Sete militares de reserva, um juiz envolvido na operação Lava Jato, um admirador de Donald Trump, duas mulheres e zero ministros de cor negra. Assim é composto o governo de Jair Bolsonaro, o presidente eleito do Brasil a 28 de outubro de 2018, com mais de 57 milhões de votos (55,1% dos votos).
Hoje, Bolsonaro toma posse como o 38.º Presidente da República Federativa do Brasil e estas são as figuras fortes que a ele se juntam na liderança do país.
ECONOMIA
Nome: Paulo Guedes
Missão: Reduzir o défice e reativar a economia
O "menino de Chicago" (em referência à sua formação pela Universidade de Chicago, o berço da escola neoliberal) assume a pasta da Economia aos 69 anos.
Chega para ajudar Bolsonaro - que admite não entender de economia - e é um "super ministro": sob o seu comando, Guedes terá as atuais pastas da Fazenda, do Planeamento, do Desenvolvimento e do Comércio Exterior.
É um dos fundadores do Banco Pactual (banco brasileiro de investimento) bem como do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais e do Instituto Millenium (um "think thank" de pensamento económico liberal) e chamou à atenção ao ser alvo de um inquérito sobre a execução de irregularidades na gestão financeira de fundos de investimento e de pensão. Integrou ainda o conselho de administração de grandes empresas brasileiras como a PDG Realty, Localiza e a Anima Educação.
O objetivo de Paulo Guedes foi anunciado após a vitória de Bolsonaro nas eleições de outubro: mudar o modelo económico social-democrata através de um programa acelerado de privatizações e controlo dos gastos públicos, de modo a obter receitas e reativar a economia do país - que sofreu com dois anos de recessão e outros dois de fraco crescimento.
O "super ministro" admite que vai "salvar a indústria brasileira" e já anunciou, em novembro passado, que não tenciona criar nem aumentar impostos.
JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA:
Nome: Sérgio Moro
Missão: A luta contra a corrupção
Sérgio Moro, 46 anos. Assume a pasta da Justiça e da Segurança Pública com o propósito de implementar uma agenda de combate à corrupção, crime organizado e violência.
Conhecido por ordenar a prisão do ex-Presidente Lula da Silva (condenado a 12 anos e um mês por corrupção passiva e branqueamento de capitais), liderava a operação judicial Lava Jato e pediu o afastamento do cargo de magistrado para assumir o Ministério da Justiça.
Nas eleições presidenciais, Moro deixou claro que, a seu ver, os eleitores "deram recado claro" de insatisfação com a corrupção e com a segurança pública, e garantiu que não haverá "nenhuma iniciativa de discriminação às minorias".
Em cima da mesa terá temas como a flexibilização do porte de armas, a ideia de Bolsonaro de reduzir a idade de responsabilidade criminal no país, dos atuais 18 anos para os 16 anos, ideia da qual é apoiante.
PASTA DA TRANSIÇÃO
Nome: Onyx Lorenzoni
Missão: Coordenar a equipa de ministros do Presidente eleito
Médico veterinário, deputado desde 2003, aos 64 anos Onyx Lorenzoni assume o cargo de chefe da Casa Civil, ou, por outras palavras, a pasta de ministro extraordinário de Estado.
Considerado "o cérebro" da campanha eleitoral de Jair Bolsonaro, é membro do partido político Democratas e tem a missão de coordenar a equipa de ministros do Presidente, de forma a colmatar as faltas de experiência que possam existir.
O futuro ministro é acusado de crimes eleitorais e foi citado como um dos políticos que recebeu dinheiro para financiar a sua campanha ao cargo de deputado federal (membro da câmara baixa) nos anos de 2012 e 2014, pelos executivos da empresa de produção de carne JBS. Em 2017, Lorenzoni pediu desculpas e admitiu à radio brasileira Bandeirantes que recebeu a quantia de 100 mil reais (23 mil euros) da empresa em 2014.
Foi eleito cinco vezes consecutivas para o cargo de deputado federal pelo estado brasileiro do Rio Grande do Sul, e agora será responsável pela articulação política do Governo Bolsonaro. Onyx Lorenzoni anunciou já que vai extinguir o Ministério do Trabalho, sendo as atividades distribuídas entre os ministérios da Justiça, da Economia e da Cidadania.
