Nicolau Wallenstein, vulcanólogo - que chefiou uma equipa que procedeu a um estudo, em 2004, na montanha vulcânica Monte Gordo, denominada por Caldeirão do Corvo, a pedido da Direção Regional do Ambiente - afirma que o monumento sofre de um “processo de erosão natural e bastante avançado devido aos ventos dominantes dos Açores”.
Este é o último estudo conhecido efetuado no Caldeirão do Corvo, segundo vários especialistas da Universidade dos Açores confirmaram à Lusa, tendo Nicolau Wallenstein sido acompanhado pelo investigador da Universidade de Coimbra José Manuel Azevedo, a par de outra colaboradora da academia açoriana.
O especialista da Universidade dos Açores, que já esteve no local após esta data, a título pessoal, refere que “a parede da caldeira, a oeste e noroeste, está a sofrer um processo de erosão no seu interior e exterior”, devendo este ser atendido como “um processo geológico normal e muito demorado".
Questionado sobre se é possível travar este processo de erosão, Nicolau Wallenstein refere que “há que deixar a natureza fazer o seu percurso, que vai sempre transformando os ‘habitats’, os ambientes geológicos”.
Exemplifica que, se se olhar ao formato da ilha do Corvo, esta “tem vindo a ser reduzida pelo facto de não haver atividade vulcânica”.
Nicolau Wallenstein considera que o que se está a passar no Caldeirão do Corvo - onde os populares referem que a caldeira está a perder água – é um “desmonte da arriba noroeste da ilha do Corvo, como nas outras ilhas dos Açores”.
“Quando não há atividade vulcânica e a formação de novo material, naturalmente que a erosão é o processo dominante que vai desgastando. Trata-se de um processo de recuo de arriba normal, em que a base vai sendo afetada pelo mar e, por falta de sustentação das arribas, elas vão colapsando em direção ao mar”, afirma o especialista.
Na altura em que a equipa que chefiou desenvolveu trabalho de campo no Caldeirão do Corvo, Nicolau Wallenstein não se apercebeu a perda de água da caldeira, mas sim de um “processo de eutrofização”, havendo sim um “preenchimento da massa água por vegetação dar margens, principalmente da virada a sul”.
Trata-se de um fenómeno “que se vinha a prolongar ao longo de algumas décadas”.
O especialista explica que se deixou de praticar pastoreio dentro do Caldeirão, o que evitava a deposição de vegetação na massa de água.
“Com o final desta prática tão intensa, por um processo natural numa depressão daquele tipo, é natural que a vegetação que se vai formando nas arribas facilite o processo de infiltração da água e menos escorrência superficial”, explica.
De acordo com o investigador, “ao mesmo tempo, o facto de a vegetação rolar para as margens da massa de água superficial vai fazendo com que se vão criando condições para a criação de nova vegetação que se vai instalando nas margens e dando origem a um processo de eutrofização”.
Em 2017, o então diretor do Parque Natural do Corvo, Fernando Ferreira, disse à agência Lusa que “a caldeira do vulcão apresenta flancos de declives muito agudos, principalmente a noroeste e a oeste, resultantes da ação intensa de processos erosivos, quer marinhos, quer dos ventos”.
A caldeira do Corvo tem um perímetro de 2,3 quilómetros e uma profundidade de 320 metros, sendo o seu interior ocupado por vários cones que os populares afirmam representar cada uma das nove ilhas dos Açores, bem como por salpicos de lava.
A par da erosão marinha, a ilha do Corvo enfrenta ventos de noroeste e oeste que “acabam por afetar as vertentes do vulcão”, agora “parcialmente perturbadas no flanco sul”.
O responsável referiu que este é um processo “muito lento” de fustigação, que tem ocorrido ao longo de centenas de milhares de anos, e, há cerca de 20 anos, começou a provocar a abertura de fissuras por onde a água das lagoas do Caldeirão “está a perder-se”.
Fernando Ferreira adiantou que, ao longo de centenas de milhares de anos, a ilha do Corvo, que teria 28 quilómetros quadrados, com base em estimativas baseadas em estudos geológicos, apresenta 17 quilómetros na atualidade.
O Caldeirão do Corvo é muito procurado pelo turismo devido à sua beleza natural.
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