Foi durante a tarde desta quinta-feira que o artista plástico português Bordalo II partilhou a intervenção "Walk of Shame", com representações de notas de 500 euros no altar-palco do Parque Tejo, em Lisboa, sob o mote de criticar a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) e o custo da mesma. O pequeno protesto do artista despertou imediatamente a atenção das redes sociais, mas hoje soubemos que afinal a culpa é do empreiteiro que o terá deixado entrar.
A revelação veio já na tarde desta sexta-feira, quando o secretário-geral do Sistema de Segurança Interna (SSI), Paulo Vizeu Pinheiro, reagiu à ação levada a cabo pelo artista, sublinhando que o espaço, em obras há meses, “ainda não é considerado um espaço público”, sendo desta forma da responsabilidade "do empreiteiro da obra, bem como da empresa privada contratada para o serviço de segurança".
Adianta também que o plano setorial de segurança do Parque Tejo "só será colocado em vigor a partir do momento em que a obra estiver concluída", e que nessa altura "será efetuada uma vistoria aos recintos por parte da PSP" antes dos eventos da próxima semana e logo após a implementação do plano setorial de segurança.
Apesar de alguns terem achado interessante e concordarem com a crítica do artista, não deixa de ser interessante que alguém possa entrar desta forma numa infraestrutura que terá um custo de 2,9 milhões de euros para o contribuinte.
Durante o dia fomos também percebendo que Paulo Vizeu Pinheiro não estava sozinho na culpabilização dos responsáveis da obra pela entrada do artista, como aliás explicou o ministro da Administração de Interna, José Luís Carneiro, em Fátima, onde hoje visitou o dispositivo da Guarda Nacional Republicana (GNR): “Não se trata de nenhuma falha de segurança. (…) A informação que tenho do Sistema de Segurança Interna (SSI) é de que ainda estão a decorrer obras no local. Os vários empreiteiros e subempreiteiros encontram-se a prestar os seus serviços”, disse.
Segundo o governante, “a Câmara Municipal de Lisboa é quem tem a responsabilidade e a guarda daquele local”, e “a segurança privada é quem garante o apoio aos trabalhos que estão em curso”, referindo que “as pessoas circulam” naquele espaço.
Já Carlos Moedas, o autarca de Lisboa, nega falta de segurança no Parque Tejo e defende liberdade artística: “Os protagonistas destas jornadas são jovens, os jovens que acreditam, os jovens que não acreditam, os jovens que são religiosos, os jovens que têm diferentes religiões, e tudo isso faz parte da Jornada e, portanto, ali, por exemplo, […] é de um artista que todos gostamos, portanto, faz parte também da participação das Jornadas que todos sejam ouvidos”.
“Houve um artista e tem toda a liberdade artística para o fazer, de ter ido lá, de ter feito uma brincadeira. É, obviamente, responsável a segurança que lá estava, mas que o deixaram entrar por ser um artista conhecido. Estou ainda a apurar os factos”, adiantou ainda o autarca, acolhendo a intervenção artística de Bordalo II com “muita graça”.
Acordos ou desacordos à parte, o que é facto é que Bordalo entrou e fez a sua intervenção altamente partilhada nas redes sociais, onde apelava que "num estado laico, num momento em que muitas pessoas lutam para manter as suas casas, o seu trabalho e a sua dignidade, decide investir-se milhões do dinheiro público para patrocinar a tour da multinacional italiana. Habemus Pasta".
Manifestações como esta contra a JMJ talvez tenham de ficar por aqui, visto que também ficámos hoje a saber que durante a própria Jornada, e de acordo com um comunicado hoje divulgado, a PSP irá criar, antes e durante os eventos principais, perímetros de segurança com diferentes pontos de acesso, onde serão efetuadas revistas por polícias uniformizados e onde serão proibidos cartazes de grandes dimensões ou com mensagens ofensivas. Ai de quem discorde da Santa Sé!
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