SEGURANÇA INSTITUCIONAL
Nome: Augusto Heleno
Missão: Garantir a segurança presidencial
Militar do exército na reserva, foi instrutor de Bolsonaro na academia militar na década de 70 e ganhou visibilidade no início dos anos 2000 ao comandar a missão de paz da ONU ao Haiti.
Inicialmente mencionado para o Ministério da Defesa, Augusto Heleno vai segurar o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), instalado num gabinete no Palácio do Planalto, na sede do Executivo.
O Gabinete de Segurança Institucional quer que as polícias da Câmara dos Deputados e do Senado sejam responsáveis pela segurança, respectivamente, de Eduardo e Flávio Bolsonaro, filhos presidente eleito que também serão parlamentares a partir de 2019.
Heleno poderia ainda ter sido vice-presidente de Bolsonaro, mas o Partido Republicano Progressista (PRP), do qual faz parte, recusou a proposta.
Esperançoso em relação ao encontro de uma solução para a crise económica e segurança pública, Augusto Heleno é defensor da reforma da Previdência Social e da implementação de escolas militares nas favelas.
Quando questionado pelo jornal G1 sobre se o futuro do Governo terá frutos, responde: "Pode dar errado? Pode. Mas precisa dar certo. Senão, a única coisa que a minha geração terá visto dar certo terá sido o Pelé jogar".
RELAÇÕES EXTERNAS
Nome: Ernesto Araújo
Missão: Fortalecer e valorizar as exportações brasileiras
Tem 51 anos e é admirador de Donald Trump. Considera que o presidente americano pode "salvar o Ocidente", defende que as alterações climáticas são parte de uma "conspiração marxista" e denuncia a "globalização económica que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural".
Recentemente, o futuro chefe da diplomacia brasileira foi notícia por instar “todos os países do mundo” a afastarem-se de Nicolás Maduro e a unirem-se para libertar a Venezuela" - declarações que surgiram depois de Maduro ter envolvido Jair Bolsonaro num alegado plano orquestrado pelos Estados Unidos que teria como principal objetivo matá-lo e acabar com a revolução bolivariana.
Araújo defende que o Brasil vai "exportar esperança e liberdade", acredita que não é "pela adesão automática aos cânones do globalismo" que o Brasil conquistará os mercados e promete dar atenção ao setor agrícola e aos produtores, através da criação de um Departamento de Agronegócio.
No que respeita à questão da migração, o futuro responsável pelas relações externas defende que "a imigração deve estar ao serviço dos interesses nacionais e da coesão de cada sociedade".
MINISTÉRIO DA MULHER, FAMÍLIA E DIREITOS HUMANOS
Nome: Damares Alves
Missão: Lutar pela igualdade salarial, de género e sexual
Pastora evangélica e advogada, Damares Alves vai liderar o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos no Governo de Jair Bolsonaro - que, ao longo da sua carreira política, fez uma série de declarações racistas e homofóbicas.
Assumidamente contra o aborto, considera que "nenhuma mulher quer abortar" e que "as mulheres chegam ao aborto porque não lhes foi dada nenhuma outra opção".
Damares revela o desejo de trabalhar em harmonia com a comunidade LGBT e defende que "nenhum homem vai ganhar mais do que as mulheres" no Brasil.
Para além desta questão, ficará também encarregue das questões indígenas.
OS RESTANTES MINISTÉRIOS
Do governo de Jair Bolsonaro farão também parte as seguintes personalidades:
- André Luiz de Almeida Mendonça - Pasta da Advocacia-Geral da União
- Bento Costa Lima Leite - Ministério de Minas e Energia
- Carlos Alberto dos Santos Cruz - Secretaria do Governo
- Fernando Azevedo e Silva - Ministério da Defesa
- Gustavo Bebianno - Secretaria-Geral da Presidência
- Gustavo Canuto - Ministério do Desenvolvimento Regional
- Luiz Henrique Mandetta - Ministério da Saúde
- Marcelo Álvaro António - Ministério do Turismo
- Marcos Pontes - Ministério da Ciência e Tecnologia
- Osmar Terra - Ministério da Cidadania e Ação Social
- Ricardo de Aquino Salles - Ministério do Meio Ambiente
- Ricardo Vélez Rodríguez - Ministério da Educação
- Roberto Campos Neto - Banco Central
- Tarcísio Gomes de Freitas - Ministério da Infraestrutura
- Tereza Cristina - Ministério da Agricultura
- Wagner de Campos Rosário - Ministério da Transparência, Fiscalização e CGU
(Com agências AFP e Lusa)
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