“Acho que é claramente afirmar o CDS como um partido de direita, sem vergonha de dizer que é de direita, sem complexos, porque a direita não é nada que nos envergonhe”, disse o candidato em entrevista à agência Lusa.
Abel Matos Santos é um dos cinco candidatos anunciados à sucessão de Assunção Cristas.
Na ótica do porta-voz da Tendência Esperança em Movimento (TEM), nos últimos anos a “direita encolheu-se, passou a ter vergonha, foi-se calando”, e portanto “perdeu espaço e deixou de ter voz, deixou de ter representatividade”.
“E isso é a pior coisa que se pode fazer para quem está na vida política e para um partido que se quer afirmar de governo, e que quer ter importância na sociedade”, apontou Abel Matos Santos.
Para poder crescer, o CDS tem então de “recuperar esse espaço que deixou vazio, que deixou vago para outras forças políticas que entretanto surgiram, tem que recuperar o espaço da direita e a partir da direita tem de conquistar o centro”, advogou.
“E, acima de tudo, tem que ocupar o espaço da afirmação clara das ideias, sem vergonha, sem complexos, sem tabus, afirmando aquilo que pensa, opondo-se àquilo que discorda e mostrando claramente aos portugueses quais são as ideias que tem assentes nessas ideias de direita e lutar por elas”, assinalou o psicólogo clínico de profissão.
Questionado sobre uma possível aliança com o Chega, Abel Matos Santos começou por referir que identifica naquele partido eleitorado do CDS, mas também “muitos abstencionistas”.
O resultado alcançado pelo partido fundado por André Ventura deve-se ao facto de apresentar “uma linguagem mais clara” e de ter “o chamado efeito da novidade”, justificou o centrista.
Apontando que não teme “nada a concorrência”, o candidato à liderança sublinhou que “o Chega não é um adversário do CDS, é naturalmente um aliado”, e também “não é um problema”.
“Mesmo que nos chamem as mesmas coisas que chamam ao Chega, eu acho que isso não nos deve incomodar nada, porque nós temos que assentar o nosso trabalho político em cima da verdade, em cima da razão”, vincou, ressalvando que “o CDS tem que se preocupar consigo próprio e não com o Chega”.
Apesar de considerar que a existência de mais partidos à direita representados no parlamento “tem que ser um estímulo para o CDS”, o porta-voz da TEM não vê que seja possível que o CDS “possa ter pontos de contacto” com a Iniciativa Liberal, porque não considera que a força política liderada por João Cotrim Figueiredo “seja um partido de direita”.
“Com o PSD, com o Chega, não vejo razão para que não possa haver no futuro uma coligação”, admitiu Abel Matos Santos.
Para o candidato, “o PSD é um partido diferente, é um partido mais aberto, é um partido de centro, é um partido socialista, é um partido social-democrata e, portanto, é um partido que tem ali muitas franjas dentro do seu espaço identitário, do seu espaço político”.
Ainda assim, o antigo vice-presidente da concelhia de Lisboa assinalou que “o CDS não pode continuar a ser muleta de outros partidos”.
Abel Matos Santos vê mais benefícios em próximo presidente não ser deputado
O candidato à presidência do CDS-PP Abel Matos Santos considera que é mais benéfico para o partido que o próximo líder não seja atualmente deputado e aponta críticas a Assunção Cristas por ter desnorteado o partido.
“Entendi que o caminho que Assunção Cristas decidiu escolher de colocar o CDS ao centro, e tornar o CDS um partido sem identidade, ir buscar outro eleitorado, iria ser desastroso para o partido e que iria, como eu costumo dizer, descafeinar o partido”, disse o candidato.
Para o porta-voz da Tendência Esperança em Movimento (TEM), nos últimos anos o CDS “perdeu identidade, deixou de ser um partido de causas, de valores, de princípios, e passou a ser um partido que começou a navegar à bolina, a navegar ao sabor do vento, consoante a agenda política do dia”, tendo sofrido também de “má gestão das causas essenciais”.
Face a isto, os eleitores deixaram “de perceber o que era o partido, porque se era para ser um PSD pequenino já existe o PSD maior, se é para ser um partido mais à esquerda, existe o PS ou mesmo o Bloco de Esquerda”, sinalizou, notando que “as pessoas deixaram de se identificar com o partido e, portanto, foram procurar outras coisas”.
Um dos exemplos apontados pelo candidato foi a crise relativa aos professores, situação que considera ter sido “um marco importante que levou a uma mudança no paradigma do CDS e da forma como os portugueses passaram a olhar para o partido”.
Na ótica de Abel Matos Santos, o aparecimento de novos partidos à direita prende-se “com o facto de o CDS se ter deixado identificar com as suas causas sempre, com a defesa da vida, o mundo rural, as questões económicas do liberalismo económico mas com responsabilidade social, o deixar de falar com convicção e com verdade sobre os assuntos para adotar uma postura mais politicamente correta”.
O que importa decidir agora, continuou, é manter o partido no mesmo caminho, ou fazer “uma rutura com essa forma de fazer política” e apostar numa nova forma, “com novos intervenientes, resgatando o partido da situação em que está, e restaurando aquilo que são os seus valores de sempre”.
Abel Matos Santos criticou também o funcionamento interno do CDS e ainda “a forma desastrosa e atabalhoada como se conduziu a questão da escolha dos candidatos a deputados pelo CDS, ao arrepio das bases, ao arrepio das concelhias das distritais, em plena campanha eleitoral das europeias”.
“Nós não podemos ter um partido onde os órgãos não funcionam, onde a comissão política está há meses sem se reunir, onde os conselhos nacionais são marcados para uma quinta-feira à noite em Lisboa para que ninguém possa vir, onde os conselhos de jurisdição e fiscalização não funcionam, onde as contas não são apresentadas aos conselhos nacionais, que são quem tem que as aprovar”, advogou, apontando que o CDS atravessa uma “situação calamitosa em termos financeiros”.
