O comício “Uma Praça para a Europa” nasceu de um apelo público lançado pelo jornalista e escritor Michele Serra nas páginas do diário La Repubblica, que propôs um grande encontro apartidário para reafirmar os valores fundadores da União Europeia (UE), a democracia e a paz, convidando cidadãos, governantes locais, sindicatos e movimentos cívicos a unirem-se sob a bandeira azul com as estrelas europeias.

Assim, milhares de cidadãos reuniram-se na Piazza del Popolo, em Roma, com bandeiras europeias nas mãos, numa manifestação que contou com a presença de vários presidentes de câmara italianos e do presidente da câmara da cidade espanhola de Barcelona, Jaume Collboni, que aceitou o convite do seu homólogo de Roma, Roberto Gualtieri.

“Somos 50.000 pessoas reais. Foi uma manifestação de paz e de democracia. Obrigado a todos e a cada um de vós. Somos cidadãos europeus”, concluiu Serra na manifestação.

Collboni foi convidado a subir ao palco para intervir e garantiu: “Nós, autarcas, estamos prontos a fazer a nossa parte, a apoiar a Ucrânia, a enfrentar os desafios da economia. A Europa não é uma burocracia abstrata”.

O presidente da Câmara de Barcelona deixou um apelo: “Cidadãos da Europa, unamo-nos!”.

A manifestação contou com a presença de alguns líderes políticos, como a secretária do maior partido da oposição italiano, o Partido Democrático (PD), Elly Schlein, ou o líder do partido Ação, Carlo Calenda, e o secretário da Esquerda italiana, Nicola Fratoianni, bem como membros da Italia Viva e da +Europa, mas não contou com a presença de nenhum partido da maioria de direita.

Os apoios vieram principalmente das forças da oposição, com exceção do líder do Movimento 5 Estrelas (M5S), Giuseppe Conte, que criticou o evento pela sua alegada ambiguidade sobre a questão do rearmamento.

Pela primeira vez desde há muito tempo, as três grandes confederações sindicais – CGIL, CISL e UIL – também apoiaram a iniciativa.

Na praça, ouviram-se críticas transversais sobre os últimos temas da atualidade, como o rearmamento europeu, e o próprio Serra já afirmou que vão surgir diferentes visões sobre a defesa comum europeia: “Uns vão expressar uma posição pacifista com símbolos de paz, enquanto outros vão reiterar o seu apoio à Ucrânia com as cores da sua bandeira”.

“Somos muitos. Somos muitos porque somos um povo, uma palavra que nos últimos anos foi retirada da democracia, apesar de ser a mais democrática das palavras”, disse Serra no palco da Praça do Povo.

“A Europa não é um conceito abstrato. É a salvação. Lembremo-nos disso quando rejeitamos os migrantes. E lembremo-nos disso quando pensamos que a resistência dos ucranianos é apenas um incómodo que nos impede de descansar em paz”, acrescentou.

Antonio Scurati, autor dos livros mais vendidos sobre o ditador Benito Mussolini, afirmou: “Rejeitar a guerra não significa sentirmo-nos indefesos. Não somos pessoas que arrasam cidades. Não massacramos civis nem deportamos crianças para as utilizar como resgate. […] Passei anos a fazer reportagens sobre o fascismo e as guerras, o que me ensinou que lutar é diferente de guerrear, ser contra a guerra não significa deixar de lutar”.

Noutra praça de Roma, a praça Barberini, o partido Poder ao Povo e outros movimentos ligados à extrema-esquerda manifestaram-se “contra a prática belicista e europeísta pretendida por Michele Serra” e queimaram bandeiras europeias.