
Bilal tem uma pequena loja de eletrónicos à saída do metro de Arroios, em Lisboa. Ali, vende pouco mais que carregadores, capas de telemóveis e colunas. Mas ontem, gostava de ter tido muitos outros produtos para vender, nomeadamente, rádios.
Em dia de apagão, um pequeno objeto esquecido nas memórias da infância de alguns e nunca usado por outros, tornou-se o mais procurado por quem queria saber o que estava a acontecer no mundo. Sem internet e sem televisão, a rádio foi o elo de ligação e o rádio a pilhas um objeto precioso.
No entanto, resta um problema. Numa era maioritariamente digital, os lojistas não estavam preparados para a procura que cresceu rapidamente, e a oferta, não conseguiu responder.
"Vendi todos os rádios que tinha, mas também não eram muitos. Não costumam sair, então também não temos em stock", conta Bilal ao SAPO24.
O que mais vendeu foram powerbanks (carregadores portáteis). Não sabe ao certo quantos foram, mas sabe que foram todos os que estavam carregados. Quanto aos preços, variaram entre os 15€ e os 40€, de acordo com o armazenamento de bateria de cada carregador.
Os dispositivos portáteis são usados para recarregar eletrónicos, como telemóveis ou tablets, sem ser necessário ligá-los a uma tomada. Quando os powerbanks estão carregados, a energia é armazenada numa bateria interna e depois transferida para o eletrónico através de um cabo.
A loja de Bilal permaneceu aberta durante uma hora depois do apagão, mas pouco depois do meio-dia, o proprietário viu-se obrigado a fechá-la por não conseguir trabalhar sem luz.
O mesmo aconteceu a Han (nome fictício), que tem uma loja alguns metros depois, na Avenida Almirante Reis. A loja, onde se encontra os mais variados objetos, também esteve aberta até ao meio-dia, mas depois acabou por fechar. O que Han mais vendeu foram velas, as maiores com o custo de dois euros, pilhas a um euro, e lanternas a cinco euros.
"Os rádios eram muito poucos. Só tínhamos cinco ou seis, e foram logo todos. Eram muito pequenos, e custavam cinco euros".
Nos últimos anos, os rádios a pilhas perderam bastante relevância. Os avanços na tecnologia trouxeram, não só, a rádio por streaming (pela internet), mas também uma queda no uso de pilhas. A maioria dos aparelhos usados atualmente são recarregáveis, o que torna as pilhas menos práticas e sustentáveis.
Os rádios portáteis são ideais em situações de emergência, porque não dependem de eletricidade. Em março deste ano, a União Europeia lançou um apelo para que os cidadãos preparassem um kit de emergência de 72 horas - entre os itens, encontra-se o rádio portátil.
Ainda na mesma avenida, quem aguentou mais tempo foi Hussain-Tasawar, que manteve a sua loja aberta às 19h30.
"Fui logo comprar powerbanks. Trouxe 28 mas só vendi 14", disse o proprietário ao SAPO24. Nunca teve rádios, e por isso, o que mais saiu foram pilhas e lanternas.
"As pessoas queriam pagar com cartão, mas não conseguiam, só podíamos aceitar dinheiro. Algumas até queriam comprar cartões SIM com internet móvel, mas avisámos que não ia funcionar."
Nas grandes lojas de eletrónicos online, como a Worten, MediaMarkt e Amazon ainda estão disponíveis vários modelos de rádios portáteis e a pilhas nos sites. O comércio local, ontem, foi marcado por enchentes de clientes a correr a comprar o pouco que havia disponível.
*Editado por Ana Maria Pimentel
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