coordenadora, Mariana Mortágua, em conferência de imprensa, em Lisboa.
No texto, lê-se que “a resposta da esquerda”, perante o cenário eleitoral do passado domingo, tem de ser de “perseverança, unidade, luta e alternativa”.
Aos jornalistas, Mariana Mortágua defendeu que, “neste cenário de viragem à direita, o compromisso do BE é de uma oposição determinada, corajosa, incansável à governação da direita”.
“Uma força dialogante que procura e quer continuar a procurar convergências com os partidos da esquerda e ecologistas”, salientou, lembrando que o partido pediu reuniões com PS, PCP, Livre e PAN, que irão realizar-se “nos próximos dias”.
“Estamos a agendar, e queremos que sejam reuniões para um diálogo aberto sobre as eleições e para possíveis convergências no campo da oposição, e também para uma grande mobilização para que possamos ter um 25 de Abril e uma manifestação histórica, com todo o povo a mostrar a sua preocupação e rejeição face à extrema-direita”, salientou.
Contudo, a coordenadora do BE não deixou de criticar a gestão da maioria absoluta do PS, que responsabilizou pela “viragem à direita” do país, e também o secretário-geral socialista, Pedro Nuno Santos.
“Durante a campanha, o PS não se quis distanciar da maioria absoluta e da sua governação. Pedro Nuno Santos foi incapaz de se distanciar. Pelo contrário, escolheu afirmar esse legado e essa decisão do PS contribuiu para retirar credibilidade a qualquer projeto alternativo que pudesse existir a uma governação de direita”, defendeu.
Mariana Mortágua reconheceu que o Bloco — que manteve a representação parlamentar de cinco deputados após as legislativas do passado dia 10 — “não cumpriu o objetivo maior de afirmar uma alternativa com a esquerda em Portugal”.
Sobre a moção de rejeição do Programa de Governo da Aliança Democrática (PSD/CDS/PPM) já anunciada pelo PCP, a dirigente insistiu que “por uma questão de prudência”, o BE não anuncia posições sobre textos que não conhece.
Na resolução aprovada hoje pela Mesa Nacional, é referido que “nas semanas da campanha eleitoral e na semana seguinte às eleições foram recebidos pedidos de adesão ao Bloco a um ritmo sem precedentes na história do partido, mais de 1.500 em menos de um mês”.
Mariana Mortágua foi ainda questionada sobre os lucros da Caixa Geral de Depósitos (CGD), que atingiu o recorde de 1.291 milhões de euros em 2023, lamentando que estes tenham origem no aumento dos juros do crédito à habitação.
“O mais impressionante é a CGD apresentar lucros de mais de mil milhões de euros, e que saíram diretamente do esforço de tanta gente que tem um crédito à habitação e que se tornou pobre de um dia para o outro, porque deixou de conseguir pagar esse crédito”, criticou.
A dirigente bloquista lembrou que o partido apresentou, durante a campanha eleitoral, “propostas fortes para taxar esses lucros, para que a CGD pudesse ter uma intervenção no mercado do credito à habitação, abdicando de uma parte desses lucros”.
Já a proposta da direita para esses lucros, acrescentou, “é baixar-lhes o imposto, o IRC”.
“A CGD tem condições para baixar o ‘spread’ cobrado aos clientes bancários e para com isso arrastar todo o mercado, baixando a prestação do credito à habitação. O BE batalhou muito por essa proposta na campanha eleitoral, não vamos desistir dela, é uma proposta justa que pode dar um alívio imediato às famílias. Cá estaremos para lutar por ela no parlamento”, garantiu.
Nas eleições de domingo, o BE falhou o objetivo de afastar a direita e recuperar deputados por Aveiro, Braga, Santarém ou Faro, apesar de ter subido a votação em cerca de 30 mil votos e de ter mantido os mesmos cinco mandatos, fixando-se como quinta força política.
A Aliança Democrática, com 29,49%, conseguiu 79 deputados, contra 77 do PS (28,66%), seguindo-se o Chega, com 48 eleitos (18,06%).
Estão ainda por apurar os quatro deputados pela emigração, o que só acontece no dia 20 de março. Só depois dessa data, e de ouvir os partidos com representação parlamentar, o Presidente da República indigitará o novo primeiro-ministro.
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