Quis aparecer sempre como um sedutor que cultivava o prazer, imagem certeiramente satirizada pelo cineasta Paolo Sorrentino em Loro/Silvio e os Outros.
Magnate, primeiro do imobiliário (Milano Due), da televisão (abriu a TV privada em Itália com a Canale 5 e tornou-se dono do império Mediaset que revolucionou a televisão popular) e do futebol (Milan AC).
Foi três vezes primeiro-ministro de Itália (entre 1994 e 2011) e falhou no ano passado a ambição de conseguir que os deputados o elegessem presidente da República. As denúncias por orgias e corrupção barraram-lhe essa última ambição de consagração.
Foi um visionário catódico, tornou-se o dono dos ecrãs, destronou a RAI pública. O controlo dos canais de comunicação – sobretudo em popularíssimos canais de TV, mas não só, comprou também a editora Mondadori – revolucionou pela sedução popular que envolveu as classes médias e foi determinante para a estratégia que levou Berlusconi à chefia do governo de Itália.
Instalou a cultura da promessa de êxito.
Meia Itália ficou rendida à ascensão de Berlusconi – ficou conhecido por Il Cavalieri. Também por Berlusca. Há quem considere que ele foi para a política não por vocação mas como auto-defesa. Legislou num modo que protegeu os seus próprios interesses.
Berlusconi irrompeu como figura pública principal quando Itália ainda estava sob o efeito “república dos juízes”. Um punhado de juízes, com Di Pietro (que também acabaria por ir parar à política, embora em fracasso) à cabeça dedicou-se a desmontar a engrenagem da corrupção generalizada no sistema político-financeiro italiano. Foi o tempo em que o ex-primeiro-ministro Craxi fugiu para o exílio e até o mais hábil fazedor de governos, Andreotti, foi investigado e cercado.
Berlusconi fundou então a Forza Italia, com caraterísticas de partido-empresa, construído à sua imagem e semelhança. Usou os escombros da velha Democracia Cristã italiana que tinha sido determinante (juntamente com o PCI) na Itália do pós-guerra mas que se desmoronou com as histórias de corrupção que arrasaram o sistema político italiano.
Berlusconi nunca foi um ideólogo. Mas gostava do modelo ultraliberal de Reagan e tentou segui-lo. Puxou a Itália centrista mais para a direita com recorte liberal. Juntou à volta dele uma corte de fidelíssimos, bem recompensados, atraídos pelo poder com métodos que pareceram inspirados pela mafia e ligações à Cosa Nostra.
Em 2012, foi condenado a quatro anos de prisão por fraude fiscal. Enfrentou 33 penosos processos judiciais, alguns por prostituição de menores na mansão privada em Arcore. Tudo ficou em nada na justiça. Beneficiou da lei de indultos que um dos seus governos tinha aprovado. Mas instalou-se nesse tempo o começo da sua decadência e chegou a estar impedido pela justiça de exercício de cargos políticos.
Ressurgiu nos últimos dois anos, como líder do Partido das Liberdades. Nas eleições gerais, em setembro passado recebeu apenas 8% dos votos, tantos quanto o aliado ultra Salvini, ambos longe dos 26% alcançados pela ultra Giorgia Meloni.
No governo das direitas formado em Itália no final do ano passado, Berlusconi foi apenas um dos negociadores – não tinha peso para ser primeiro-ministro, não quis ficar pelo cargo de ministro. Mas conseguiu, apesar de tudo, aparecer perante a Europa, como o moderado na nova maioria política italiana. Apesar de amigo de Putin com quem trocava prendas.
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