"É muito otimista. Levo muito tempo disto. Conheço muitas negociações entre a UE e outros países e é sempre muito demorado e complicado", disse o presidente da Aliança Pesqueira Europeia, Gerard van Balsfoort, citado pela agência Efe, que também refere o grande número de reservas pesqueiras em jogo num eventual acordo.
A associação a que preside, criada em 2016 com vista ao 'Brexit' (saída do Reino Unido da União Europeia), para agrupar as frotas dos países da UE que pescam em águas britânicas (França, Espanha, Holanda, Bélgica, Alemanha, Dinamarca, Irlanda, Suécia e Polónia), reuniu-se hoje pela primeira vez desde a formalização do 'Brexit', em 31 de janeiro (sexta-feira).
Segundo Gerard van Balsfoort, fechar um pacto pesqueiro para o próximo mês de julho só "seria possível" se Bruxelas e Londres decidissem "não mudar quase nada", ou seja, manter as condições quase idênticas no acesso mútuo às águas e aos mercados comuns.
Para o responsável holandês, essa não parece ser a intenção britânica, acreditando que, não obstante o "discurso" atual do Reino Unido, no final seja possível um acordo.
Um "não acordo" traduzir-se-ia, para os europeus, na impossibilidade de aceder às águas britânicas, onde a frota da UE obtém hoje cerca de 40% das suas capturas, e para os britânicos significaria perder acesso ao mercado europeu, de acordo com van Balsfoort.
O responsável frisou que "80% do que [os pescadores britânicos] produzem exportam, na maioria", para os mercados de Espanha, França e Alemanha.
O especialista explica que o objetivo dos países europeus é manter a colaboração existente com o Reino Unido a nível "económico, científico e de gestão de reservas pesqueiras".
Tanto a "proximidade" geográfica do Reino Unido como as mais de 100 reservas piscatórias em jogo tornam pouco provável que não haja acordo, afirmou.
Sobre o futuro modelo de acordo, indicou que comparando com pactos como o da União Europeia com a Noruega, que se negoceiam a cada ano, a UE defende um pacto de "longo prazo, por muitos anos, com estabilidade de gestão e acesso e partilha de quotas".
Por sua vez, o espanhol Iván López, em nome da confederação patronal espanhola Cepesca, indicou à agência Efe que o objetivo do encontro de hoje é começar a coordenação em "temas concretos para os próximos passos de negociação".
Sobre a possibilidade de um acordo em julho, considerou que "é fácil se for político", mas "difícil se for técnico, devido à questão do tempo", por se tratar de "100 'stocks' pesqueiros que haverá que analisar".
Se não se chegar a um pacto nessa data, Iván López considerou que as coisas estariam "mal, não só para a pesca", mas também noutros âmbitos em que se poderia começar a temer um 'Brexit' duro.
O responsável recordou que até janeiro de 2021, durante o período transitório em que a UE e Reino Unido irão negociar os termos das suas futuras relações, a frota comunitária e britânica continuarão a ter acesso mútuo às respetivas águas.
"O que pedimos é que tudo fique como está. Isso quer dizer que continuaremos a pescar nas suas [britânicas] águas ao mesmo nível de agora e eles [britânicos] continuarão a vender os seus produtos sem tarifas aos mesmos níveis. Não se trata de ganhar nem de perder", assinalou.
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