Vendida há exatamente um ano pela Câmara Municipal do Porto à Fundação Sindika Dokolo em hasta pública, por 1,58 milhões de euros, a casa Manoel de Oliveira - que será a sede da fundação para a Europa - está a ser alvo de obras de recuperação, que “vão terminar em meados de março”, disse hoje à Lusa Maria Manuel Guimarães, responsável da fundação no Porto.
A Fundação Sindika Dokolo tem o nome do seu fundador que é o coleccionador de arte e empresário, nascido no antigo Zaire, actual República Democrática do Congo, casado desde 2002 com a filha do presidente de Angola, Isabel dos Santos. Sindika Dokolo detém uma das mais importantes colecções de arte contemporânea africana e
“Após concluído o processo da venda do edifício, a fundação definiu em conjunto com o arquiteto Eduardo Souto Moura [autor do projeto] as obras necessárias para recuperar a casa, que esteve sem ser habitada durante 14 anos e já tinha sido vandalizada”, adiantou Maria Manuel Guimarães.
Segundo a responsável, quer o exterior como o interior do edifício mantêm-se iguais, “porque a fundação entende que faz todo o sentido manter a linha definida pelo arquiteto, prémio Pritzker”, tendo sido também definido, em colaboração com a autarquia, “adequar o edifício para permitir o acesso de cidadãos com mobilidade reduzida”. “É também feita uma adaptação que vai garantir segurança a todas as faixas etárias”, designadamente crianças, sublinhou.
Depois de concluída a empreitada, a casa Manoel de Oliveira será inaugurada “como um local multiusos, no segundo semestre do ano, e a fundação já está a trabalhar na programação”, adiantou Maria Manuel Guimarães.
Segundo a mesma responsável, a exposição inaugural irá “promover a fundação como intercâmbio cultural entre o Porto, Angola, a Europa e outros países”, prevendo-se uma mostra de “esculturas e outras formas de arte africana”. “A fundação no Porto trabalha em sintonia com outras extensões da fundação e toda a estratégia é sempre definida e orientada pelo seu presidente, Sindika Dokolo”, acrescentou.
Sindika Dokolo afirmou em fevereiro do ano passado à Lusa, em Angola, querer participar no “enriquecimento da vida cultural” do Porto, com a compra desta casa do cineasta Manoel de Oliveira e com “vários outros projetos” em agenda para a cidade portuguesa.
Na ocasião, em visita a Luanda, o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, afirmou que, entre outras valências, o edifício deverá receber uma exposição dedicada à arte Tchokwe – povo originário do interior norte de Angola e sul da República Democrática do Congo -, cuja recuperação está a ser levada a cabo pela Fundação Sindika Dokolo.
Várias peças de arte Tchokwe foram levadas de Angola durante a guerra civil entre 1975 e 2002, estando aquela fundação a liderar o processo para as fazer regressar ao país, negociando com colecionadores privados.
A casa Manoel de Oliveira foi idealizada há duas décadas para acolher o espólio do cineasta, mas o acordo entre o realizador e a Câmara do Porto para o uso da casa nunca foi formalizado, o que acabou por condicionar o futuro do imóvel que ficou concluído em 2003, mas nunca teve o uso para que foi pensado.
Depois de ter promovido no Porto, em 2015, a exposição “You Love Me, You Love Me Not”, a Fundação Sindika Dokolo reforçou a sua ligação à cidade com a compra do imóvel Manoel de Oliveira, situado na Foz.
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