“Por isso, naquela reunião secreta [ministerial, divulgada pelo Supremo], o Moro, de forma covarde, ficou calado. Ele queria ainda uma portaria que multasse quem estivesse na rua. Essa era a pessoa que estava lá, perfeitamente alinhada com outra ideologia que não era a nossa. Graças a Deus ficámos livre dele”, afirmou hoje o Presidente a apoiantes, em Brasília, citado pela imprensa local.
De acordo com o chefe de Estado, Moro queria decretar uma medida que multasse quem não cumprisse as medidas de isolamento social durante a pandemia do novo coronavírus.
Bolsonaro referiu ainda uma portaria, assinada por Moro e pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que autorizava intervenção policial sobre pessoas suspeitas de infeção pelo novo coronavírus, de forma a obrigar a sua quarentena, e que foi revogada na semana passada.
Jair Bolsonaro, um dos líderes mais céticos em relação à gravidade da atual pandemia, tem sido alvo de duras críticas por se opor ao isolamento social para combater a propagação da doença, que chegou a classificar de “gripezinha”.
O Presidente brasileiro criticou ainda Moro por alegadamente ter criado dificuldades à flexibilização de leis sobre porte e posse de armas no país.
“Vocês estão a entender um pouquinho sobre quem estava no meu lado. (…) Moro ignorou decretos meus e ignorou a lei, para dificultar a posse e o porte de arma de fogo para cidadão de bem”, disse Bolsonaro a apoiantes, no Palácio da Alvorada, sede da Presidência em Brasília.
Sergio Moro pediu a demissão do cargo ministerial no final de abril, acusando Jair Bolsonaro de tentativa de interferência na Polícia Federal, na sequência da demissão do ex-chefe da instituição Maurício Valeixo.
Segundo Moro, Bolsonaro teria exigido a troca do superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro para evitar investigações a familiares e aliados.
Após as críticas de Bolsonaro, o ex-ministro e antigo juiz da Lava Jato, maior operação anticorrupção no Brasil, emitiu um comunicado em que defendeu o isolamento social e frisou que a posse e porte de armas “não podem ser utilizadas para promover espécie de rebelião armada”, “como desejava o Presidente”.
“As medidas de isolamento e quarentena são necessárias para conter a pandemia do coronavírus e salvar vidas. (…) Durante a minha gestão como ministro da Justiça e Segurança Pública, dialoguei com os secretários de Segurança dos Estados e do Distrito Federal para evitar ao máximo o uso da prisão como sanção ao descumprimento de isolamento e quarentena”, justificou o ex-juiz.
Sobre políticas de flexibilização de posse e porte de armas, “são medidas que podem ser legitimamente discutidas, mas não se pode pretender, como desejava o Presidente, que sejam utilizadas para promover espécie de rebelião armada contra medidas sanitárias impostas por governadores e prefeitos”, acrescentou Moro, salientando que é necessário cuidado para evitar que o armamento “destinado à proteção do cidadão” seja desviado para “criminosos”.
Em relação às acusações pessoais feitas por Jair Bolsonaro, Moro considerou que “quem utiliza esse recurso é porque não tem razão ou argumentos”.
Até domingo, o Brasil totalizou 29.314 óbitos e 514.849 casos confirmados de covid-19 desde a chegada da pandemia ao país, segundo o executivo.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 372 mil mortos e infetou mais de 6,1 milhões de pessoas em 196 países e territórios.
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