Estas posições foram defendidas por Mariana Mortágua no final de uma conferência contra a extrema-direita, intitulada “No passaran!”, no ISCTE, em Lisboa, na qual também discursaram o presidente da Esquerda Europeia, Walter Baier, Miguel Duarte, ativista de resgates civis no mediterrâneo central, e a cabeça de lista do Bloco de Esquerda nas eleições europeias, Catarina Martins.
Segundo o jornal Expresso, o líder do PSD/Madeira, Miguel Albuquerque, falando em cenários pós-eleitorais, “abriu a porta a um acordo com o Chega” para o executivo da Região Autónoma, não seguindo a linha do presidente do partido, Luís Montenegro.
Para Mariana Mortágua, “o não é não [do primeiro-ministro, Luís Montenegro] só dura enquanto dura - e isso acabou de ser provado por Miguel Albuquerque, dizendo que, afinal, faz acordos com o Chega”.
“As linhas vermelhas de ontem agora são uma invenção da esquerda”, comentou a seguir, recorrendo à ironia.
Depois desta observação, a coordenadora do Bloco de Esquerda rejeitou o caminho ideológico seguido por uma corrente que abriu uma dissidência no partido alemão “Die Linke”, que “incorporou o discurso nacionalista xenófobo”, considerando essa via “inaceitável”. Mas Mariana Mortágua também criticou a teoria “dos três campos” preconizada pelo porta-voz do Livre, Rui Tavares.
“Haverá também quem clame por moderação, por uma diluição ideológica e programática que reduza tudo a uma identidade antifascista que na verdade se presta a todas as ambiguidades. Em Portugal, essa estratégia tomou o nome de teoria dos três campos. Ela está errada, porque acaba com a esquerda a caucionar governos e programas de direita”, afirmou, recebendo uma prolongada salva de palmas.
No seu discurso, a coordenadora do Bloco de Esquerda defendeu depois uma medida que também tem sido proposta pelo Livre: A semana dos quatro dias de trabalho.
“Com todos os avanços feitos na economia, podíamos estar a caminhar seriamente para os quatro dias de trabalho por semana e para nos libertarmos da coerção, do tempo colonizado pelas obrigações, do esgotamento. Ou seja, para nos aproximarmos um pouco mais da liberdade”, declarou.
Antes, Catarina Martins, manifestou-se em frontal desacordo com a tese de que “os velhos fascismos” acabarão por retroceder e voltar ao seu lugar ultraminoritário, advertindo que esse fenómeno tem de ser travado. “Não nos peçam para esperar para ver”, disse, recebendo palmas.
Num discurso em que acusou o sistema em Portugal e na União Europeia de preservar a especulação imobiliária, ex-coordenadora do bloquista referiu-se também ao atual primeiro-ministro, Luís Montenegro, a propósito de ter falado em contribuintes com rendimentos de 550 euros mensais que supostamente pagariam IRS.
“Gostamos pouco que brinquem com a ida das pessoas e que joguem com as palavras. Caro Luís Montenegro, quem ganha 550 euros já não paga IRS mas também não consegue pagar a renda de uma casa. Quem ganha mil euros, e terá um desconto de um euro no imposto, também não consegue pagar a prestação da casa que duplicou”, apontou.
De acordo com Catarina Martins, uma em cada três famílias já não consegue pagar o crédito à habitação e as mulheres vítimas de violência doméstica “não encontram abrigo agora”.
“Há estudantes que abandonam os estudos por falta de um quarto e há quem trabalhe o dia todo e acabe o dia a dormir na rua. Seja por indesculpável ignorância ou por cinismo, os jogos dos últimos dias são do mais degradante que temos visto”, declarou, recebendo uma prolongada salva de palmas.
O presidente da Esquerda Europeia, Walter Baier, pediu forte combate à extrema-direita, advertindo que em sete Estados-membros partidos dessa família política estão à frente nas sondagens.
Numa das primeiras intervenções da sessão, o ativista Miguel Duarte, que esteve detido pelas autoridades italianas depois de participar em missões de resgate no Mar Mediterrâneo, denunciou uma crescente tendência política “para a criminalização da ajuda humanitária.
Procurou desmontar a tese de que a direita liberal seja contra a imigração, contrapondo que é antes contra a imigração com direitos.
“A direita liberal quer trabalhadores sem direitos, quer uma classe de subproletariado”, acrescentou.
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