Em entrevista à WURD Radio após o debate de 27 de junho, em que o desempenho de Biden deixou a campanha democrata a braços com uma crise política, o atual presidente dos EUA e recandidato deu uma entrevista em que cometeu uma gafe.
Biden começou por assumir nesta entrevista que "não teve um bom debate", mas reiterou: "90 minutos em palco não apagam o que fiz nos últimos três anos e meio".
Numa conversa de cerca de 15 minutos, que pode ouvir aqui (em inglês), Biden disse estar "orgulhoso de ser o primeiro vice-presidente, a primeira mulher negra, a servir com um presidente negro".
A afirmação confunde duas ideias: a de que Biden foi o primeiro vice-presidente de um presidente Negro, Barack Obama; e a ideia de que quando assumiu ele mesmo a presidência escolheu Kamala Harris, a primeira mulher e primeira vice-presidente afro-americana.
Esta entrevista precede a de ontem à noite em que Biden reiterou que vai continuar na corrida à Casa Branca — “Se o Senhor Todo-Poderoso descesse e dissesse ‘Joe, sai da corrida’. eu sairia da corrida. O Senhor Todo-Poderoso não vai descer”, afirmou.
Isto apesar dos rumores dentro do partido sobre a procura por um candidato capaz de substituir o presidente nas eleições de novembro.
Biden tem feito comícios, deu entrevistas e encontrou-se com patrocinadores da sua campanha, tudo com o objetivo de provar a sua capacidade de liderar o país por mais um mandato.
Mas o seu desempenho no debate, a gafe desta entrevista, e a notícia do New York Times sobre Biden ter dito aos governadores democratas que precisa de dormir mais e que pretende limitar os seus compromissos públicos depois das 20h00, continua a alimentar as dúvidas.
Se Biden decidisse desistir, o processo para substituí-lo seria muito técnico.
O presidente já foi nomeado candidato presidencial democrata numa série de primárias realizadas entre janeiro e junho, portanto, em teoria, deverá ser oficializado na convenção do partido em Chicago.
Mas se Biden abandonasse a corrida antes desta convenção, prevista para meados de agosto, a palavra final caberia aos delegados do partido, cerca de 3.900 pessoas com perfis muito diferentes.
Seria uma "convenção onde tudo é permitido", já que cada lado tentaria promover o seu candidato, previu Elaine Kamarck, investigadora do Brookings Institute, numa nota recente.
Um cenário mais ou menos parecido aconteceu aos democratas a 31 de março de 1968, quando o presidente Lyndon B. Johnson anunciou publicamente que não ia avançar para um segundo mandato durante a guerra do Vietname.
E se Biden desistisse entre a convenção e as eleições? O comité nacional do partido teria de realizar uma sessão extraordinária para nomear um candidato.
A procura por candidatos está, todavia, dificultada até que Biden tome uma decisão.
Ninguém quer ser percepcionado como desleal ao atual presidente, pelo que mesmo aqueles que estão disponíveis para avançar veem-se limitados no tipo de contactos que podem fazer para montar uma estrutura em tempo recorde, capaz de concorrer contra o candidato republicano.
E duas sondagens divulgadas na quarta-feira destacaram o crescimento das intenções de voto a favor de Trump.
Enquanto isso, o bilionário republicano manteve-se relativamente discreto nos últimos dias, permitindo que a crise democrata se agrave, mas sem intervir diretamente.
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