“Christine Lagarde [presidente do BCE] diz que aumenta os juros [taxas diretoras com impacto no crédito à habitação], que vai continuar a aumentar os juros e que sabe que traz prejuízo aos trabalhadores da Europa e sabe que Portugal vai sofrer particularmente. Neste momento, onde está o primeiro-ministro de peito feito que fala de estabilidade e gosta de mostrar o seu poder?”, notou Catarina Martins, que discursava num almoço com militantes do Bloco de Esquerda em Coimbra.
Fazendo uma alusão à discordância entre primeiro-ministro e Presidente da República sobre a manutenção do ministro das Infraestruturas João Galamba, Catarina Martins considerou que, “nessa luta de palácios entre São Bento e Belém, nem São Bento nem Belém tiveram uma palavra a dizer sobre a subida de juros e sobre a subida das prestações da habitação”.
“Onde está o peito feito do primeiro-ministro para defender o povo português e dizer ao BCE que não pode continuar a subir assim os juros? Ou aos grandes grupos económicos que não podem continuar assim a comer a nossa economia com os lucros? Onde está esse primeiro-ministro que ouvi os comentadores dizerem que tinha mostrado que tinha poder? Onde está o poder que é necessário, que é poder de defender de quem vive do trabalho?”, vincou Catarina Martins, acusando também Marcelo Rebelo de Sousa de ficar calado sobre a política de juros do BCE.
Catarina Martins admitiu igualmente a sua incredulidade quando ouviu “um ministro dar uma conferência de imprensa para descrever pormenorizadamente um desacato que houve no seu ministério [referindo-se ao ministro João Galamba e denúncias de um conflito físico envolvendo o seu ex-adjunto Frederico Pinheiro]”.
“E eis se não quando vem o senhor primeiro-ministro — e julgo que isto é histórico -, à porta da residência oficial, com ar grave, para falar de um incidente e de uma bicicleta que voou por uma janela. Confesso que sei que há muitos problemas, mas não sabia que o que precisava da nossa tenção naquele momento era um desacato no ministério, que é um caso de polícia e não caso para uma comunicação ao país”, comentou Catarina Martins.
Para a coordenadora do Bloco de Esquerda, nos últimos dias, “falou-se de tudo menos do que interessava”.
“Se tudo isto é caricato, também é grave. É grave porque, se sairmos dos palácios e abordarmos as casas das pessoas onde vivem, percebemos que a luta de palácios tem muito pouca piada e diz pouco a quem não consegue pagar a prestação da casa, a quem não consegue arrendar uma casa, a quem não sabe como há de chegar ao fim do mês”, salientou.
No final da sua intervenção de pouco mais de dez minutos, Catarina Martins realçou que “não há nenhuma luta de palácios” que faça o partido esquecer o fundamental, que “o povo merece muito mais respeito do que tem tido”.
Comentários