O porta-voz da TEM advogou igualmente que “o próximo presidente partido não deve ser deputado”, uma vez que “há uma enorme vantagem em ser alguém que está fora do parlamento, para que possa percorrer o país, para que possa ir a todo o lado, para que possa tentar recuperar o CDS no contacto diário com as populações”.
“Se estiver fechado em São Bento vai ter muita dificuldade em fazê-lo e, portanto, é muito importante que quem ganhe possa estar fora de São Bento e possa estar no terreno, e que os deputados que foram eleitos pelo CDS possam colaborar e ser leais à direção que for eleita a partir do dia 26”, vincou.
Sobre o congresso, Abel Matos Santos não descarta um eventual acordo com algum dos adversários depois da votação das moções.
“Eu acho que todos nós enfim admitimos confluências, […] isso é natural no congresso”, afirmou, em entrevista à Lusa.
Apesar de salientar que não vai desistir da sua candidatura e que vai “até ao fim, até ao congresso”, o candidato apontou que vai a votos, “a não ser que alguma coisa surja de extraordinária”.
Apesar disso, o candidato defendeu que “ninguém poderá fechar portas a entendimentos e à procura de uma solução que seja a melhor para o partido” e que “nenhum dos candidatos pode dizer que não quer ouvir ninguém, que no dia do congresso não vai querer ouvir nem falar com ninguém”.
“É claro que quem ganhar no Congresso, se não for eu a ganhá-lo, contará com o meu apoio dentro das possibilidades que eu possa ter e dentro do apoio que a pessoa que ganhar queira ter de mim”, admitiu.
Sobre os adversários, Abel Matos Santos salientou que se opõe “frontalmente” ao antigo secretário-geral João Almeida porque “do ponto de vista político está absolutamente nas antípodas” daquilo que defende para o futuro do CDS.
“Ele representa, de facto, tudo aquilo que nos trouxe até aqui”, declarou.
Sobre os restantes três candidatos, o psicólogo clínico observou que “todos eles têm uma visão mais aproximada da realidade”, nomeadamente “ao nível do funcionamento do partido e da relação do partido com a sociedade”.
“Há diferenças pontuais sobre determinado tipo de situações e de assuntos que não são enormes, porque senão não estaríamos no mesmo partido, mas estarei próximo de qualquer um. Estaria mais próximo dos outros candidatos e muito mais distante do João Almeida”, concluiu.
Abel Matos Santos contra apoio a eventual recandidatura de Marcelo
Abel Matos Santos defende que o partido não deve apoiar uma eventual recandidatura presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa, alegando que “não representou de forma adequada” os anseios dos centristas.
“Eu entendo que não, entendo que Marcelo Rebelo de Sousa não deve ter o apoio do partido. Acho que ele não representou da forma adequada aquilo que são os anseios de um partido como o CDS”, afirmou Abel Matos Santos em entrevista à agência Lusa.
Para o candidato, o atual chefe de Estado tomou decisões “ao longo destes anos que são até contrárias àquilo que é a matriz identitária do partido”.
Nas últimas eleições presidenciais, em 2016, o CDS apoiou o atual Presidente da República.
“Não entendo que deva haver um apoio explícito ou declarado ao professor Marcelo Rebelo de Sousa e portanto, não havendo mais nenhum candidato, se eu for presidente do partido aquilo que defenderei junto do Conselho Nacional é que o partido dê de liberdade de voto aos seus militantes e os seus militantes votarão em quem entenderem, mas não tomar posição a favor dessa recandidatura”, vincou Abel Matos Santos.
Na ótica do candidato à presidência do CDS, que encabeça a tendência Esperança em Movimento, o partido “neste momento tem problemas muito mais importantes para resolver, que passam pela sua própria sobrevivência”.
Por isso, tem dúvidas se o CDS deverá apoiar, de todo, algum candidato, independentemente de quem seja.
“Tenho dúvidas sobre se devemos ou não promover uma candidatura do partido” em 2021, sublinhou, notando que a apresentação de uma candidatura própria é algo que deve ser analisado “a seu tempo” e “mais para a frente”.
“Acho que o CDS até pode nem apoiar ninguém, depende de quem aparecer”, frisou o candidato à sucessão da atual líder, Assunção Cristas.
Em janeiro do ano passado, no arranque das jornadas parlamentares que decorreram em Braga, Cristas admitiu apoiar uma recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa nas próximas eleições presidenciais, se este decidisse voltar a concorrer, justificando que ,“obviamente, quem apoiou à primeira, também apoiará à segunda”.
Os candidatos à liderança do CDS são Abel Matos Santos, João Almeida, Filipe Lobo d'Ávila, Francisco Rodrigues dos Santos e Carlos Meira.
O 28.º congresso nacional, marcado para 25 e 26 de janeiro em Aveiro, vai eleger o sucessor de Assunção Cristas na liderança dos centristas, que decidiu deixar o cargo na sequência dos maus resultados nas legislativas de outubro de 2019 – 4,2% e cinco deputados.
Os candidatos à liderança do CDS são Abel Matos Santos, João Almeida, Filipe Lobo d’Ávila, Francisco Rodrigues dos Santos e Carlos Meira.
O 28.º congresso nacional, marcado para 25 e 26 de janeiro em Aveiro, vai eleger o sucessor de Assunção Cristas na liderança dos centristas, que decidiu deixar o cargo na sequência dos maus resultados nas legislativas de outubro de 2019 — 4,2% e cinco deputados.
* Francisca Matos e Nuno Simas (texto), Tiago Petinga (fotos), da agência Lusa
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