"Parece-me que nesta altura não devemos proceder à eleição do presidente do Conselho de Administração", adiantou, depois de o ex-administrador do Novo Banco ser mencionado em documentos do Ministério Público (MP) referentes à operação Cartão Vermelho, na qual o presidente da Promovalor e do Benfica (com funções suspensas) Luís Filipe Vieira é arguido.

"O que me parece importante nesta altura é proteger o Banco do Fomento de qualquer controvérsia relativamente à idoneidade do seu Conselho de Administração", assegurou, adiantando que pediu informações à Procuradoria-Geral da República (PGR).

"Solicitei à PGR que fosse esclarecido, se isso for possível à luz das leis do processo, qual a situação processual de Vítor Fernandes", indicou o ministro, com o objetivo de saber, se o gestor é arguido, e se há "alguma investigação dirigida à sua atuação".

Segundo Siza Vieira, esta decisão "não envolve nenhum juízo por parte do Governo relativamente a situação concreta de Vítor Fernandes", visto que não dispõe de "informação suficiente".

"Houve buscas num conjunto de entidades", recordou, salientando que o gestor "não é, segundo a comunicação social, arguido ou suspeito da prática de nenhum crime".

O governante lembrou ainda que o Banco de Portugal "por causa destas notícias está a proceder à reavaliação da sua idoneidade".

"Precisamos que o banco comece a trabalhar em pleno o mais rapidamente possível, tem tarefas muito importantes, para estar ao serviço da economia, tem uma equipa executiva que está selecionada e é importante que possa funcionar, protegendo a imagem do banco e a reputação dos seus trabalhadores. E nesse sentido é importante evitar controvérsias que não têm a ver com a instituição nem com as pessoas", destacou Siza Vieira.

Questionado sobre se mantém a confiança em Vítor Fernandes, Siza Vieira disse que não possui "neste momento informação suficiente para poder avaliar a idoneidade, nem cabe ao Governo avaliar a idoneidade dos membros do Conselho de Administração de uma instituição financeira".

"Para proceder à seleção e autorização de membros da administração de uma entidade financeira como o Banco do Fomento, temos um processo relativamente longo", lembrou, defendendo que "a administração executiva do banco deve começar a operar o mais depressa possível".

"Nesta altura não é indispensável ter um presidente do Conselho de Administração a funcionar a tempo inteiro", explicou, garantindo ainda que há "soluções" para resolver esta questão.

O ministro anunciou ainda que irá avançar a eleição da administração, com exceção do presidente, admitindo que possa ser escolhido, entre os gestores, um presidente interino.

Vítor Fernandes considera ter condições para presidir ao Banco de Fomento

O ex-administrador do Novo Banco Vítor Fernandes, indicado para presidente do Conselho de Administração do Banco Português de Fomento (BPF), disse hoje à Lusa ter condições para assumir o cargo, depois de ser mencionado na operação Cartão Vermelho.

“Considero que tenho competência – ninguém pôs em causa a minha competência -, tenho idoneidade e tenho disponibilidade. Tenho as condições para ser presidente do Banco de Fomento”, disse hoje à Lusa Vítor Fernandes.

O nome do ex-administrador do Novo Banco é mencionado em documentos do Ministério Público (MP) referentes à operação Cartão Vermelho, na qual o presidente da Promovalor e do Benfica (com funções suspensas) Luís Filipe Vieira é arguido.

“Eu não estou indiciado de nada, não sou suspeito nem sou arguido”, defendeu Vítor Fernandes à Lusa, referindo-se às menções ao seu nome na operação Cartão Vermelho.

O MP crê que Vítor Fernandes avisou Luís Filipe Vieira de que o seu nome ou o de partes relacionadas não poderia constar dos compradores da dívida da empresa Imosteps, que Vieira pretendia adquirir para se livrar de garantias pessoais.

“Não percebo como é que se pode dizer que há uma relação priviligiada quando a única coisa que eu fiz foi falar com a pessoa que deve dinheiro ao banco”, disse Vítor Fernandes.

“Não tenho nenhuma relação de amizade nem de ódio, é um devedor do banco”, reiterou Vítor Fernandes, que disse ainda que não conhecia o empresário antes de entrar para o Novo Banco, não privou com ele fora do contexto de trabalho, e que faz parte do trabalho de qualquer administrador “tratar dos assuntos dos clientes e dos devedores”.

Vítor Fernandes lembrou ainda que os créditos em causa na operação “já foram objeto de auditoria” por parte da Deloitte, e que “se houvesse alguma coisa errada” teria sido detetada pela auditora.

O ex-administrador do Novo Banco pediu também ao seu antigo empregador que iniciasse uma auditoria aos processos em redor da operação Cartão Vermelho, e que comunicou esse facto ao Banco de Portugal.

“Quando o Banco de Portugal me perguntou se eu tinha alguma coisa a acrescentar relativamente à autorização que me deu [de idoneidade], disse logo que pedi ao Novo Banco uma auditoria aos processos que estão a ser alvo desta discussão toda”, disse à Lusa.

Paralelamente, o Novo Banco decidiu avançar com uma auditoria interna à conduta dos gestores e ex-gestores na sequência da operação Cartão Vermelho, que tem Luís Filipe Vieira como arguido, disse à Lusa fonte oficial da instituição financeira.

Vítor Fernandes já obteve a autorização do Banco de Portugal para assumir funções de presidente do Conselho de Administração (não-executivo) do BPF, mas aguarda autorização da Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública (CRESAP).

O Banco de Portugal (BdP) assegurou hoje que “toda a informação” relativamente a Vítor Fernandes, indicado pelo Governo para a presidência do Banco de Fomento e a quem foram agora apontadas ligações a Luís Filipe Vieira, “será devidamente ponderada”.

O nome de Vítor Fernandes foi indicado pelo ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital Pedro Siza Vieira para presidente do Conselho de Administração do BPF.

“O dr. Vítor Fernandes tem uma carreira inteira na banca”, disse o ministro no parlamento em 10 de fevereiro, acrescentando que “enquanto esteve na administração da CGD era responsável pelas áreas de marketing e de operações e pelo acompanhamento da situação do grupo segurador Fidelidade” e “não participou nas decisões de crédito” que resultaram em perdas para o banco público.

Vítor Fernandes foi ouvido na comissão parlamentar de inquérito ao banco público, em 2019, ocasião em que assegurou nunca ter falado com ninguém do BCP antes de transitar para o banco privado juntamente com Carlos Santos Ferreira e Armando Vara, à data na CGD.

O PAN, o Bloco de Esquerda (BE) e a Iniciativa Liberal vieram entretanto manifestar-se contra a nomeação de Vítor Fernandes para o BPF, tendo em conta a sua ligação ao empresário Luís Filipe Vieira, também presidente do Sport Lisboa e Benfica, com as funções suspensas.

O PSD pediu hoje ao Novo Banco, “com caráter de urgência”, esclarecimentos sobre “todos os processos” em que interveio o antigo administrador Vítor Fernandes, sem nunca se referir à proposta do Governo de o nomear para liderar o BPF.

Luís Filipe Vieira foi um dos detidos na quarta-feira no âmbito da operação Cartão Vermelho, que investiga suspeitas de crimes de abuso de confiança, burla qualificada, falsificação, fraude fiscal e branqueamento de capitais.

Enquanto arguido, foram-lhe aplicadas como medidas de coação a prisão domiciliária até à prestação de uma caução de três milhões de euros, a proibição de sair do país, com a entrega do passaporte, e de contactar com os outros arguidos do processo, à exceção do filho, e ainda, entre outros, com Vítor Fernandes.

(Notícia atualizada às 18h53)