A 23 de maio de 2017, o cardeal e seis outras pessoas foram convocadas para comparecer nas autoridades sob a acusação de não terem denunciado agressões sexuais, num processo de citação direta iniciado pelas vítimas do padre Bernard Preynat.
Este procedimento permite, em França, que uma vítima leve o acusado diretamente a tribunal penal.
Entre as pessoas mencionadas está o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé no Vaticano, o espanhol Luís Francisco Ladaria Ferrer.
Inicialmente marcado para abril de 2018, o julgamento acabou por ser remarcado para decorrer de 07 a 08 de janeiro de 2019.
Apenas Philippe Barbarin e cinco outras pessoas - incluindo o atual arcebispo de Auch (sudoeste) Maurice Gardes e o bispo de Nevers (centro) Thierry Brac de la Perrière -, deverão ser julgadas, tendo o Vaticano invocado a imunidade do prelado espanhol, numa nota enviada a 17 de setembro de 2018 às autoridades francesas, para justificar a sua falta de comparência em tribunal.
Este caso surgiu a público a 23 de outubro de 2015, dia em que a diocese de Lyon revelou que tinha recebido queixas contra o padre Bernard Preynat por “agressão sexual a menores” cometidas 25 anos antes.
A 12 de janeiro de 2016, várias vítimas criaram uma associação chamada “La parole libéreé” e a 27 de janeiro o padre Bernard Preynat, que reconhece os factos, foi acusado de agressão sexual a quatro jovens escuteiros entre 1986 e o final de 1991.
Numa entrevista ao jornal católico La Croix, a 10 de fevereiro de 2016, o cardeal Philippe Barbarin, arcebispo de Lyon desde 2002, disse que estava ciente dos comportamentos desse padre “por volta de 2007-2008”, através de terceiros, e que conheceu uma das vítimas em 2014.
Na altura recebeu o apoio do Vaticano que considerou ter gerido o caso “com muita responsabilidade”, apesar de o cardeal não ter informado a justiça e de ter mantido o padre dentro da diocese de Lyon até 2015.
A 04 de marco de 2016, o Ministério Público de Lyon abriu uma investigação preliminar a vários líderes da diocese, incluindo o cardeal Barbarin, por “não denúncia do crime” considerando que “colocou em risco a vida de outros”.
Em declarações à imprensa, na altura, o cardeal garantiu que nunca tinha encoberto qualquer caso de pedofilia.
Entretanto foi apresentada uma nova queixa por um alto funcionário do Ministério do Interior que afirma ter sido abusado por outro padre no início dos anos 90 e acusou Barbarin de não o ter demitido.
O então primeiro-ministro francês, o socialista Manuel Valls, pediu a Philippe Barbarin que assumisse as suas responsabilidades e, a 25 de abril de 2016, o cardeal admitiu “erros na administração e nomeação de certos padres” perante 220 membros do clero reunidos à porta fechada.
Em agosto de 2016, a investigação por não denúncia dos casos de pedofilia cometidos pelo padre Bernard Preynat foi rejeitada pela procuradoria de Lyon e a 11 de setembro, a segunda investigação, aberta após a denúncia do alto funcionário do Ministério do Interior, também foi encerrada.
No auge do escândalo, o bispo Barbarin reconheceu os erros e pediu perdão às vítimas dos sacerdotes.
O processo foi retomado posteriormente por citação direta iniciada pelas vítimas, sendo agora o caso julgado pelo que é chamada “a justiça dos homens” embora o cardeal tenha recentemente dito: "Só tenho um juiz que é o Senhor".
Até o momento, dois bispos foram condenados na França em casos semelhantes, o bispo de Bayeux-Lisieux em 2001 e o ex-bispo de Orleans em 2018.
O cardeal Barbarin, 68 anos, personifica em França a crise que a Igreja enfrenta em todo o mundo com diversos casos de abusos silenciados, um silêncio que o papa Francisco já disse que tem de ser quebrado, tendo convocado para fevereiro os presidentes de todas as conferências episcopais para uma cimeira no Vaticano sobre o assunto.
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