"Em cinco anos pomos o primeiro avião a aterrar em Santarém". Quem o garante é Carlos Brazão, promotor do consórcio Magellan 500, que há algumas semanas apresentou à Comissão Técnica Independente "um cronograma" do novo aeroporto, "um aeroporto 5.0". "Ainda vamos a tempo do Mundial 2030", diz.
"Prevemos que a primeira fase, que permite começar a aliviar imediatamente o Aeroporto Humberto Delgado, esteja pronta em cinco anos, no pressuposto de haver um alinhamento entre todos os stakeholders, privados e públicos", adianta.
Para Carlos Brazão a "rapidez de implementação" é uma das vantagens de fazer o novo aeroporto em Santarém, mas há outras. "Este é um projeto de iniciativa privada, sem custos para o contribuinte. E que o poupa duplamente, porque as infraestruturas de acesso estão todas feitas".
A localização, "num planalto, 20 metros acima do nível de cheia máxima, essencialmente despovoado", entre Casével e São Vicente do Paúl, "não foi óbvia logo de início", mas "o sítio é fantástico". De um lado a A1, do outro a Linha do Norte, a quatro quilómetros uma da outra. "A Linha do Norte só precisa de melhorias na parte Sul, previstas no PNI20-30, e o ramal de acesso à A1 é um custo do projeto". Além disso, há mais quatro auto-estradas num raio de cinco a dez quilómetros: A8, A13, A15 e A23, explica.
E compara com Alcochete, que deverá custar 7,6 mil milhões de euros, 5 mil milhões saídos do Orçamento do Estado para pagar infraestruturas de acesso, como uma terceira travessia do Tejo (2,5 a 3 mil milhões) ou 61 quilómetros de ferrovia, num plano prevê que o aeroporto esteja operacional em 2035.
O Montijo, por seu lado, estaria pronto em quatro anos, mas apenas enquanto aeroporto complementar da Portela, não escalável e com capacidade para receber 17,4 milhões de passageiros. Além disso, ao contrário do que acontece em Santarém, onde as quatro autarquias envolvidas, mesmo sendo de partidos diferentes, chegaram a acordo, o Montijo não reuniu o consenso de todas as câmaras abrangidas.
"Uma das grandes vantagens do nosso projeto é que este é um aeroporto plug and play [ligar e usar]", diz, ou não fosse engenheiro eletrotécnico, ex-diretor-geral da Cisco Portugal. O funcionamento "não está dependente de nenhuma grande obra pública futura.
No centro de Lisboa em 30 minutos
Santarém fica a cerca de 80 quilómetros, mas "não é a distância que interessa, é o tempo que demora a chegar ao centro", diz o promotor do aeroporto. Todos os dias às 8h09 da manhã sai um Alfa Pendular da Estação do Oriente, que chega a Santarém às 8:38, demora 29 minutos.
Não é por acaso que o grupo Barraqueiro é um dos parceiros do consórcio. "Fomos nós que convidámos o grupo Barraqueiro a juntar-se a este projeto. Foi um processo de seleção lógico", diz Carlos Brazão. A Barraqueiro tem neste projeto um foco na mobilidade terrestre, que é o seu core business. E o novo aeroporto é um interface entre o transporte aéreo e a mobilidade terrestre, que também é um negócio: shuttles, comboios, autocarros.
O grupo privado português Barraqueiro é responsável por mais de 30 empresas no ramo dos transportes; opera com uma frota de mais de três mil veículos pesados, tem a concessão da linha ferroviária sobre o Tejo (Fertagus), do Metro Sul do Tejo (MTS) e Viaporto. E em 2021 constituiu a B-Rail, para oferecer serviços de comboio de passageiros.
No final do ano passado, a empresa manifestou à Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT) a vontade fazer 12 viagens por dia, ida e volta, no eixo Braga-Faro, em comboios de alta velocidade (até 330 km/h) a partir de Janeiro de 2029 e por um período de 27 anos.
"Temos 50 anos de vício de um aeroporto dentro da cidade, que é um aeroporto com acessos congestionados. Só para dar um exemplo, o Aeroporto de Heathrow fica a mais de uma hora de Londres por carro (mas menos de 20 minutos de comboio)", lembra Carlos Brazão.
O projeto representa na fase inicial um investimento de mil a 1,2 mil milhões de euros e prevê até dez milhões de passageiros. Depois entra na expansão, à medida que a procura aumentar. "O Magellan 500 distingue-se pela sua escalabilidade, podendo chegar a três pistas e mais de 100 milhões de passageiros em seis fases", explica Carlos Brazão.
Quatro anos, se todos arregaçarem as mangas
"Quando apresentámos o Magellan 500 aos decisores públicos pusemos quatro condições. Uma delas é que para o projeto ir em frente tem de ser um PIN [Projeto de Interesse Nacional], para que todos os processo administrativos sejam acelerados, porque, por exemplo, é preciso mexer nos PDM [Plano Diretor Municipal] de quatro municípios", lembra Carlos Brazão.
Por outro lado, "é fundamental que o projeto tenha uma declaração de utilidade pública, que dá, por exemplo, o direito de expropriar. Qualquer projeto precisa disto. Se alguém não quiser vender um terreno, o Estado concede ao privado o direito para fazer a expropriação com carácer de urgência, o que permite tomar posse administrativa e resolver diferendos depois", explica.
"Se toda a gente arregaçar as mangas", diz o promotor do Magellan 500, "podemos até conseguir ter o aeroporto de Santarém em quatro anos. Mas é preciso desligar o complicómetro".
"Em três anos, desde 2019, desenvolvemos o projeto em total confidencialidade. Isto deu-nos o benefício de podermos desenvolver tudo com calma, sem entrar por atalhos. Estudámos tudo", assegura Carlos Brazão.
"Agora, isto traz-nos uma desvantagem, é que até setembro do ano passado nunca ninguém tinha ouvido falar neste projeto. E, como é normal nestes processos, primeiro estranha-se, depois entranha-se".
"O nosso plano é viável aconteça o que acontecer na Portela, essa é a beleza do projeto, não precisa que o Aeroporto Humberto Delgado feche para ser rentável. Claro que quanto menos tráfego tiver a Portela, mais terá Santarém", afirma Carlos Frazão, que recorda que para efeitos de plano de negócio "esticámos a Portela ao máximo, com 36 a 38 milhões de passageiros".
E se tudo falhar? "Respondo em meu nome pessoal: não é mau não ter sucesso, o que é mau é não ter tentado. Achamos que este projeto tem benefícios únicos, não vejo alternativa que não fosse avançar e tentar que aconteça", remata.
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