A jornalista da TVI/CNN Portugal foi hoje ouvida na comissão parlamentar de inquérito ao caso das duas crianças com atrofia muscular espinal que receberam um dos medicamentos mais caros do mundo, em 2020.

“Há factualidade que demonstra que Belém não agiu da mesma forma com os outros casos que lhe foram reportados sobre esta mesma doença. Em nenhum outro caso o senhor Presidente da República mandatou uma assessora a falar com um hospital, nenhum”, afirmou.

Sandra Felgueiras indicou que foram enviadas à sua equipa "todos os outros casos sobre a mesma doença, em que o senhor Presidente da República também tinha sido alvo de pedido de ajuda, e eram todos diferentes".

Nesta audição de duas horas, a jornalista da TVI/CNN Portugal explicou que, durante a sua investigação, teve de recorrer à Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA), uma vez que a Presidência da República não lhe cedeu a troca de correspondência relativa a este caso, incluindo as comunicações entre Marcelo Rebelo de Sousa e o filho, que lhe deu a conhecer o caso e pediu a sua ajuda.

Sandra Felgueiras disse que aquilo que mais a impressionou "foram os silêncios, tentativas de omissão, porque só esconde quem tem um problema para esconder".

"Se o senhor Presidente da República me tivesse respondido tudo o que havia para responder no dia 23 de outubro de 2023, às tantas não estávamos aqui. Mas o senhor Presidente da República, que tem tanto tentado dizer que agiu como em todos os outros casos, não só já demonstrei que não agiu, como não quis que eu visse isto, não quis que o país visse isso, não quer que se fale neste assunto", acusou.

A jornalista da TVI/CNN Portugal disse também não perceber "porque houve tanta resistência por parte dos órgãos de soberania envolvidos neste caso a divulgar toda a informação que lhes foi solicitada".

Sandra Felgueiras disse também que abordou o Presidente da República em 23 de outubro de 2023, sem dizer qual o tema e, no mesmo dia, outro jornalista da sua equipa enviou um email com questões ao Hospital Santa Maria. Marcelo Rebelo de Sousa não respondeu à sua mensagem, mas ligou-lhe, e ela não atendeu, tendo ligado depois para o seu colega a dizer que sabia que o caso estava a ser investigado pela TVI.

“É algo que eu hoje ainda me intrigo, porque realmente a única entidade até aquele momento contactada tinha sido o Hospital Santa Maria”, afirmou.

A linha cronológica do caso, segundo Sandra Felgueiras, iniciou-se no Brasil, quando a mãe das crianças percebeu que Portugal “abriu as portas” para o tratamento ser gratuito, e pediu ajuda a Juliana Drummond, que passou para o marido e filho do Presidente da República, Nuno Rebelo de Sousa, que fez chegar o caso ao pai, Marcelo Rebelo de Sousa, que, por sua vez, encaminhou para o Governo, antes de chegar à média especialista que tratou as crianças.

A jornalista que divulgou o caso das gémeas em novembro de 2023 explicou ainda que a sua investigação “nunca foi sobre nenhuma mãe, nem sobre nenhuma gémeas, foi sempre e apenas sobre a existência ou não de interferência política no acesso ao SNS, fosse por quem fosse”.

Sandra Felgueiras disse ainda ter sido alvo de ameaças anónimas, mas que nenhum dos envolvidos a tentou dissuadir a não divulgar informação publicamente.

Esta é a penúltima audição da comissão parlamentar de inquérito ao caso das gémeas luso-brasileiras, que iniciou trabalhos em maio do ano passado.

A última pessoa a ser ouvida será o antigo secretário de Estado Adjunto e da Saúde António Lacerda Sales, um dos arguidos no processo, sendo a segunda vez que depõe nesta comissão.