Na intervenção que marcou o arranque da XI Convenção Nacional do BE, a coordenadora do partido reforçou a importância do mesmo na atual legislatura, defendendo que "a política mudou porque o PS não teve maioria absoluta e porque cresceu a força da esquerda".
"Agora, o primeiro-ministro congratula-se com o aumento do salário mínimo e felicita-se com o descongelamento e aumentos extraordinários das pensões. Ainda bem. Ainda bem que houve força à esquerda para contrariar as medidas do Programa do PS que pretendiam precisamente o contrário", disse Catarina Martins, defendendo ainda que uma eventual maioria absoluta do PS nas próximas eleições legislativas representará um retrocesso para o país.
Antes de apontar o dedo ao PS, a coordenadora do Bloco de Esquerda anunciou a "morte" do voto útil e lembrou a direita que o partido não esquece o que foi feito em anos anteriores, dando como exemplo medidas aprovadas por Assunção Cristas enquanto ministra da Agricultura ou Maria Luís Albuquerque enquanto Ministra das Finanças do governo de Passos Coelho. "Eles andam todos por aí e é bom que saibam que não nos esquecemos do que fizeram", disse.
Todavia, olhando para o futuro, anuncia: "aquele voto com medo da direita e que preferia uma solução má a uma solução péssima, este voto útil morreu. Paz à sua alma", disse, acrescentando que os acordos recentes provaram que "a histórica inclinação do PS para se entender à direita" não era resultado de uma indisponibilidade da esquerda.
Assim, Catarina Martins exige mais do atual governo, nomeadamente ao nível da legislação laboral ou da aprovação da lei de bases da saúde.
O caso Robles
Catarina Martins não passou ao lado, durante a sua intervenção, do Caso Robles, que levou à demissão do vereador de Lisboa — a demissão surgiu na sequência de uma notícia avançada pelo Jornal Económico segundo a qual, em 2014, o autarca adquiriu um prédio em Alfama por 347 mil euros, que foi reabilitado e posto à venda em 2017 avaliado em 5,7 milhões de euros.
A coordenadora do partido disse do que BE aprendeu muito com os seus erros, mas salientou que nem por isso o partido deixou de se bater contra a especulação imobiliária — uma luta que, garante, vai continuar.
"O Bloco mudou porque cresceu. Cresceu com os novos militantes que, em todo o país, chegaram ao Bloco durante estes anos, trazendo novas perspetivas, novos combates, novas energias para pensar e mexer o Bloco", observou. Dando as boas vindas aqueles que são delegados à Convenção pela primeira vez, a coordenadora do BE adiantou que estes vão encontrar "força, amizade, camaradagem e esforço", mas "também vão encontrar erros". "Recentemente, a decisão de um nosso vereador da venda de um prédio da família, em Lisboa, levou à sua demissão, mas ficam a saber como é que no Bloco corrigimos os erros: o Bloco não abriu parêntesis nem mudou de assunto", admitiu, referindo-se à polémica que envolveu Ricardo Robles.
Catarina Martins lembrou que "ninguém viu este Bloco calado, nem por um dia, sobre o problema da habitação nas grandes cidades". "E se há uma coisa de que podem ter a certeza, é que reforçaremos a luta contra a especulação, contra os fundos imobiliários, pela construção de habitação social, pela limitação da habitação turística de curto prazo, pelo acesso a aluguer de longa duração, pela defesa dos idosos, e de todos quantos são ameaçados de despejo pela lei Cristas, e pela instalação de jovens na cidade", elencou.
Ainda no discurso de abertura, a coordenadora do BE sublinhou que nestes anos o BE "aprendeu muito", com "as suas lutas, com os seus compromissos, com os seus diálogos e com os seus erros".
Catarina Martins propõe Marisa Matias como cabeça de lista às europeias
Nesta intervenção inicial, Catarina Martins confirmou ainda a eurodeputada Marisa Matias como cabeça de lista do Bloco às eleições europeias do próximo ano.
"A proposta que farei à próxima Mesa Nacional, se assim for o sentido da decisão desta Convenção, é esta: que seja a Marisa Matias a nossa primeira voz nas eleições europeias de maio de 2019", anunciou Catarina Martins, perante uma longa ovação, de pé, dos delegados.
Responder "à altura das responsabilidades que o Bloco tem hoje", na opinião da líder bloquista, "não exige menos" do que "ter a melhor candidata no Parlamento Europeu", sendo Marisa Matias não só "a melhor candidata que o Bloco pode ter, mas a melhor candidata que o país pode ter".
As eleições europeias de 2019 estão marcadas, em Portugal, para dia 26 de maio do próximo ano.
Delegados homenageiam João Semedo
Cerca de 700 pessoas reunidas na XI Convenção do BE, em Lisboa, homenagearam hoje o antigo coordenador bloquista João Semedo e outras dezenas de militantes, falecidos nos últimos dois anos, desde a última reunião magna.
Semedo mereceu a salva de palmas mais longa e dupla entre o rol de personalidades que foram recordadas num vídeo transmitido no ecrã gigante do pavilhão do Complexo Desportivo Municipal do Casal Vistoso, em Lisboa.
O médico e ex-militante comunista morreu em 17 de julho, aos 67 anos, vítima de cancro. Aderiu ao BE em 2007 e foi deputado, tendo dividido a liderança do partido entre 2012 e 2014 com a atual coordenadora, Catarina Martins.
Helena Lopes da Silva, Alípio de Freitas, António Loja Neves António Alves Vieira, Ângelo Teixeira, João Paulo Tomé, Domingos Terramoto, Miguel Rocha Pereira, Luís Cordeiro, Clara Alexandra foram outros dos lembrados no pequeno filme cuja epígrafe foi: "não esquecemos quem também fez o caminho".
A XI Convenção bloquista, que decorre até domingo no Pavilhão do Casal Vistoso, tem como lema “Agora a Esquerda”.
Comentários