"Cada vez mais pessoas se reconhecem no programa dele. Cada vez há mais insubmissos. Insubmissos em relação à situação atual, insubmissos em relação a esta França que tem tantos desempregados, que tem tanto trabalho precário (?), que tem tanta guerra entre as populações, que opõe os franceses que são de origem gaulesa aos filhos de emigrantes", afirmou Cristina Semblano.
A economista sublinhou estar "convencida que cada vez há mais pessoas que não se reconhecem nesta França em guerra civil" que opõe "os jovens aos mais idosos, os jovens entre eles" e que "é agudizada" pelo estado de emergência e pela política externa do governo francês que, na sua opinião, "favoreceu o terrorismo" porque "ao armar a oposição a Assad foi na realidade armar muitos militantes de Daesh".
Em dia de feira perto da câmara de Gentilly, Cristina Semblano juntou-se aos colegas para distribuir panfletos de Jean-Luc Mélenchon e tentar convencer os indecisos numa altura em que há sondagens a apontar o candidato da esquerda radical como o terceiro homem da primeira volta das presidenciais em França.
"Eu apoio o Mélenchon porque acho que o Mélenchon é o único candidato que é suscetível de mudar a política francesa. É o único candidato que é suscetível de pôr fim à monarquia presidencial, é o único candidato que vai aprofundar a democracia, nomeadamente pondo fim aos privilégios da casta", considerou a economista de 61 anos que chegou a França com 16 anos.
Cristina Semblano vincou que o programa de Mélenchon pretende "fazer face ao desastre social patente num país que é extremamente rico", apontando que "França é um dos países mais ricos do mundo e que essa riqueza coabita com seis milhões de desempregados, nove milhões de pobres e 25 por cento dos jovens entre os 18 e os 24 anos que estão no desemprego".
A deputada municipal defendeu também um programa que pretende "a reconversão ecológica da economia" e a proposta de uma "assembleia constituinte onde vão ser os cidadãos a redigir a próxima Constituição de França".
Cristina Semblano vai presidir uma mesa de voto em Gentilly na primeira volta, a 23 de abril, e, ainda que não possa votar por não ter nacionalidade francesa, não vai apoiar ninguém se Mélenchon não for apurado para a segunda volta.
"Eu estou farta das frentes ditas republicanas, estou farta das pessoas canalizarem o seu voto para o candidato que poderá fazer frente à extrema-direita. Nos últimos anos, temos verificado que ao votar por aquilo que julgam ser o menor mal, as populações estão a eleger aqueles cujas políticas favorecem o crescimento inexorável da extrema-direita", considerou.
Para a economista, François Fillon, candidato de Os Republicanos, e Emmanuel Macron, do movimento "Em Marcha!", apresentam políticas económicas que são "exatamente as mesmas", mas "a dose brutal de austeridade que preconizam será injetada de uma só vez pelo François Fillon" e "de forma gradual pelo Macron".
Cristina Semblano lembrou que François Fillon foi constituído arguido por alegado desvio de dinheiro público e apropriação indevida de fundos, lamentando não só "os empregos supostos fictícios da mulher e dos filhos" como "as prendas de fatos luxuosos, de relógios" e "a própria empresa de conselho que ele criou onde há conflitos de interesses".
A portuguesa apontou, ainda, que Marine Le Pen, candidata da Frente Nacional (FN), "se diz contra a Europa mas usa as instituições europeias para desviar fundos da Europa", em referência à investigação sobre funcionários do FN em Paris pagos como assessores do Parlamento Europeu em Estrasburgo e Bruxelas.
Cristina Semblano também criticou Emmanuel Macron, que chamou de "filho querido de Hollande e do hollandismo", que "vai prosseguir as políticas neoliberais de François Hollande" e que, no seu entender, "também não está completamente limpo", lembrando o alegado favorecimento empresarial do antigo ministro da Economia na organização de uma viagem a Las Vegas em 2016 "onde gastou 300.000 euros de fundos públicos".
Cristina Semblano é dirigente do Bloco de Esquerda (BE) e membro do secretariado do BE Europa e BE França, devendo participar, em nome do partido português, numa reunião internacional de apoio a Jean-Luc Mélenchon esta segunda-feira.
No próximo dia 23, a França realiza a primeira volta das eleições presidenciais com um quase empate técnico entre quatro candidatos: Marine Le Pen (extrema-direita), Françoi Fillon (direita), Emmanuel Macron (centro) e Jean-Louis Melénchon.
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