“Dizem-nos agora alguns, saídos do armário ao fim de 50 anos, que a revolução foi supérflua e um exagero, que afinal a chibata sempre educa, a masmorra moraliza e o lápis azul ilustra. As carpideiras do salazarismo não são perigosas pela nostalgia desse passado: não será reconstruído nenhum império, o Tarrafal fechou para sempre e o Aljube e Peniche são agora museus que devem ser visitados”, defendeu Mariana Mortágua, na sessão solene comemorativa do cinquentenário do 25 de Abril, na Assembleia da República.
A deputada bloquista avisou que “os saudosistas são perigosos porque culpam a democracia e a Constituição pela pobreza que persistiu, pelo amargo das promessas não cumpridas e pela corrupção que grassa nas privatizações, nas portas giratórias, no financiamento dos próprios partidos da oligarquia”, alertando que “vivem para a mentira”.
Na sua primeira intervenção numa sessão solene da revolução dos cravos enquanto coordenadora do BE, Mortágua lembrou a ditadura de Salazar e um país que “se vergou à tristeza, à emigração forçada, à maldita guerra e à secundarização das mulheres”.
“O nosso país só foi salvo pela revolução do 25 de Abril”, salientou, recusando que este dia seja “uma consolação para um tempo encerrado”.
“O que trago aqui, em nome do Bloco de Esquerda, num abraço com todas e todos os democratas, é um alerta sobre o presente para um manifesto pelo futuro. O que nos assombra chama-se capitalismo”, considerou.
Para a coordenadora do BE, o capitalismo “é o poder que transforma tecnologias em ameaças, que sacrifica imigrantes para beneficiar os que exploram a sua ilegalização, que destrói o planeta de amanhã em nome dos dividendos de hoje”.
“É o capitalismo que faz da casa um ativo financeiro e um lugar inatingível, que ataca a democracia com discursos de ódio, que chama mérito à injustiça social, que nos impõe a caricatura individualista de nós mesmos e nos reduz à condição de consumidor ou de contribuinte para assim nos proibir de imaginar o futuro coletivo, porque esse ao mercado pertence”, enumerou.
Mortágua salientou que “a liberdade é também e só o é plenamente, na definição dos nossos objetivos comuns” e que “a nossa liberdade começa onde começa a liberdade dos outros”.
“É sobre isso este dia de hoje. Não uma consolação, mas a inspiração para um tempo aberto. Ousamos imaginar esse futuro”, afirmou.
A coordenadora bloquista defendeu que futuro “é garantir trabalho digno”, “libertar a criatividade e ter tempo para viver”.
“Por isso, contra a exploração que se moderniza mas que não se ameniza, afirmamos o direito ao salário e ao descanso. O futuro é decidir os objetivos sociais do esforço comum, e por isso, contra a mão invisível que dilacera o que é de todos, afirmamos a planificação ecológica”, defendeu.
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