"Não nos perguntem por isso se queremos fazer parte do próximo governo que ainda não foi eleito, porque temos a certeza de que alcançaremos a força para ser parte de um governo quando o povo quiser", sublinhou Catarina Martins já na reta final da sua intervenção.
A pergunta que a coordenadora do BE reconduzida disse preferir é "se é possível agora um governo que cumpra a saúde, a escola, as pensões, o emprego". "E a nossa resposta é que sim, que é difícil mas que é necessário e que trabalhamos para isso", assegurou.
Antecipando o próximo ciclo político, nas eleições europeias, nas regionais da Madeira, nas legislativas e todos os dias, o partido promete que vai "à luta". "Não é no gabinete que se decide o futuro. É o povo que o constrói e tudo está em aberto", disse.
Antes, a coordenadora do partido, assumiu que apesar dos "momentos difíceis", só houve um "em que a legislatura esteve em risco", que foi quando, em janeiro de 2017, o Governo tentou reduzir a Taxa Social Única (TSU) dos empregadores.
TSU, o teste da legislatura
"Tivemos até momentos difíceis nesta legislatura. Houve negociações prejudicadas por interesses económicos ilegítimos, houve desacordos sobre acordos, mas só houve um momento em que a legislatura esteve em risco: quando o Governo decidiu compensar os patrões pela subida do salário mínimo com uma redução da TSU, a contribuição da empresa para a segurança social", admitiu.
Segundo a coordenadora do BE, o acordo assinado em 2015 "com o Bloco impedia taxativamente essa medida, que prejudica a segurança social e reduz as pensões futuras".
"E nós levamos muito a sério a nossa palavra. Queríamos e conseguimos o aumento do salário mínimo, mas não damos com uma mão para tirar com outra. É por isso mesmo que gostamos dos contratos assinados, e ainda bem que o Governo aceitou uma solução alternativa, manteve a TSU e aumentou o salário mínimo nacional", assegurou.
Em janeiro de 2017, PSD, BE, PCP e PEV revogaram, no parlamento, o decreto do Governo que previa uma descida temporária da TSU dos empregadores em 1,25 pontos percentuais como compensação pelo aumento do salário mínimo nacional para os 557 euros em 2017.
A omissão de Costa
Durante a intervenção, a coordenadora do BE saudou a convergência de todos os intervenientes de esquerda que permitiram o caminho contra a austeridade, lembrando que o líder socialista, António Costa, não referiu os seus parceiros no congresso do PS.
"O facto é que, desde há três anos, virámos uma página e toda a gente vê o resultado: a reposição de salários e pensões ajudou a economia e o crescimento do emprego é o motor da consolidação económica. Parámos a sangria", disse Catarina Martins.
Sobre esta viragem, "o secretário-geral do PS, António Costa, escolheu concluir o congresso do seu partido sem se referir ao facto de que o governo só vive porque tem um acordo com os partidos à esquerda", criticou.
"Eu prefiro a cordialidade de sublinhar que esse caminho contra a austeridade foi possível porque houve uma convergência que nunca tinha antes existido, que essa convergência foi um sucesso para Portugal, saúdo com amizade toda a gente que trabalhou nesta convergência, o governo, o PS, o PCP, os Verdes, e acrescento que não nos arrependemos de nada do que conseguimos", enalteceu.
Momentos antes, no discurso, Catarina Martins já tinha deixado outro recado implícito para o primeiro-ministro.
"Nós lutamos para a maioria, não nos esquecemos de ninguém, aqui está o nosso lugar, é todo o Portugal da gente trabalhadora. Essa enorme maioria ficou com a certeza de que, para o Bloco, palavra dada é palavra cumprida", garantiu.
Mas não foi só Costa que esteve na mira da coordenadora do BE, também a direita não foi esquecida, tendo uma das maiores vaias sido ouvida quando Catarina Martins falou da líder do CDS-PP, Assunção Cristas.
"O diabo não apareceu, a Comissão Europeia teve que recuar nas sanções, mas não nos esquecemos de quem as tentou impor. Na direita, é o salve-se quem puder", destacou.
Sobre o antigo Presidente da República, Cavaco Silva, a líder bloquista disse que este "anda pelo país a pedir desculpas por ter engolido o sapo de um governo que abomina", enquanto Assunção Cristas "se entretém" a explicar como salvou os inquilinos ao estimular os despejos ou como salvou a floresta ao promover os eucaliptos.
"Passos Coelho espera o dia de nevoeiro em que desembarcará embuçado no Terreiro do Paço - todos os chefes da direita estão cheios de saudades de si próprios, vivem no passado e só pensam em voltar ao passado em que abusaram do poder para empobrecer Portugal", criticou ainda.
Reiterando que o BE tem "orgulho em que esta convergência e negociação permanente com o Governo tenha garantido a devolução de salários e pensões e a redução de impostos", Catarina Martins recordou que "o governo das direitas se vangloriava do abismo económico".
"Por isso, até agradecemos que os líderes da direita venham dizer que o Bloco cuida de clientelas ou de nichos. Por favor, continuem e insistam. Eles lá sabem com que linhas se cosem e a que política a que estão habituados. Pois habituem-se agora ao Bloco", desafiou.
Na opinião de Catarina Martins, foi conseguido "o impossível em muitas circunstâncias diferentes", tendo o partido confirmado "que persistência, seriedade e razão podem e devem vencer".
"Foi muito trabalho, fizemos o nosso trabalho", sustentou.
O plano do bloco?
Parte do discurso de quase meia hora de encerramento de Catarina Martins foi dedicado a elencar as cinco "grandes reformas restruturais de que Portugal precisa" depois dos "passos importantes" dados nestes três anos de legislatura.
"A primeira grande reforma estrutural é restabelecer o consenso constitucional sobre o serviço nacional de saúde, com uma lei de bases que devia ser aprovada em 2019", pediu.
A segunda grande reforma que se impõe, para a líder do BE, "é a da demografia". Catarina Martins aproveitou para criticar a "os arautos da direita" por se queixarem da baixa natalidade depois de terem imposto condições que dificultavam que as mulheres tivessem filhos, sendo a reforma que é precisa "exatamente o contrário" do que a direita fez.
"A terceira reforma estrutural a que hoje me quero referir é a do combate às alterações climáticas", enumerou ainda.
Já a quarta linha que Catarina Martins apontou foi a do sistema de crédito e dos bens comuns, recordando que "depois de trinta anos de privatizações da energia e da banca", a conta das perdas "é demasiada" e por isso é preciso "o seu controlo público".
Por fim, mas com grande destaque, a líder bloquista defendeu um "salto de qualidade na democracia", considerando que a entidade da transparência, proposta pelo BE e que está em debate na comissão, "não pode passar desta legislatura".
"Disse há dois anos, no fim da convenção anterior, que toda a política é luta pelo poder e pelo Governo. Aqui está, esta é a nossa luta pelo governo", sintetizou.
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